Concílio Vaticano II - 50 Anos

Uma História a descobrir

Documentos do Concílio Vaticano II (Declarações)

DECLARAÇÃO DIGNITATIS HUMANAE SOBRE A LIBERDADE RELIGIOSA


A unidade religiosa e o respeito pelas diferenças

Ao longo dos últimos quatro meses, apresentamos nesta secção as quatro constituições dogmáticas do Concílio Vaticano II. Elas são como que uma árvore, para fazer memória às palavras de D. Manuel de Almeida Trindade, bispo emérito de Aveiro, sobre o Concílio: «o tronco é a Igreja na sua constituição essencial: luz das gentes (Lumen Gentium). As raízes são a Sagrada Escritura (fonte constitutiva) e as Tradições (fonte interpretativa): Dei Verbum. A seiva é a Oração (de modo particular a Liturgia) que mantém vivo o tronco: Sacrosanctum Concilium. A casca é o contacto da Igreja com o mundo, do qual ela deve constituir a Alegria e a Esperança (Gaudium et Spes).»

Na presente edição entramos num novo espaço, as declarações e os decretos, que abordam assuntos importantes, mas não são essenciais. São como que ramificações das constituições. Vamos iniciar conhecendo as declarações sobre a liberdade religiosa (Dignitatis Humanae) e sobre o diálogo inter-religioso (Nostra Aetate), duas das três constituições. No mês de Julho analisaremos a terceira, sobre a educação cristã (Gravissimun Educationis).

A Dignitatis Humanae (DH) foi um dos textos mais discutidos e alterados do Concílio. Isso deve-se ao delicado tema que aborda, mas principalmente à grande transformação de mentalidade que trouxe. Ela contribuiu de forma decisiva para a mudança de atitude e superação de uma visão tradicional do magistério relativamente às outras tradições religiosas, passando a ver-se o lado positivo das religiões não cristãs. Representa a revisão da teoria de exclusividade da verdade que serviu para justificar séculos de intolerância. Os princípios expostos neste documento constituem um pressuposto essencial e estruturante para a dinâmica ecuménica e inter-religiosa concretizada pela Igreja nos anos posteriores.

O primeiro capítulo da constituição trata dos aspectos gerais da liberdade religiosa. Logo no segundo parágrafo afirma: «o Concílio declara que a pessoa humana tem direito à liberdade religiosa». Cada um tem o direito de procurar a verdade em matéria religiosa de modo a formar juízos de consciência rectos e verdadeiros. Nenhum indivíduo ou comunidade religiosa deve ser coagido por qualquer pessoa ou grupo. Em muitos países vemos estes direitos desrespeitados, quer seja por parte dos cristãos, quer por parte de outras religiões. O documento chama a atenção para o papel do governo civil na garantia destes direitos. Ele deve garantir e promover a liberdade religiosa, que está também associada à responsabilidade social, segundo a DH 8.

No segundo capítulo, a temática da liberdade religiosa é abordada à luz da revelação. Aí está expresso o princípio teológico de que a resposta à revelação é sempre um acto livre e pessoal. A fé é esta resposta e por isso pode ter muitas variantes. Enfatiza, porém, que a Igreja Católica segue o caminho de Cristo na promoção da paz e da liberdade e que os cristãos devem dar exemplo de respeito pela liberdade religiosa.

Assim como as constituições analisadas mostram uma grande abertura e diálogo da Igreja com o mundo moderno, aqui vemos a abertura ao diálogo com as outras religiões, que fica ainda mais claro nos decretos Orientalium Ecclesiarum e Unitatis Redintegratio, sobre o ecumenismo (que veremos em Dezembro), e na Nostrae Aetate, sobre a relação com as religiões não cristãs. Este é o menor dos documento do Vaticano II, com apenas cinco números, e foi aprovado com 1763 votos a favor, 250 contra e 10 nulos.

A Nostrae Aetate (NA) inicia com a reflexão de que em todos os povos e em todos os tempos há uma busca da Divindade Suprema, o Absoluto, e todas as religiões têm algo em comum, pois buscam respostas para questões existenciais da condição humana: Que é o homem? Qual é o sentido e o fim da vida? Qual é o caminho para chegar à felicidade? Etc.

Depois segue com uma breve descrição do hinduísmo (NA 2), do budismo (NA 2), do islamismo (NA 3) e do judaísmo (NA 4). A nova relação com os judeus foi decisiva para a origem da presente declaração. O teólogo Faustino Teixeira afirma que o encontro de João XXIII com Jules Isaac, historiador judeu, em Junho de 1960, foi um momento importante na génese do documento. «Isaac sensibilizara-se com o gesto de João XXIII de abolir em 1959 as fórmulas negativas presentes no ritual romano sobre os judeus e muçulmanos, até então definidos como "pérfidos". Até ao memorável encontro não estava nos planos do Papa a previsão de uma reflexão do concílio sobre o tema do judaísmo e do anti-semitismo e muito menos de um documento sobre as outras religiões.»

A conclusão da Nostrae Aetate convoca todos para promoverem o diálogo fraterno e o mútuo conhecimento e estima, e afirma que a Igreja reprova qualquer tipo de discriminação e perseguição. Introduziu uma significativa mudança na forma de tratamento, passando a vigorar o respeito e o acolhimento.

Este documento carece de bases doutrinais e perspectivas teológicas mais aprofundadas, mas adequa-se perfeitamente ao espírito pastoral do Concílio, traduzindo uma visão mais aberta sobre o mundo e mais optimista em relação à dinâmica da salvação. Neste sentido, conseguiu promover uma mudança de perspectiva, conduzindo à compreensão, à estima, ao diálogo e à mútua cooperação.

Até ao Concílio era muito forte a visão medieval de que "fora da Igreja não há salvação". O Vaticano II não retoma esta afirmação, mas também não a nega. Mantendo a convicção da centralidade de Cristo na História da Salvação, reconhece o valor e os elementos positivos das religiões. Antes via-se as outras religiões como obstáculo a vencer. Agora abre-se espaço ao diálogo, adoptando-se as perspectivas da praeparatio evangelica - no plano da pedagogia divina as outras religiões são situadas como preparação ao Evangelho. Há no documento muita cautela: não assume o valor salvífico das outras religiões, mas respeita a parcela de verdade presente em cada uma delas.

Os documentos conciliares foram o ponto de partida necessário para promover o diálogo e o respeito cada vez mais necessário e exigido no mundo actual composto por cerca de 2,1 biliões de cristãos, 1,3 biliões de muçulmanos, 900 milhões de hindus, 400 milhões de seguidores das religiões tradicionais chinesas, 380 milhões de budistas, 23 milhões de siques e 15 milhões de judeus. Para nos motivarmos ainda mais ao diálogo, concluímos recordando as palavras do teólogo dominicano francês Claude Geffré: «um diálogo bem conduzido leva à maior estima e consideração da própria identidade, a ponto de sublinhar melhor a originalidade. O diálogo inter-religioso deve ser considerado como autêntico sinal de esperança, como uma conversão espiritual e uma cumplicidade entre as grandes tradições religiosas.»

Por: Irmão Darlei Zanon ' Família Cristã ' www.familiacrista.com

Documentos do Concílio Vaticano II (Declarações)

DECLARAÇÃO NOSTRA AETATE SOBRE A IGREJA E AS RELIGIÕES NÃO-CRISTÃS


Nostra Aetate

Publicado em: 22/10/2012 ' Seção: Artigos

Pe. Dr. Brendan Coleman Mc Donald, C.Ss.R

Nostra Aetate é a declaração sobre o relacionamento da Igreja Católica com as igrejas não cristãs elaboradas e aprovadas pelo Concílio Vaticano ll. É talvez o documento menos conhecido e paradoxalmente um dos mais ricos e mais importantes que gerou calorosas controvérsias durante o Concílio Vaticano ll. É o documento mais breve do Concílio, contando somente cinco parágrafos. Nostra Aetate reorientou a compreensão e a maneira em que católicos devem se relacionar com os não-cristãos no mundo moderno. É muito relevante num país como o Brasil que tem uma enorme diversificação de religiões cristãs e não cristãs. O documento mostra que não é uma virtude para católicos se isolarem de grupos religiosos não cristãos. É incrível que os mesmos debates sobre este assunto que aconteceram 50 anos atrás no Concílio continuam hoje.

O documento nos ensina que "não podemos invocar Deus, Pai de todos os homens, se nos recusamos a comportar-nos como irmãos para com alguns homens criados à imagem de Deus" (parágrafo 5). A relação do homem para com Deus Pai, e a relação do homem para com os outros homens seus irmãos, encontram-se tão ligadas entre si que a Sagrada Escritura diz: "Quem não ama, não conhece a Deus" (1Jo 4,8). O Beato João Paulo ll chamou Nostra Aetate "a Magna Carta do diálogo inter-religioso". O Papa Bento XVl falando em 2007 com os membros da Fundação para Pesquisa e Diálogo Inter-religioso e Intercultural disse: "Nós com todas as pessoas de boa vontade queremos paz. Por isso insisto que a pesquisa inter-religioso e intercultural não é uma opção mas uma necessidade vital para o nosso tempo".

Nostra Aetate mudou totalmente o adágio que "Fora da Igreja não há salvação". A Igreja Católica não rejeita nada que seja verdadeiro e santo nas religiões não cristãs. Considera com sincero respeito esses modos de agir e viver esses preceitos e doutrinas. "No entanto a Igreja Católica anuncia e é obrigada a anunciar a Cristo, que é 'caminho, verdade e vida' (Jo14.6) no qual os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou a si todas as coisas" (cf. 2Cor 5, 18-19). Encontramos no parágrafo 2 de Nostra Aetate o seguinte: "Eis porque a Igreja Católica exorta os seus filhos a que, com prudência e caridade, por meio do diálogo e da colaboração com os membros das outras religiões, e sempre dando testemunho da fé e da vida cristã, reconheçam, conservem e façam progredir os bens espirituais, morais e os valores socioculturais que nelas se encontram" (Parágrafo 2). Pela primeira vez na história da teologia católica um documento do Vaticano apresenta a palavra diálogo como um processo de duas vias de escutar e aprender, e a orientação da teologia católica sobre o diálogo inter-religioso nunca mais foi o mesmo.

É importante salientar que o documento Nostra Aetate não pode ser interpretado no sentido que todas as religiões são boas ou iguais. Nostra Aetate não apresenta Cristo como uma pessoa religiosa de igual estatura com outros. "Na verdade, Cristo, como a Igreja sempre ensinou e ensina, submeteu-se voluntariamente, em virtude do seu imenso amor, à paixão e à morte, por causa dos pecados de todos os homens e para que todos cheguem à salvação. O dever da Igreja na sua pregação é, pois, anunciar a cruz de Cristo como sinal de amor universal de Deus e como fonte de todas as graças". (Parágrafo 4).

Nostra Aetate mostra grande estima e respeito para o Hinduísmo, o Budismo e de uma maneira especial a religião Muçulmana e a religião Judaica. Parágrafo 3 do documento trata exclusivamente da religião muçulmana. A Igreja Católica tem grande respeito pela religião muçulmana criada pelo profeta Maomé com sua doutrina encontrada no livro sagrado, o Alcorão ou Corão. Os Muçulmanos "adoram o Deus uno, vivo e subsistente, misericordioso e onipotente, criador do céu e da terra, que falou aos homens. Procuram submeter-se de todo o coração aos decretos mesmos ocultos de Deus, como Deus se submeteu Abraão, a quem a fé islâmica se refere com simpatia. Ainda não reconheçam Jesus como Deus, veneram-no no entanto como profeta. Honram Maria sua Virgem Mãe e chegam mesmo a invoca-la com devoção. Além disso, aguardam o dia do juízo, quando Deus retribuirá todos os homens ressuscitados. Têm estima pela vida moral e rendem culto a Deus, sobretudo com a oração, esmolas e jejum" (Parágrafo 3).

O Beato João Paulo ll chamou os Judeus de "nossos irmãos mais velhos". O documento Nostra Aetate dedicou parágrafo 4 à religião judaica. "A Igreja Católica reconhece, com efeito, que as premissas da sua fé e da sua eleição se encontram já integrado o mistério divino da salvação, nos Patriarcas, em Moisés e nos Profetas. Afirma que todos os fiéis de Cristo, filhos de Abraão segundo a fé, estão incluídos na vocação deste patriarca e que a salvação da Igreja está misteriosamente prefigurada no êxito do povo eleito da terra da servidão". Uma coisa importante mencionada no documento é a seguinte: "Ainda que as autoridades judaicas, com seus sequazes, tenham determinado a morte de Cristo, o que se passou durante a sua paixão não se pode atribuir nem indistintamente a todos os judeus de então nem aos judeus de nosso tempo".

Este importante documento do Concílio Vaticano ll termina com a seguinte observação: "A Igreja reprova, como contrário à vontade de Cristo, qualquer espécie de discriminação entre os homens ou de perseguição perpetrada por motivos de raça ou de cor, de condição social ou de religião". Este documento foi aprovado no Concílio no dia 28 de outubro de 1965. Acredito que seu conteúdo é de vital importância para a Igreja meio século depois de sua promulgação.

Pe. Dr. Brendan Coleman Mc Donald, redentorista e assessor da CNBB Reg. NE1.

Documentos do Concílio Vaticano II (Declarações)

DECLARAÇÃO GRAVISSIMUM EDUCATIONIS SOBRE A EDUCAÇÃO CRISTà


A educação segundo o Concílio Vaticano II

Princípios da educação cristã

Algo ainda pouco conhecido é que o Concílio Vaticano II, concluído há mais de 50 anos, tenha tratado a importância da educação e a sua grande influência no progresso dos povos. De fato foi publicada então a declaração Gravissimum educationis exclusivamente sobre o tema. Naquele texto constatava-se que a educação é cada vez mais urgente, algo mencionado inclusive na Declaração universal dos direitos humanos da ONU de 1948. E desde o século passado ocorre uma crescente reflexão sobre os métodos pedagógicos[i]. Vejamos aqui algumas declarações dos padres conciliares naquele importante e pouco conhecido texto.

Uma das primeiras coisas ditas é em que consiste uma «educação adequada»: é aquela que cultiva simultaneamente a verdade e a caridade, ou seja, o amor pela verdade e a busca pelo verdadeiro bem (proêmio). A educação, pois, não se reduz a uma mera transmissão de informações, como se insere dados num computador, mas é uma tarefa essencialmente humana e visa a formação de homens íntegros. E isso só é possível com a colaboração da inteligência e da liberdade do educador e do educando. Um primeiro requisito então para uma autêntica educação é considerar cada aluno como uma pessoa única e irrepetível, e não como uma fração no meio de um grupo. Isso implica o esforço por conhecer cada aluno pelo nome e levá-lo a sair do anonimato da massa[ii]. É necessário então intepelar a responsabilidade pessoal, estimulando o jovem para que ele se esforçe em desenvolver as capacidades de que foi naturalmente dotado.

E outro desafio importante da educação é a integração dos diversos saberes na unidade da vida pessoal. Se isso não ocorre, diversos setores do conhecimento disputarão entre si a primazia sobre os outros (matemática, física, psicologia, história, sociologia, economia etc.), como ocorre desde o início da modernidade. Como consequencia, os alunos se sentem perdidos e desestimulados. De fato, o conhecimento transmitido deve ser assimilado e integrado, pois a pessoa é sempre uma realidade una e nunca fragmentada[iii]. Quando ocorre a integração, as pessoas amadurecem e se tornam preparadas para a vida social, para trabalhar em prol do bem comum com espírito de verdadeiro respeito e autêntico diálogo (n. 1).

E a Igreja tem a missão de anunciar o mistério da salvação e de restaurar todas as coisas em Cristo, elevando tudo o que é humano ao nível divino. Por isso a Igreja busca cuidar de toda a vida do homem e desde as suas origens assume a tarefa de cultivar o progresso das pessoas, educando-as segundo princípios próprios (proêmio).

Um princípio da educação cristã afirmado é o direito inalienável de todos os homens à educação. Isso provém da sua dignidade de pessoa, e não de alguma concessão por parte do Estado ou de algum grupo social (n. 1).

Outro princípio importante diz que a educação deve corresponder ao fim próprio do homem: a vida de comunhão com Deus e com o seu próximo[iv]. A verdadeira educação almeja a formação integral da pessoa em ordem ao seu fim último o qual não exclui, mas engloba o bem das sociedades terrenas (n. 1). De fato, dificilmente pode-se falar de uma ética sem uma relação explícita com Deus. Os atuais modelos éticos, baseados no chamado "pensamento débil", conseguem ao máximo elaborar um limitado código de conduta, uma espécie de "moral de mínimos" para evitar choques frontais entre as liberdades individuais, mas isso é incapaz de satisfazer as perguntas mais profundas do coração humano. Uma ética satisfatória deve se articular ao redor da pergunta pelo bem, ou seja, pelo que se deva fazer para ser bom e alcançar o fim último. Se não for assim, pode-se aderir a códigos de condutas mais ou menos arbitrários, mas não dirigir realmente a vida humana para a sua realização plena.

Para que a educação seja efetiva, diz ainda o Concílio, é preciso considerar as contribuições das diversas ciências (psicologia e pedagogia principalmente), de modo que os jovens sejam ajudados a desenvolver harmonicamente as suas qualidades físicas, intelectuais e morais, conquistando gradualmente o sentido da responsabilidade pela própria vida e o conhecimento da autêntica liberdade (n. 1). A educação deve então ajudar a apreciar e praticar os justos valores morais, sendo o principal deles o conhecer e amar a Deus que criou o homem para ser seu interlocutor. Deus criou o homem livremente, ou seja, por amor e para amar, e nesse fato se funda a liberdade humana. Os Estados, portanto, não podem negar aos jovens o «sagrado direito» de serem educados segundo os valores morais e religiosos próprios e familiares.

Então o documento do Vaticano II diz que todos os cristãos têm o direito a receber a educação cristã, a qual visa levar os jovens a alcançar a maturidade humana e a conhecer o mistério da salvação no qual foram inseridos. Por isso os alunos devem ter a possibilidade de crescer na fé que receberam, de prestar culto a Deus, de levar uma vida de justiça e santidade, colaborando com a expansão do Reino de Deus. Desse modo os leigos se tornam conscientes da vocação que receberam de conformar de modo cristão o mundo, o qual supõe assumir os valores naturais na consideração integral do homem remido por Cristo. Os cristãos sendo educados e agindo segundo a lei da liberdade cristã cooperam ao desenvolvimento da sociedade terrena e trabalham pelo reino de Deus para o qual foram chamados (n. 2).

[i] Gravissimum educationis, Declaração sobre a educação cristã, publicada em 28/10/1965. Disponível em: https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19651028_gravissimum-educationis_po.html

[ii] Horkheimer e Adorno analisaram a presumida autosuficiência do progresso intelectual da modernidade. E denunciaram a «triunfal desventura» causada pela hegemonia da técnica (superioridade do «fazer» sobre o «ser»). A técnica «realiza a angústia mais antiga, aquela de perder o próprio nome». Esse seria o custo pago quando se trocou o antigo ideal sapiencial da educação para o moderno. Passou-se do ideal de «saber viver» para o «saber fazer». Cfr. M. Horkheimer, T.W. Adorno, Dialettica dell'illuminismo, Torino, Einaudi 1966, pp. 11, 36 e 37.

[iii] Cfr. C. Cardona, Etica del quehacer educativo, Rialp, Madrid 1990, cap. 1.

[iv] J. Maritain, L'educazione al bivio, Brescia, La Scuola 1963, pp. 15-16: «Os seus meios [da educação contemporânea] não são maus; ao contrário, são geralmente melhores daqueles da velha pedagogia. O problema é precisamente que esses são tão bons que nos fazem perder de vistas o fim [da educação]».

Documentos do Concílio Vaticano II (Decretos)

DECRETO ORIENTALIUM ECCLESIARUM SOBRE AS IGREJAS ORIENTAIS CATÓLICAS 


AS IGREJAS PARTICULARES OU RITOS 

Diversidade de ritos na unidade da Igreja 
Submissão ao Romano Pontífice 
Protecção e desenvolvimento 

A CONSERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO ESPIRITUAL DAS IGREJAS ORIENTAIS 

A disciplina oriental, património da Igreja de Cristo 
Conservação e restauração das antigas tradições 

OS PATRIARCAS ORIENTAIS 

Natureza e jurisdição 
Igualdade entre eles na dignidade 
Restabelecimento de seus direitos e privilégios 
Os Arcebispos maiores 
Erecção de novos patriarcados 

A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS 

onservação e restauração da disciplina oriental 
O ministro da Confirmação 
A Sagrada Eucaristia 
O Ministro da Penitência 
O diaconato e as ordens inferiores 
Os matrimônios mistos 

O CULTO DIVINO 

Os dias festivos 
A data da Páscoa 
O ciclo litúrgico 
O ofício litúrgico 
O uso das línguas vernáculas 

A CONVIVÊNCIA COM OS IRMÃOS DAS IGREJAS SEPARADAS 

Importância das Igrejas orientais no movimento ecuménico 
A incorporação dos irmãos separados 
A «communicatio in sacris» 

CONCLUSÃO 

Colaboração na consecução da unidade 

Documentos do Concílio Vaticano II (Decretos)

DECRETO UNITATIS REDINTEGRATIO SOBRE O ECUMENISMO 


Resumo da Unitatis Redintegratio (Decreto sobre o Ecumenismo) de Paulo VI do concílio Vaticano II


Amigos,

O presente trabalho visa apresentar um resumo do Decreto - Unitatis Redintegratio (Decreto sobre o Ecumenismo), o mesmo é um trabalho realizado para a disciplina de História da Igreja Moderna e Contemporânea, do Terceiro período do curso de Teologia da Faculdade Católica de Uberlândia. Iremos apresentar de forma sistemática destacando os pontos de maior relevância do documento seguindo a organização de capítulos e tópicos propostos pelo próprio documento oficial.
PROÊMIO
O decreto Unitatis Redintegratio sobre o Ecumenismo é um Decreto do Concílio Vaticano II que foi promulgado solenemente no dia 20 de Novembro de 1964 por Sua Santidade, o Papa Paulo VI. Já no proêmio da encíclica em questão aparecem palavras introdutórias que mostra de forma concisa e sucinta o objetivo principal de um decreto sobre o Ecumenismo, que é "A reintegração da unidade entre todos os cristãos é um dos objetivos principais do Sagrado Sínodo Ecumênico Vaticano Segundo", simplesmente por uma razão, isto é, de que o Cristo fundou uma só e única Igreja.
Uma problemática é apresentada neste proêmio ao afirmar que as muitas igrejas que compõe hoje o cristianismo se apresentam como sendo a herança verdadeira de Jesus Cristo, têm visões diferentes e andam por caminhos diversos, "como se o próprio Cristo estivesse dividido". Essa divisão é contra a vontade de Cristo e um escândalo para o mundo, além de prejudicar a causa da pregação do Evangelho, desta forma, faz-se necessário um direcionamento para que o Ecumenismo torne-se prática nas nossas vidas, mas não de um modo qualquer e sim de um modo particular em comunhão com as igrejas que querem seguir o caminho proposto por Cristo, nosso Senhor. Um dos maiores motivadores desta questão está posto no final do proêmio: "Quase todos, se bem que de modo diverso, aspiram a uma Igreja de Deus una e visível, que seja verdadeiramente universal e enviada ao mundo inteiro, a fim de que o mundo se converta ao Evangelho e assim seja salvo, para glória de Deus".
PRINCÍPIOS CATÓLICOS DO ECUMENISMO
Unidade da Igreja: A questão da unidade da Igreja está postulada em várias passagens bíblica nos discursos de Jesus, quando João relata a passagem: "Para que todos sejam um, como tu, Pai, em mim e eu em ti; para que sejam um em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste" (Jo. 17,21) ele que mostrar que a unidade vem de Deus, primeiramente em Deus Pai que enviou Seu Filho, Jesus Cristo e a sua perpetuidade permaneceria com o envio do Seu Espírito Santo. Ora a Unidade da Igreja tem seu fundamento na Trindade Santa.
Ora, é a união do Filho ao Pai é outro fator que move à prática do ecumenismo e é pela unidade do Espírito Santo, Jesus chamou e congregou na unidade da fé, esperança e caridade o povo da Nova Aliança, que é a Igreja. Assim, o Espírito Santo habita nos crentes, enche e rege toda a Igreja, realiza a comunhão dos fiéis e une a todos tão intimamente em Cristo, que é princípio da unidade da Igreja.
É na escolha dos doze apóstolos que Cristo e depois na missão confiada a eles que Jesus concede-lhes o ofício de ensinar, governar e santificar os seus ensinamentos por meio das pregações sobre aquilo que eles haviam aprendido com o próprio Jesus na convivência em pregação. Se os doze conviveram com Cristo e foram testemunhas oculares do modo com que Ele queria a união da sua Igreja, esse mesmo ensinamento fora passado para as comunidades dos apóstolos por meio das pregações, convivências e através da tradição oral e escrita, para que chegasse até nós por meio dos evangelhos e da pregação da tradição os ensinamentos de unidade, amor e fraternidade entre os irmãos, pois o decreto diz: "Jesus Cristo quer que o Seu Povo cresça mediante a fiel pregação do Evangelho, administração dos sacramentos e governo amoroso dos Apóstolos e dos seus sucessores os Bispos, com a sua cabeça, o sucessor de Pedro, sob a ação do Espírito Santo; e vai aperfeiçoando a sua comunhão na unidade: na confissão duma só fé, na comum celebração do culto divino e na fraterna concórdia da família de Deus".
Ruptura da unidade da Igreja: laços de união entre todos os cristãos: O decreto diz: "Nesta una e única Igreja de Deus já desde os primórdios surgiram algumas cisões, que o Apóstolo censura asperamente como condenáveis. Nos séculos posteriores, porém, originaram-se dissensões mais amplas. Comunidades não pequenas separaram-se da plena comunhão da Igreja católica, algumas vezes não sem culpa dos homens dum e doutro lado".
O movimento ecumênico visa a superar os obstáculos, existentes entre os nossos irmãos separados e a Igreja Católica, quer em questões doutrinais e às vezes também disciplinares, quer acerca da estrutura da Igreja, que são por vezes muito graves, à plena comunhão eclesiástica. As divisões dos cristãos impedem a Igreja de realizar a plenitude de catolicidade que lhe é própria naqueles filhos que estão separados da sua plena comunhão. E até para a própria Igreja se torna mais difícil exprimir na realidade da vida sob todos os aspectos a sua plena catolicidade.
O decreto diz que "... as Igrejas e Comunidades separadas, embora creiamos que tenham defeitos, de forma alguma estão despojadas de sentido e de significação no mistério da salvação. Pois o Espírito de Cristo não recusa servir-se delas como de meios de salvação cuja virtude deriva da própria plenitude de graça e verdade confiada à Igreja católica".
O movimento ecumênico: Uma das maneiras mais lindas e mais eficazes para treinar as práticas propostas pelo Decreto do Ecumenismo está ligada aos movimentos que acontecem em várias partes do mundo, mediante ao sopro do Espírito Santo, pois, "O Espírito sopra onde quer" e inúmeras tentativas de aproximação da unidade entre os cristãos tem tornado possível que esses conceitos e esses sonhos se tornem realidade.
Mas de fato, o que é movimento ecumênico? O decreto diz: "«movimento ecumênico» entende-se as atividades e iniciativas, que são suscitadas e ordenadas, segundo as várias necessidades da Igreja e oportunidades dos tempos, no sentido de favorecer a unidade dos cristãos. Tais são: primeiro todos os esforços para eliminar palavras, juízos e ações que, segundo a equidade e a verdade, não correspondem à condição dos irmãos separados e, por isso, tornam mais difíceis as relações com eles; depois, o «diálogo» estabelecido entre peritos competentes, em reuniões de cristãos das diversas Igrejas em Comunidades, organizadas em espírito religioso, em que cada qual explica mais profundamente a doutrina da sua Comunhão e apresenta com clareza as suas características. Com este diálogo, todos adquirem um conhecimento mais verdadeiro e um apreço mais justo da doutrina e da vida de cada Comunhão. Então estas Comunhões conseguem também uma mais ampla colaboração em certas obrigações que a consciência cristã exige em vista do bem comum. E onde for possível, reúnem-se em oração unânime. Enfim, todos examinam a sua fidelidade à vontade de Cristo acerca da Igreja e, na medida da necessidade, levam vigorosamente por diante o trabalho de renovação e de reforma".
O segundo capítulo exorta todos os cristãos da importância de se participar das ações ecumênicas e dos movimentos que trazem unidade a Igreja de Cristo.
PRÁTICA DO ECUMENISMO
A solicitude na restauração da união vale para toda a Igreja, tanto para os fiéis como para os pastores. Essa preocupação já manifesta de certo modo a união fraterna existente entre todos os cristãos, e conduz à unidade plena e perfeita, segundo a benevolência de Deus. Neste longo processo de diálogo ecumênico é necessária a conversão do coração porque não há verdadeiro ecumenismo sem conversão interior. É que os anseios de unidade nascem e amadurecem a partir da renovação da mente, da abnegação de si mesmo e da libérrima efusão da caridade. Todos os cristãos tanto melhor promoverão e até realizarão a união dos cristãos quanto mais se esforçarem por levar uma vida mais pura, de acordo com o Evangelho. O movimento ecumênico tem como alma a conversão do coração e a santidade de vida, juntamente com as orações particulares e públicas pela unidade dos cristãos.
Para a prática do ecumenismo é preciso conhecer a mente dos irmãos separados, ou seja, adquirir um melhor conhecimento da doutrina e história, da vida espiritual e litúrgica, da psicologia religiosa e da cultura própria dos irmãos separados. A sagrada teologia e as outras disciplinas devem ser ensinadas também sob ponto de vista ecumênico, de modo que respondam mais exatamente à verdade das coisas.
É absolutamente necessário que toda a doutrina seja exposta com clareza. Ao mesmo tempo, a fé católica deve ser explicada mais profunda e correctamente para que seja compreendida também pelos irmãos separados. Todos os cristãos professam diante do mundo inteiro a fé em Deus Uno e Trino, no Filho de Deus encarnado, nosso Redentor e Salvador. A cooperação de todos os cristãos exprime vivamente aquelas relações pelas quais já estão unidos entre si e apresenta o rosto de Cristo Servo numa luz mais radiante.
IGREJAS E COMUNIDADES ECLESIAIS SEPARADAS DA SÉ APOSTÓLICA ROMANA
Igrejas e comunidades eclesiais separadas da fé Apostólica Romana: Temos diante dos olhos duas principais categorias de cisão que ferem a túnica inconsútil de cristo. As primeiras divisões sobrevieram no oriente, já por contestação das formulas dogmáticas dos concílios de Êfeso e calcedônia, já em tempo posterior, pela ruptura da comunhão eclesiástica entre os patriarcados orientais e a Sé romana.
As outras, após mais de quatro séculos, originaram no ocidente provocado pelos acontecimentos comumente conhecidos com o nome de reforma. Desde então, muitas comunhões, nacionais ou confessionais, se separaram da Sé Romana. Entre aquelas nas quais continuam parcialmente as tradições e as estruturas católicas, ocupa um lugar especial a comunhão anglicana.
Estas diversas divisões, toda via, diferem muito entre si, não apenas em razão da origem, lugar e tempo, mas principalmente pela natureza e gravidade das questões relativas á fé e á estrutura eclesiástica.
Por isso, sem querer minimizar as diferenças entre os vários grupos cristãos e sem desconhecer os laços que, não obstante a divisão, entre eles existem, este sagrado concilio determina propor as seguintes considerações para levar a cabo uma prudente ação ecumênica.
Consideração peculiar sobre as igrejas orientais: Durante não poucos séculos, as igrejas do oriente e do ocidente seguiram por caminhos próprios, unidas, contudo, pela fraterna comunhão da fé e da vida sacramental. Quando entre elas surgiram dissensões acerca da fé ou da disciplina, era a Sé de Roma quem, de comum acordo, as resolvia. Entre outras coisas de grande importância, é grato ao sagrado concilio trazer á memória de todos os fatos de que no oriente florescem muitas igrejas particulares ou locais, entre as quais sobressaem as igrejas patriarcais.
Semelhante, não se deve esquecer que a igreja do oriente tem desde a origem um tesouro, do qual a igreja do ocidente herdou muitas coisas em liturgia, tradição espiritual e ordenação jurídica. Nem se deve subestimar o fato de que os dogmas fundamentais da Fe cristã sobre a trindade e o verbo de Deus encarnado da virgem Maria, foram definidos em concílios ecumênicos celebrados no oriente. Para preservar esta fé muito sofreram e ainda sofrem aquelas igrejas. Mas a herança deixada pelos apóstolos foi aceita de formas e modos diversos e desde os primórdios da igreja cá e lá foi explicada de maneira diferente, também por causa da diversidade de gênio e de condições de vida.
Tudo isso, além das causas externas, e também por falta mútua compreensão e caridade, deram ocasião ás separações. Também é conhecido de todos com quanto amor os cristãos orientais realizam as cerimônias litúrgicas, principalmente a celebração eucarística ,fonte da vida da igreja e penhor da gloria futura,pela qual os fieis unidos ao bispo, tendo a Deus pai mediante o filho, o verbo encarnado, morto e glorificado na efusão do espírito santo, conseguem a comunhão coma santíssima trindade. Por isso, pela celebração da eucaristia do senhor, em cada uma dessas igrejas, a igreja de Deus é edificada e cresce, e pela concelebração se manifesta a comunhão entre elas.
Como essas igrejas, embora separadas, têm verdadeiros sacramentos e principalmente, em virtude da sucessão apostólica, o sacerdócio e a eucaristia, ainda se unem muito intimamente conosco. Por isso, alguma communicatio in sacris não e só e possível, mas até aconselhável, em circunstâncias oportunas e com aprovação da autoridade eclesiástica.
Dando graças a Deus porque muitos filhos orientais da igreja católica, que guardaram este patrimônio e desejam vive-lo mais pura e plenamente, já vivem em plena comunhão com os irmãos que cultivam a tradição ocidental, este sagrado concilio declara que todo esse patrimônio espiritual e litúrgico, disciplinar e teológico, nas suas diversas tradições, faz parte da plena catolicidade e apostolicidade da Igreja.
Igrejas e comunidades eclesiais separadas no ocidente: As igrejas e comunidades eclesiais, que se separaram da Sé apostólica romana naquela grave perturbação iniciada no ocidente, já pelos fins da idade média, ou em tempos posteriores, continuam, contudo, ligadas á igreja católica pelos laços de uma peculiar afinidade devida á longa convivência do povo cristão na comunhão eclesiástica durante os séculos passados.Visto que estas igrejas e comunidades eclesiais ,por causa da diversidade de origem ,doutrina e vida espiritual não só diferem de nos mas também diferem consideravelmente entre si,descrevê-las de modo adequado é um trabalho muito difícil,que não entendemos fazer aqui.
É preciso, contudo reconhecer que entre estas igrejas e comunidades a Igreja católica há discrepâncias consideráveis, não só de índole histórica, sociológica, psicológica, cultural e sobre tudo de interpretação da verdade revelada. Para que mais facilmente, não obstante estas diferenças se possam estabelecer o dialogo ecumênico, queremos expor seguidamente alguns pontos que podem ser o fundamento e o incentivo deste dialogo.
Consideremos primeiramente aqueles cristãos que, para glória de Deus único, Pai e filho e Espírito Santo, abertamente confessam Jesus cristo como Deus e Senhor e único mediador entre Deus e os homens. Sabemos existirem não pequenas discrepâncias em relação á doutrina da igreja católica, mesmo sobre cristo, verbo de Deus encarnado, e sobre a obra da redenção, por conseguinte sobre o mistério e o mistério da igreja, bem como sobre a função de Maria na obra da salvação. Alegramo-nos, contudo, vendo que nossos irmãos separados tendem para cristo como fonte e centro da comunhão da comunhão eclesiástica.
O amor e a veneração e quase o culto da sagrada escritura levam os nossos irmãos a um constante e cuidadoso estudo do texto sagrado: pois o evangelho é (força de Deus para salvação de todo aquele que crê primeiro do judeu, mas também do grego) Rm1, 16. Mas, embora os cristãos de nós separados afirmem a autoridade divina da sagrada escrituras pensam diferentemente de nós cada um de modo diverso sobre a relação entre escritura e a igreja. Na Igreja, segundo a fé católica, o magistério autentica tem lugar peculiar na exposição e pregação da palavra de Deus escrita.
No entanto, no próprio diálogo a sagrada escritura é um eximo instrumento na poderosa Mão de Deus para a consecução daquela unidade que o salvador oferece. Ora, é absolutamente necessário que toda a doutrina seja exposta com clareza. Ao mesmo tempo, a fé católica deve ser explicada mais profunda e corretamente para que seja compreendida também pelos irmãos separados.

Documentos do Concílio Vaticano II (Decretos)

DECRETO CHRISTUS DOMINUSSOBRE O MÚNUS PASTORAL DOS BISPOS NA IGREJA 


Este decreto explica primeiramente as aplicações práticas da colegialidade do Episcopado (participação de todos os bispos na responsabilidade da Igreja universal). Fala explicitamente de um problema de fundamental importância, ou seja, o Exercício do poder do Colégio Episcopal. No n. 4 esclarece assim: "Os Bispos, em virtude da sua consagração sacramental e pela comunhão hierárquica com a cabeça e os membros do colégio, são constituídos membros do corpo episcopal. A ordem dos Bispos, porém, que sucede ao colégio dos Apóstolos no magistério e no governo pastoral, e, mais ainda, na qual o corpo apostólico continua perpetuamente, é também, juntamente com o Romano Pontífice, sua cabeça, e nunca sem a cabeça, sujeito do supremo e pleno poder sobre toda a Igreja, poder este que não pode ser exercido sem o consentimento do Romano Pontífice. Este poder é exercido solenemente no Concílio Ecumênico". Em seguida analisa as relações do bispo com a Igreja particular. Por fim, o Decreto fala da atividade das Conferências Episcopais. 

Documentos do Concílio Vaticano II (Decretos)

DECRETO OPTATAM TOTIUS SOBRE A FORMAÇÃO SACERDOTAL 

Importância para a vida da Igreja 
PROMOÇÃO MAIS INTENSA DAS VOCAÇÕES SACERDOTAIS 
Obrigação de toda a comunidade cristã.
Natureza da vocação.
Obra das vocações
 
Seminários menores e Institutos peculiares 
Importância e orientação cristocêntrica 
Sentido eclesial 
Preparação para o celibato 
Formação humanística e científica prévias. Latim 
Coordenação cristocêntrica da Filosofia e da Teologia 
Prática pastoral durante os estudos 

Documentos do Concílio Vaticano II (Decretos)

DECRETO APOSTOLICAM ACTUOSITATEM SOBRE O APOSTOLADO DOS LEIGOS 


O Decreto Apostolicam actuositatem foi promulgado pelo Papa Paulo VI em 18 de novembro de 1965. Dividido em seis capítulos, o documento inicia falando sobre a importância e a atualidade do apostolado dos leigos na vida da Igreja e conclui com uma exortação à generosidade: "Por isso, o sagrado Concílio pede instantemente no Senhor a todos os leigos, que respondam com decisão de vontade, ânimo generoso e disponibilidade de coração à voz de Cristo, que nesta hora os convida com maior insistência, e ao impulso do Espírito Santo. Os mais novos tomem como dirigido a si de modo particular este chamado, e recebam-no com alegria e magnanimidade. Com efeito, é o próprio Senhor que, por meio do sagrado Concílio, mais uma vez convida todos os leigos a que se unam a Ele cada vez mais intimamente, e sentindo como próprio o que é dele, se associem à sua missão salvadora".

Quem nos apresenta o Decreto Apostolicam actuositatem, é o Presidente da Comissão Episcopal para o Laicato da CNBB e Bispo de Caçador (SC), Dom Severino Clasen:

"É um documento que nasce a partir dos outros documentos da Igreja. São diversos que ao longo da história da Igreja vão sendo produzidos para a participação dos cristãos na Igreja e na sociedade. Por exemplo, antes do Concílio Vaticano II, temos alguns documentos tipo Aeterni patris de 1879, depois 1891 temos a Rerum Novarum. São grandes documentos que falam da participação dos leigos na sociedade e o mundo como caminha nas suas grandes transformações. Assim também, no Concilio Ecumênico Vaticano II, com a produção dos diversos documentos que temos aí, vamos citar sobretudo a Lumen Gentium e a Gaudium et spes, que fala da Igreja e sua missão no mundo, e também a Igreja e a transformação da sociedade, a doutrina e tudo mais. Dentro destes documentos, surge este documento do apostolado dos cristãos leigos e leigas, a missão deles na Igreja e na sociedade. Claro, que este decreto teve grandes discussões. Nós podemos imaginar, quando mais de 2.500 bispos reunidos neste Concílio, alguma coisa tem que se produzir de alto nível. E o pensamento do Concílio Ecumênico Vaticano II, produziu aquela ideia "Igreja, povo de Deus". Uma nova maneira de interpretar, de entender a Igreja. A valorização dos cristãos leigos e leigas. E como já havia na época, antes da guerra e depois no pós-II Guerra Mundial, muitos documentos que começam a surgir a ação dos leigos. Temos aí a Ação Católica. Nós aqui no Brasil, depois nós temos a Ação Católica, temos diversos grupos, a Ação da Juventude. Eram expressões de grupos de leigos, tentando mostrar a sua participação e comprometimento com o anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Então nesta miscelânea de iniciativas, tentativas que já se encontrava e a Igreja gemendo, diria assim, como dores de parto, na necessidade de uma mudança, de uma transformação e tudo mais. E por isto o Concílio Ecumênico Vaticano II percebeu que não tem como produzir um Concílio sem falar de Leigos. E para dar um destaque especial, aí surge este documento. Foi preparado e até quando foi aprovado em 1965, mais precisamente foi no dia 18 de novembro, quando inclusive a Comissão do Laicato no Brasil celebrou, fez uma dedicação sobre isto, para que de fato a gente colocasse esta ideia da participação dos cristãos leigos e leigas".

(from Vatican Radio)

Documentos do Concílio Vaticano II (Decretos)

DECRETO PRESBYTERORUM ORDINIS SOBRE O MINISTÉRIO E A VIDA DOS SACERDOTES 


Com o tema "Fraternidade: Igreja e Sociedade" e lema "Eu vim para servir" (cf. Mc 10, 45), a Campanha da Fraternidade (CF) 2015 buscará recordar a vocação e missão de todo o cristão e das comunidades de fé, a partir do diálogo e colaboração entre Igreja e Sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II. Para colaborar nessa reflexão, o A12.com apresenta uma série de artigos de alguns dos documentos conciliares. Hoje, aprenda mais sobre o ministério e a vida dos sacerdotes.

Presbyterorum Ordinis - "Ministério dos Presbíteros"

Este decreto do Vaticano II trata da vida e ministério dos presbíteros (padres) católicos. O texto começa descrevendo a missão sacerdotal de todo o povo de Deus, mas destaca que, como um corpo tem muitos membros, na Igreja há os ministros ordenados, cujas funções ministeriais se voltam para o cuidado com o povo no oferecimento do sacrifício eucarístico e no perdão dos pecados. Todavia, suas funções específicas não os retiram do convívio do meio social, os presbíteros são homens na história, com a tarefa de transformá-la. Assim, "os presbíteros, em virtude da sagrada ordenação e da missão que recebem das mãos dos Bispos, são promovidos ao serviço de Cristo mestre, sacerdote e rei, de cujo ministério participam, mediante o qual a Igreja continuamente é edificada em Povo de Deus, corpo de Cristo e templo do Espírito Santo (PO 1)".

Os presbíteros assumem em primeiro lugar o amor pela pregação da Palavra de Deus. E para pregá-la, supõem-se que os padres amem esta mesma Palavra. Assim, nos diz a PO, os presbíteros "pregando abertamente, anunciam o mistério de Cristo aos que creem, quer quando ensinam o catecismo cristão ou explanam a doutrina da Igreja, quer quando procuram estudar à luz de Cristo as questões do seu tempo, sempre é próprio deles ensinar não a própria sabedoria mas a palavra de Deus e convidar instantemente a todos à conversão e à santidade (PO 4)".

Em seguida, o decreto PO reafirma o papel dos presbíteros como ministros por excelência dos sacramentos, partindo da Eucaristia, centro da vida cristã, passando pela Penitência, o sacramento da cura, e chegando mesmo na celebração de todos os outros ritos sacramentais. "Procurem os presbíteros cultivar retamente a ciência e a arte litúrgica, para que, pelo seu ministério litúrgico, Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, seja louvado cada vez mais perfeitamente pelas comunidades a eles confiadas (PO 5)".

Dado o devido valor a Palavra de Deus e aos sacramentos, é hora do decreto PO falar do terceiro ponto fundamental da vida dos presbíteros, a saber, a vida pastoral com o cuidado preferencial para com os pobres e excluídos, opção de Jesus e por tabela, opção da Igreja. Incluem-se nesse aspecto pastoral a abertura aos movimentos eclesiais diversos e o atendimento caritativo constante e fecundo.

Seguem-se no decreto as orientações da comunhão pastoral entre bispos e presbíteros. Seguindo o modelo hierárquico, a PO mostra que o trabalho pastoral exige sintonia entre o bispo e os seus companheiros de presbitério. "Nenhum presbítero pode realizar suficientemente a sua missão, isoladamente, mas só num esforço comum com os outros presbíteros, sob a direção dos que estão à frente da Igreja (PO 7)".

"...aos padres é solicitado atenção ao que o leigo também pode trazer de bom e novo para a vida da comunidade".

Em seguida, o decreto convida os presbíteros a unirem entre si como verdadeiros irmãos no apostolado. Solicita carinho dos mais velhos para com os mais jovens e pede aos jovens que sejam solícitos aos mais idosos. O texto ainda diz aos padres que "Animados de espírito fraterno, os presbíteros não esqueçam a hospitalidade, cultivem a beneficência e comunhão de bens, tendo particular solicitude com os doentes, os atribulados, os que estão sobrecarregados de trabalho, os que vivem sós, os que vivem longe da Pátria, bem como com os que sofrem perseguição (PO 8)".

Enfim, aos padres é solicitada uma especial atenção ao mundo laical, sem preocupar-se com o próprio bem-estar mas com a cuidado pastoral do seu rebanho, estando no meio do povo e zelando pela sua santificação. Mas do que isso, aos padres é solicitado atenção ao que o leigo também pode trazer de bom e novo para a vida da comunidade. Literalmente o texto assim declara que "os presbíteros (...) estejam dispostos a ouvir os leigos, tendo fraternalmente em conta os seus desejos, reconhecendo a experiência e competência deles nos diversos campos da atividade humana, para que, juntamente com eles, saibam reconhecer os sinais dos tempos (PO 9)".

Outro ponto delicado que aparece no decreto PO é a distribuição dos presbíteros pelo mundo. O texto reconhece que há muitas regiões sem suficientes vocações e provoca o espírito missionário dos padres. A corresponsabilidade vocacional aparece com bastante destaque neste decreto.

A terceira parte do decreto PO começa a ressaltar a vocação do presbítero à santidade, mostrando que em tudo a vocação sacerdotal está ligada intimamente ao ideal da vida cristã em perfeição. Para isso, o texto mostra que o presbítero, imagem do Cristo, deve em tudo buscar a santidade, especialmente no exercício da caridade incondicional, do celibato ministerial e da pobreza voluntária. Estes três temas ocupam parte da reflexão e são a base da espiritualidade presbiteral. Sobre o celibato, o decreto, sentido os ares do mundo moderno, insiste que "quanto mais, porém, a perfeita continência é tida por impossível por tantos homens no mundo de hoje, tanto mais humildemente e persistentemente peçam os presbíteros em união com a Igreja a graça da fidelidade, que nunca é negada aos que a suplicam, empregando ao mesmo tempo os auxílios sobrenaturais e naturais, que estão à mão de todos (PO 16)".

A última parte do decreto trata de questões práticas para a vida do presbítero católico. Primeiro o Concílio confirma a necessidade da formação espiritual dos padres e oferece meios para que esta necessidade seja sanada, tanto na formação quanto na vida apostólica do padre, incentivando a celebração diária da missa, a visita ao Santíssimo Sacramento e retiros espirituais ao longo do ano.

O segundo tema prático refere-se a formação intelectual do padre, destacando que mesmo finda a formação inicial, o padre deve ocupar-se em sua formação teológica e cultural, tendo meios e oportunidades para isso.

Como terceira preocupação prática, o decreto trata da justa remuneração econômica aos que exercem seu ministério, exortando os bispos a buscarem meios de conscientizar os fiéis de sua obrigação de provedores. Também se exorta que os padres tenham gozo anual de férias. Junto com este tema da provisão econômica, o Concilio ainda admoesta no final da PO que se cuide da previdência social dos padres.

Documentos do Concílio Vaticano II (Decretos)

DECRETO PERFECTAE CARITATIS SOBRE A CONVENIENTE RENOVAÇÃODA VIDA RELIGIOSA 

A Igreja segue seu único esposo
Desde os primórdios da Igreja, existiram homens e mulheres que pela prática dos conselhos evangélicos se propuseram seguir a Cristo com maior liberdade e imitá-lo mais de perto, levando, cada qual a seu modo, uma vida consagrada a Deus. Muitos dentre eles, movidos pelo Espírito Santo, ou passaram a vida na solidão ou fundaram famílias religiosas, que a Igreja de boa vontade acolheu e aprovou com sua autoridade. Assim surgiu, por desígnio de Deus, uma admirável variedade de comunidades religiosas, que muito contribuiu para que a Igreja não apenas esteja qualificada para toda boa obra (cf. 2Tm 3,17) e preparada para o exercício do seu ministério, para edificar o Corpo de Cristo (cf. Ef 4, 12), mas também, enriquecida com os vários dons de seus filhos, se apresente qual esposa enfeitada para o seu marido (Ap 21,1) e, através dela,se manifeste a multiforme sabedoria de Deus (Ef 3,10).
Em tão grande variedade de dons, todos os que são chamados à prática dos conselhos evangélicos, e os professam com fidelidade, consagram-se de maneira especial ao Senhor, seguindo a Cristo que, sendo virgem e pobre, redimiu e santificou os homens pela obediência até a morte de cruz (cf. Fl 2,8). Movidos assim pela caridade que o Espírito Santo derramou em seus corações, vivem cada vez mais para Cristo e para o seu corpo, isto é, a Igreja (Cl 1,24). Por conseguinte, quanto mais fervorosamente se unem a Cristo, por essa doação de si mesmos que abrange a vida toda, tanto mais se enriquece a vida da Igreja e mais vigorosamente fecundo se torna seu apostolado.
Os membros de cada instituto recordem antes de mais nada que, pela profissão dos conselhos evangélicos, responderam a um chamado divino, de forma que não apenas morrendo para o pecado, mas também renunciando ao mundo, vivam exclusivamente para Deus. Colocaram toda a sua vida ao serviço de Deus, o que constitui uma consagração especial, que está intimamente radicada na consagração do batismo e a exprime mais plenamente.
Os que professamos conselhos evangélicos, acima de tudo, busquem e amem a Deus, que primeiro nos amou; e procurem em todas as circunstâncias cultivar a vida escondida com Cristo em Deus, da qual deriva e recebe estímulo o amor do próximo para a salvação do mundo e a edificação da Igreja. É também esta caridade que anima e dirige a própria prática dos conselhos evangélicos.
A caridade que os religiosos professam por causa do Reino dos Céus (Mt 19,12) deve ser considerada como um precioso dom da graça. Liberta de modo singular o coração do homem para que se inflame mais na caridade para com Deus e para com todos os homens; por isso ela é um sinal peculiar dos bens celestes e um meio eficacíssimo para levar os religiosos a se dedicarem generosamente ao serviço de Deus e às obras de apostolado. Assim, eles dão testemunho, perante todos os fiéis cristãos, daquela admirável união estabelecida por Deus e que há de manifestar-se plenamente na vida futura, pela qual a Igreja tem a Cristo como seu único Esposo.

Documentos do Concílio Vaticano II (Decretos)

DECRETO INTER MIRIFICA SOBRE OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL  


Inter Mirifica: 50 anos!


Há cinquenta anos, no dia 4 de dezembro de 1963, o Papa Paulo VI, em Roma, junto a São Pedro, assinava um dos dois primeiros documentos do Concílio Vaticano II: o Decreto "Inter Mirifica", que se inicia com a seguinte tradução: "entre as admiráveis invenções da técnica..." Há dez anos, ao me pronunciar sobre os 40 anos desse Decreto, eu afirmava que para nós, pessoas da Igreja, "a comunicação é um processo de comunhão, participação, planejamento, acolhida e informação mais do que a utilização dos "meios". Contudo, não podemos ficar alheios às modernas técnicas de comunicação e devemos dominá-las".

Da comemoração dos 40 anos da "Inter Mirifica" ocorrida em Salvador, BA, no 3º. Mutirão Brasileiro de Comunicação já se passa uma década. Quantas maravilhas a humanidade pode contemplar neste período! Quantos passos foram dados pelo "engenho humano" que "rasgaram caminhos novos na comunicação"! Devemos olhar para o tempo sem piscar os olhos por que a tecnologia não para. Para nós, que comemoramos nestes anos o jubileu de ouro do Concílio Vaticano II, este ano nos alegramos em comemorar os seus dois primeiros documentos! A comunicação e seus meios estão entre "as maravilhas do nosso tempo". Pela primeira vez um documento conciliar abre a discussão sobre esse assunto. É um decreto que abriu enormes possibilidades para a Igreja diante desses novos tempos de "mudança de época". Esse decreto é a porta que se abre para essa dimensão e que será aprofundada pelos documentos que se seguirão.

É louvável acompanhar estas evoluções tão rápidas criadas pela inteligência humana em todas as partes do mundo. Diferentes propostas e execuções acontecem a cada momento. Neste exato momento bilhões de palavras, bilhões de pessoas, entre todas as raças, línguas e nacionalidades se relacionam e se comunicam, transferindo conhecimentos e informações em tempo real graças às modernas tecnologias da invenção humana, através da comunicação social em favor das relações interpessoais.

A Igreja Católica também está conectada com esta realidade transformadora das relações humanas. Estas relações acontecem na esfera presencial e virtual. A Igreja faz uso de todas as formas de comunicação para levar o anúncio do Evangelho, mostrar os valores do Reino de Deus e os seus sinais seja na comunicação interpessoal presencial, bem como atingindo milhões de pessoas através dos diversos suportes de comunicação que hoje são utilizados graças à inteligência humana criativa, dom querido e gratuito dado por Deus ao homem.

Celebrar os 50 anos do Decreto "Inter Mirifica" significa muito mais que celebrar a maravilha da existência de tanta tecnologia em favor do anúncio da Palavra de Deus com os meios de comunicação. Pode-se dizer que é, também, celebrar o amanhecer de cada dia de um técnico, de um engenheiro, de um produtor, dos diretores, enfim, de todos os que passam 24h por dia respirando tecnologia para destinar uma mensagem ao mundo, que hoje não possui mais fronteiras. O grande segredo para nós é exatamente o ser humano que produz comunicação e que se utiliza dos meios - quanto melhor formada, quanto mais iluminada pelo evangelho, melhor utilizará para o bem os meios de comunicação social.

Parece impossível para os "adotados digitais" acompanhar tantos lançamentos que o mercado apresenta. Cada dia tem um novo modelo de Smart, de iPad, de iPhone, Tablets, de aparelhos trazendo "High Definition". Para os "nativos digitais" é quase conatural. A cada nova edição ou modelo de meio de comunicação, a cada possibilidade de mídias sociais, os "nativos se sentem "em casa". Porém, tudo isso é "assessório da comunicação" ou tornou-se meio essencial? A discussão entre virtual e presencial ainda é um sério debate que se trava. A discussão antiga sobre o "meio e a mensagem" ainda se trava em nosso dia a dia com os pensadores da comunicação. Fala-se hoje da "nova cultura" gerada por esses novos tempos e tecnologias.

Dentro dessa realidade, a pergunta que fazemos é como anunciar a palavra, como testemunhar Jesus Cristo, como proclamar a verdade em nosso tempo de tanta comunicação e tantos meios possíveis? A virtude do decreto "Inter Mirifica" é justamente abrir essa discussão e suscitar essa reflexão na Igreja. Por isso, um pequeno decreto, no alvorecer dos documentos do Concílio Vaticano II, colocou a Igreja na discussão desse grande fator de mudança da sociedade. Ele suscitou documentos importantíssimos e uma nova postura da instituição com relação ao tema. Além da utilização dos meios de comunicação, o documento suscita ainda a discussão sobre a própria comunicação enquanto tal e abre caminhos para refletir também sobre esse fator na sociedade hodierna.

A Palavra sempre existiu e existirá. Ganhará novos canais de veiculação para chegar ao seu destinatário de forma mais rápida e eficaz. A Palavra é a força motivadora para a criação de novas formas sempre mais rápidas e eficazes para chegar aos olhos e/ou aos ouvidos do receptor. Junto com a Palavra teremos também o exemplo e a vida. No passado a Igreja foi pioneira na utilização dos meios de então: imprensa, rádio, pintura, arquitetura, música e tantas outras manifestações. Por exemplo, na virada para o século XX um jovem italiano, Tiago Alberione, hoje Beato Padre Tiago Alberione, viu que os meios de comunicação poderiam servir para o anúncio do Evangelho. "Já que estas máquinas podem imprimir tantas informações que não constroem o bem, por que não as utilizar para o anúncio da Palavra de Deus? Preciso fazer algo pelo homem do novo século..." pensava ele. E assim se lançou numa missão inovadora e como protagonista daquele tempo, na longínqua cidade de Alba, norte da Itália, colocou a Igreja Católica no pódio das grandes conquistas no mundo das comunicações sociais do século XX.

Além dos meios modernos de comunicação, hoje, também vêm crescendo velozmente as diferentes formas de se expressar. É importante salientar o grande papel que hoje representam as redes sociais em nossa sociedade. Elas são um auditório e ao mesmo tempo o púlpito de todas as formas de manifestações de ideias que se possa imaginar. Desde as construtivas até as maléficas ao desenvolvimento do processo da educação humana em todos os níveis. Sabemos da utilização do tweter por parte do Papa e como crescem o número de seguidores. As mídias sociais estão mudando o mundo atual, convocando as pessoas às ruas e às manifestações. É, portanto, um território livre para todo tipo de manifestação.

É de se pensar: será que já vimos de tudo? Quando isso vai acabar? O que ainda será inventado? Para os que travam no tempo, a incredibilidade é a âncora; estagnaram com medo do novo, do diferente. Muitos dos instrumentos de comunicação que utilizaremos daqui a uma década ainda não estão inventados.

A modernidade cria uma nova geração de intérpretes da realidade, uma geração de cibernautas com ações de habilidades distintas daquelas gerações acostumadas somente com o texto impresso e ainda também somados os da era da imagem televisiva e os espectadores do cinema. Hoje tudo pode ser concentrado num único instrumento com qualidade HD. Manipulamos isto tudo, resgatamos os conteúdos que nos são necessários muitas vezes até sem compreender o processo de tamanha velocidade. E tudo isso cabe em nosso bolso com as novas tecnologias descobertas.

Ao comemorarmos essa grande data dos 50 anos da assinatura do decreto conciliar "Inter Mirifica", vemos com clareza como agiu o Espírito Santo, colocando como um dos dois primeiros documentos conciliares justamente a questão da comunicação. Este tema seria um dos mais importantes para a atualidade que estava se iniciando. Este documento, que criou o "dia mundial das comunicações", estabeleceu coleta para o sustento dos meios e orientou a reorganização do departamento da Igreja na missão da comunicação.

Entre todas as maravilhas do universo estão os meios de comunicação social com suas diferentes formas. A comunicação humana também continuará existindo para sempre com suas diferentes formas. A qualidade de como é utilizada e o bem da humanidade estão dentro de nossas discussões. Nada melhor do que aprofundar esses tempos neste dia da comemoração da assinatura do decreto sobre a comunicação produzido pelo maior evento católico do século XX, o Concílio Vaticano II.

Muito já foi escrito e muita coisa terá que ainda ser, mas precisamos, com a qualidade da comunicação, construir pontes entre os seres humanos que os tornem ainda "pessoas humanas". Num mundo que necessita de paz e fraternidade, comunicação para a comunhão pode ser um desafio proposto para hoje.

Documentos do Concílio Vaticano II (Decretos)

Com o tema "Fraternidade: Igreja e Sociedade" e lema "Eu vim para servir" (cf. Mc 10, 45), a Campanha da Fraternidade (CF) 2015 buscará recordar a vocação e missão de todo o cristão e das comunidades de fé, a partir do diálogo e colaboração entre Igreja e Sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II. Para colaborar nessa reflexão, o A12.com apresenta uma série de artigos de alguns dos documentos conciliares. Neste sábado, 5, apresentamos o último documento da série. Hoje, conheça o decreto que trata sobre a vocação missionária da Igreja.

Ad Gentes - "Para as nações"
O Decreto Conciliar Ad Gentes (Para as Nações) trata da atividade Missionária da Igreja, reconhecendo e reafirmando que a Igreja de Jesus Cristo tem uma natureza missionária, afinal o próprio Jesus assim convocou "Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura!" (Mc 16,15).O documento, dividido em seis capítulos, foi promulgado pelo Papa Paulo VI em 07 de dezembro de 1965.
A Igreja é enviada por Deus a todos os povos como sacramento universal de salvação e deve anunciar o Evangelho a toda humanidade. Em Seu desígnio amoroso Deus nos chama gratuitamente, em Cristo, a participar de sua vida, não somente de modo individual, mas constituindo-nos num Povo congregado na unidade. Esta obra salvífica deve ser anunciada até os confins da terra. A Igreja cumpre sua missão e se realiza "mediante a atividade pela qual, obedecendo ao mandamento de Cristo e movida pela graça e pela caridade do Espírito Santo, ela se torna atual e plenamente presente a todos os homens ou povos para os conduzir à fé, liberdade e paz de Cristo, não só pelo exemplo de vida e pela pregação mas também pelos sacramentos e pelos restantes meios da graça (AG 5) ".
O decreto Ad Gentes também afirma que o principal meio de implantação da Igreja é a pregação do Evangelho, entretanto há situações onde não é possível pregar diretamente o Evangelho, nestes casos os missionários são chamados a testemunhar Cristo por meio da caridade e beneficência para com aqueles a quem foram enviados, até que chegue o momento oportuno para que se faça o Seu anúncio explícito. Há uma abertura para a fé e não aquela imposição que marcou o passado da Igreja. A Igreja, inculturada em sua missão, leva em conta tudo quanto há de bom no coração e no espírito humano, nos ritos e culturas de cada povo, purificando-os pelo Evangelho (AG 9) ".
"A obra missionária em si é urgente nos dias atuais, pois há muitos que ainda não conhecem o Evangelho ou mal ouviram falar dele".
A obra missionária em si é urgente nos dias atuais, pois há muitos que ainda não conhecem o Evangelho ou mal ouviram falar dele. A atividade missionária produz frutos, que possuem etapas próprias: primeiro a adesão a Cristo, que é a conversão inicial, mas que precisa desenvolver-se ao longo de um tempo de catecumenato. Como fruto da ação missionária há também o surgimento de novas comunidades cristãs, cujos membros, renascidos pelo Batismo, integram o único Povo de Deus e participam das funções sacerdotal, profética e real de Cristo. No decreto Ad Gentes fica claro que a Igreja deve respeitar a liberdade religiosa de cada um e jamais fazer proselitismo de modo agressivo ou coagir a liberdade humana.
As Igrejas locais tem carinho especial no decreto Ad Gentes. Elas mesmas, em comunhão com a Igreja universal, devem prover às necessidades da atividade missionária, assim como todas as Igrejas particulares. Elas, pelo testemunho e anúncio, devem sentir-se enviadas por Cristo a todos os que não O conhecem. Nas Igrejas particulares o Bispo exerce um importante papel de pregador da Palavra e missionário que leva as pessoas a Cristo. O Clero e também os leigos devem estar imbuídos de ardor e disponibilidade missionários (AG 20). Sem a presença ativa dos leigos, "o Evangelho não pode gravar-se profundamente nos espíritos, na vida e no trabalho de um povo. Por isso, é necessário desde a fundação da Igreja prestar grande atenção à formação dum laicado cristão amadurecido (AG 21) ".
Em uma de suas partes finais, o decreto AG trata dos missionários, cuja vocação é especial (AG 23): devem desenvolver uma verdadeira espiritualidade missionária de modo que, iluminados e guiados pelo Espírito, se disponham a entregar-se completamente à obra do Evangelho. Mas o documento finaliza mostrando que é preciso uma cooperação de todos na tarefa missionária: "Dado que a Igreja é toda ela missionária, e a obra da evangelização é um dever fundamental do Povo de Deus, o sagrado Concílio exorta todos a uma profunda renovação interior, para que tomem viva consciência das próprias responsabilidades na difusão do Evangelho e assumam a parte que lhes compete na obra missionária junto dos gentios (AG 35) ". 

Documentos do Concílio Vaticano II (constituições)


  • A Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, foi promulgada durante o Concílio Ecumênico Vaticano II, pelo Papa Paulo VI, ao 04 de dezembro de 1963, analisamos que esta Constituição é o ponto de chegada da renovação da Liturgia, começada pelo movimento litúrgico, que a própria Constituição reconhece como "sinal dos desígnios providenciais de Deus sobre o nosso tempo, como uma passagem do Espírito Santo pela sua Igreja" (Sacrosanctum Concilium, 43). Assim sendo, voltar à Sacrosanctum Concilium significa não apenas refletir sobre um documento conciliar, mas também recorrer ao fruto maduro do longo e cansativo caminho que levou a Igreja católica a remontar à nascente da sua Liturgia, para poder "fazer uma atenta reforma geral da mesma Liturgia" (Ibid., n. 21).

    A Sacrosanctum Concilium estrutura-se em sete capítulos, precedidos de um proêmio de caráter geral e concluídos por um apêndice. O documento conciliar contém não apenas alguns princípios doutrinais de grande importância e as linhas fundamentais da renovação litúrgica, mas sim indicações concretas relativas ao desenvolvimento ritual.

    Para compreender esta Constituição conciliar, é necessário conhecer as fontes de que ela hauriu o seu espírito genuíno, ou seja, é necessária a compreensão do mistério cristão, da imagem de comunhão da Igreja, da Liturgia como celebração ritual do mistério salvífico. Com efeito, a Constituição conciliar sobre a Sagrada Liturgia é inteiramente plasmada pelas fontes bíblicas e patrísticas que a inspiraram.

    Na Sacrosanctum Concilium, a Sagrada Escritura foi assumida como norma e juízo: "Para promover a reforma, o progresso e a adaptação da Sagrada Liturgia é necessário, por conseguinte, desenvolver aquele amor suave e vivo da Sagrada Escritura" (Sacrosanctum Concilium, 24). Portanto, existe um vínculo íntimo entre o aprofundamento da Sagrada Escritura e a reforma litúrgica. Já os antigos textos mistagógicos dão testemunho de que o conhecimento da Liturgia não é senão o conhecimento da Escritura. A relação entre Sagrada Escritura e Liturgia foi claramente expresso pela referida Constituição conciliar: "As ações e os sinais litúrgicos haurem o seu sentido da Sagrada Escritura" (cf. ibidem).

    A volta às fontes bíblicas e patrísticas não investe unicamente as formas rituais, mas introduz na compreensão da própria natureza da Liturgia. A Sacrosanctum Concilium não formula em primeiro lugar um conceito de Liturgia, mas indica aquilo que se realiza por intermédio da mesma: "Através da Liturgia realiza-se a obra da nossa redenção" (cf. ibid., n. 2). Portanto, mediante a Liturgia os crentes fazem a experiência do mistério pascal de Cristo na sua integridade. Por conseguinte, a Constituição indica os efeitos da Liturgia que, "ao mesmo tempo que edifica aqueles que são na Igreja o templo santo do Senhor, em morada de Deus no Espírito, até à medida da idade da plenitude de Cristo" (Ibidem).

    Ao lado do conceito-base da Liturgia como autuação da nossa redenção, na perspectiva da grande tradição patrística, a Constituição conciliar apresenta algumas indicações fundamentais, em parte inovadora, para uma melhor compreensão da teologia e do desenvolvimento das celebrações litúrgicas. Entre elas, é preciso observar a unidade indissolúvel entre o movimento descendente da santificação e o movimento ascendente do culto (cf. ibid., nn. 5-7), a centralidade do "paschale mysterium" (cf. ibid., nn. 5-6), a relevância da presença de Jesus Cristo na Igreja e, de maneira especial, na Liturgia: "Christus Ecclesiae suae semper adest, praesertim in actionibus liturgicis" (Ibid., 7). A presença de Jesus Cristo na comunidade que celebra é certamente um dos temas principais da Constituição conciliar sobre a Sagrada Liturgia.

    Da reflexão sobre a natureza e sobre os efeitos da Liturgia, adquire forma a passagem talvez mais conhecida desta Constituição, que se tornou uma verdadeira e própria máxima teológica: "A Liturgia é simultaneamente a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força" (Ibid., 10). Em síntese, para a Sacrosanctum Concilium a finalidade essencial da Igreja consiste em tornar os crentes partícipes do mistério pascal, mistério este que se manifesta e que se realiza de maneira integral quando a Igreja é convocada em assembleia litúrgica, de maneira especial no dia do Senhor, para a celebração eucarística. Os primeiros elementos da eclesiologia do Concílio Ecumênico Vaticano II, proposta sucessivamente na Lumen Gentium, encontram-se já nalguns textos fundamentais da Constituição litúrgica sobre a relação entre Celebração litúrgica e Igreja. Em tais celebrações está "a principal manifestação da Igreja" (Ibid., n. 41) e "elas representam, de algum modo, a Igreja visível estabelecida no mundo inteiro" (Ibid., n. 42; cf. nn. 2 e 5-7).

    Quem lê a Sacrosanctum Concilium com inteligência espiritual, compreende a profunda intuição que a imbui: pela reforma litúrgica conciliar não passa unicamente a renovação dos ritos, mas também a renovação da Igreja na sua integridade. Por isso, na recepção concreta da reforma litúrgica está em jogo não apenas a renovação da Liturgia, mas sobretudo a fidelidade evangélica da Igreja. Somente desta maneira, a lei da oração não será apenas a lei da fé, mas inclusivamente a lei do ser e do agir da Igreja.

    A participação ativa

    Por uma reação excessiva à condição de extrema passividade em que estavam reduzidos os fiéis, na participação na chamada "Missa tridentina", nestas últimas décadas talvez se tenha insistido excessivamente sobre a exteriorização na Liturgia. Afirmou-se a necessidade de exprimir os sentimentos, de manifestar as emoções, na tentativa de conferir à Liturgia um clima sobretudo de festa e de alegria. Contudo, a Liturgia cristã não é a simples soma das emoções de um grupo, e muito menos o receptáculo de sentimentos pessoais e coletivos. Pelo contrário, a Liturgia é tempo e espaço para interiorizar as palavras que nela se escutam e os sons que se ouvem, para se apropriar dos gestos que se cumprem, para assimilar os textos que se recitam e se cantam, para se deixar penetrar pelas imagens que se observam e pelos perfumes que se sentem.

    Em síntese, é necessário um salto de qualidade para chegar ao espírito genuíno da Liturgia.

    Referências:

    MARINI, D. Piero. 40º ANIVERSÁRIO DA PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO "SACROSANCTUM CONCILIUM In:

    https://www.vatican.va/news_services/liturgy/2003/documents/ns_lit_doc_20031204_40-concilium_po.html#top

    L.M.J.

    02/07/2006.

    Leandro Martins de Jesus


Documentos do Concílio Vaticano II  (constituições)


  • OBJETIVOO maior objetivo do Concílio era difundir a Palavra de Deus, em cumprimento ao desejo de Jesus Cristo que anunciou: «Ide pelo mundo inteiro e anuncie a Boa Notícia a toda a Humanidade.» (Mc 16,15) Logo, no Proêmio, destaca-se o objetivo de «propor a genuína doutrina sobre a Revelação Divina e a sua transmissão, para que o mundo inteiro, ouvindo, acredite na mensagem da salvação, acreditando espere, e esperando ame.» (DV 1)
    A estrutura do documento é bastante simples, mas concentra um ensinamento muito profundo e belo. É designada "constituição dogmática" exatamente por tratar de temas de fé. Mais especificamente, aborda a complexa relação entre Escritura e Tradição.A REVELAÇÃOÉ Auto manifestação de Deus que abrange tanto o seu ser como as suas obra e palavras, pois o Deus da Bíblia é uma Pessoa viva. É na Bíblia que conhecemos toda a ação de Deus na História.
    A Revelação é a iniciativa de Deus, conhecer Deus é uma experiência de mistério, é transmissão da Revelação Divina.
    Citações -
    1. Ef 1,3-14 
    2. Rm 8,18-19 
    3. Mt 11,25-27
    4. Jo 15,14-15A SAGRADA TRADIÇÃO-A igreja extrai todo o seu ensinamento da Revelação Divina através da tradição oral que veio dos apóstolos e da tradição escrita, a Bíblia Sagrada.
    A Sagrada Tradição apostólica é um dos pilares da Igreja Católica, e estas tradições fazem crescer a fé do povo de Deus, pois é uma inesgotável fonte de vida. Esta Tradição progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo. Cresce, com efeito, a compreensão tanto das realidades como das palavras transmitidas.O ANTIGO TESTAMENTO-O Antigo Testamento é o caminho de preparação para a vinda de Cristo.
    No Antigo Testamento vemos o temor se destacando, mas a confiança em Deus é o princípio essencial que observamos. 
    Foi no seio do povo hebreu que nasceu a Bíblia (A.T.) Os textos bíblicos do Antigo Testamento começaram a ser escritos a partir do século IX a. C. No decorrer dos séculos foi-se formando a biblioteca sagrada de Israel. E o último livro a ser escrito foi Sabedoria.
    O AT nos revela de maneira sublime os ensinamentos e o mistério de Deus que se deixa conhecer no anúncio profético de seu filho? Jesus Cristo? Que nos seria revelado ao mistério da nossa Salvação.
    Para entendê-lo devemos observar os gêneros literários da época.SAGRADAS ESCRITURASEscritura é toda ela inspirada por Deus, pois os seus autores escreveram por inspiração do Espírito Santo, de modo que, mesmo que cada autor dos livros bíblicos tenha seu estilo e sua visão, o autor final da Escritura é o próprio Deus e a Bíblia é realmente palavra de Deus que nos transmite a verdade para a nossa salvação.
    A Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo
    O povo deve ler a Bíblia, pois é a fonte de sabedoria para a vida e crescimento contínuo na comunidade de Deus.
    A Escritura deve ser a alma da teologia e o estudo permanente dos livros sagrados.NOVO TESTAMENTOCentro da Revelação da pessoa de Jesus Cristo. 
    No Novo Testamento, Jesus Cristo nos apresenta como autor da salvação. Jesus é a palavra revelada de Deus. O Pai envia para a humanidade a Luz.
    A História da Salvação, que conhece a plena revelação em Jesus Cristo, verbo encarnado. É Ele, diz a Dei Verbum, o mediador e a plenitude de toda a revelação.A FÉA fé cristã é uma completa confiança em Cristo, pela qual se realiza a união com o Seu Espírito, havendo a vontade de viver a vida que Ele aprovaria. Não é uma aceitação cega e desarrazoada, mas um sentimento baseado nos fatos da Sua vida, da Sua obra, do Seu Poder e da Sua Palavra
    A fé nos ajuda a entender a Bíblia, é uma certeza que nasce do coração. É ela que nos move, nos faz acreditar na eternidade e é sumamente importante para a aceitação da Revelação, nesse sentido a fé é sinônimo de entrega e obediência a Deus.
    .SAGRADA ESCRITURA NA VIDA DA IGREJAÉ preciso que todos os fiéis tenham acesso à Sagrada Escritura, assim, a palavra de Deus estará ao alcance de todos.
    É importante que os católicos sejam comprometidos com a evangelização, procurem conhecer o mais profundo das escrituras. Na História da Salvação vemos que DEUS é atuante e, se revela na história e através dela. Precisamos manter contato intimo com a palavra de Deus.OS APÓSTOLOSO anúncio deve continuar a ser realizado pelos Apóstolos de Jesus (Mt 28,19-20 e Mc 16,15), isso em vista da salvação de todos. Os apóstolos transmitiram a fé por escrito e oralmente, de modo que, como sucessores, ficaram os bispos que em seu grupo formam o Magistério da Igreja. A relação Sagrada Tradição e Sagrada Escritura é espelho da Igreja missionária.
    Os apóstolos exortam sobre a necessidade de se manter a tradição oral e escrita. A Igreja é depositária dessa fé revelada. E a tradição é dada pelo Espírito Santo à perspectiva de progressão. A Igreja caminha para a plenitude. Os Santos Padres são à base da Tradição que se transforma na práxis da Igreja. Formação do Cânon.A HISTÓRIADo ponto de vista apenas cronológico nota-se uma revelação muito lenta de Deus, pois desde Abraão (1850 a.C) até Jesus no Evangelho muito tempo passou. De qualquer maneira, a DV nos mostra um Deus único, vivo e verdadeiro que quer ser esperado até a plena revelação em seu Filho. Disso tiramos a conclusão de que a revelação de Deus na História é gradual. Primeiro Ele escolhe um povo; segundo, caminha com esse povo; e, por fim se encarna na história desse povo, o qual chamou Povo de DeusIMPORTÂNCIA DA BOA INTERPRETAÇÃO DA PALAVRA-Uma boa Teologia da Revelação vai depender de uma correta interpretação da Palavra de Deus. Na Sagrada Escritura se percebe a verdade e a santidade de Deus. É a linguagem de Deus, escrita de maneira humana. Escolha de um povo (Gn 15,18), Abraão, Moisés e os Profetas. Já há um prenúncio da Salvação e a escolha por um Deus único.
    A Palavra de Deus não pode ser fragmentada, nesse sentido é importante o realce dado pelos Padres Conciliares aos dois Testamentos: primeira e última aliança ? Primeiro e Segundo Testamento. A estrutura do Antigo Testamento prepara, anuncia e simboliza a vinda de Cristo. Há uma pedagogia divina. O Novo Testamento está latente no Antigo Testamento. O AT está patente no NT. Não entendemos a Revelação sem o uso do AT e do NT.Bárbara Araújo Elias
    Curso Teologia-CETE
    Barbacena, 13 de setembro de 2010Referência Bibliográfica-Compêndio do Vaticano II-29ª Edição-Editora Vozes-Ano 2000

Documentos do Concílio Vaticano II (constituições)


Constituição pastoral Gaudium et spes

 A novidade do Concílio Vaticano II vista de dentro e de fora da Igreja Católica

1. As minhas primeiras experiências de descoberta da novidade teológico-eclesial do Concílio passaram pela Constituição sobre a Igreja Lumen Gentium. Recordo que a eclesiologia que estudei em meados dos anos sessenta passaram já não pelo compêndio tradicional pré-conciliar, mas por uma leitura comentada (ainda que bastante fragmentária) do texto da Lumen Gentium. E recordo bem a participação, por esses anos, numa Semana Missionária em Valadares, onde intervieram Boaventura Kloppenburg, perito conciliar que acompanhou os bispos brasileiros, e Maria de Lurdes Pintasilgo: aí percebi de forma muito direta, também a partir da Lumen Gentium, a transformação profunda que estava em curso quanto ao modo de a Igreja se entender a si mesma e, de modo particular, no que respeita ao reconhecimento do lugar dos cristãos leigos.

Foi, no entanto, através da leitura posterior da Gaudium et Spes e na originalidade e frescura do seu estilo que eu progressivamente pude ir intuindo aquilo que, por vezes, se designa como "o espírito do Concílio" e confirmar que estávamos perante uma nova etapa no aprofundamento da identidade da Igreja pela consciência dos caminhos renovados e amplos através dos quais ela se sentia chamada a realizar a sua missão no mundo. Foi também através da Gaudium et Spes que eu percebi verdadeiramente, na sua fundamentação existencial e nas suas consequências concretas, o que significavam a identidade e a responsabilidade laicais na vida da Igreja, de que modo essa identidade e responsabilidade se deveriam explicitar nos mais diversos âmbitos da vida, de que forma um sentido mais apurado do significado da esperança cristã para a transformação humana do mundo dava suporte e orientação a uma autêntica consciência laical.

2. Como é sabido, a Gaudium et Spes foi não só um dos últimos documentos a ser aprovado na aula conciliar como é também o texto do Vaticano II que mostra de forma mais percetível como o próprio acontecimento conciliar foi um processo de receção, desde logo pelo acolhimento da intencionalidade originária de João XXIII, expressa tanto na convocatória como sobretudo no discurso inaugural do Concílio (Gaudet Mater Ecclesia). Mais ainda: a Constituição Pastoral emerge como fruto de uma progressiva gestação no coração e no pensamento dos próprios Padres conciliares e pode ser considerado mesmo o ponto culminante do percurso e da reflexão feito ao longo desses três anos. Diferentemente de todos os outros documentos, é dentro do próprio processo conciliar (Karl Rahner falará mesmo do "princípio de um princípio") que surge a ideia e se tomam opções no sentido da elaboração de um documento deste teor e com este conteúdo, com um formato magisterial específico como veio a ser a Gaudium et Spes (1).

Nela vem, de facto, mais marcadamente ao de cima o estilo pastoral e ecuménico preconizado por João XIII e que se traduziu nalgumas das suas principais intuições e afirmações. Se o estilo pastoral é, em última análise e como maioritariamente se reconhece, o elemento fulcral que contribui para a coerência global do corpus conciliar e se esse estilo pastoral vai amadurecendo e encontrando expressão mais nítida à medida que o Concílio avança, é sem dúvida com a Gaudium et Spes que ele culmina e adquire configuração bem concreta.

Mas o que é que se entende por "estilo pastoral" do Vaticano II? Antes de mais, e traduzindo precisamente a preocupação e razão primeiras da ideia conciliar no pensamento de João XXIII, trata-se do esforço de anunciar o Evangelho de uma forma que seja mais percetível e credível aos homens e mulheres do nosso tempo, assumindo claramente uma consciência histórica sobre o viver humano e a vida eclesial, procurando uma linguagem mais adequada e modos mais evangélicos de proceder, valorizando uma teologia que reconhece o mundo como uma realidade boa à luz de Deus Criador e Salvador, sabendo distinguir as pessoas e sua dignidade dos erros que elas possam cometer. Na inauguração da 2ª sessão, em 29 de setembro de 1963, o Papa Paulo VI vai dizê-lo com algum arrojo, se confrontarmos as suas palavras com algumas mentalidades e modos de proceder dos nossos dias: "Que o mundo saiba: a Igreja olha para ele com profunda compreensão, com sincera admiração e com sincero propósito de não o conquistar, mas de o servir; não de o desprezar, mas de o valorizar; não de o condenar, mas de o confortar e salvar" (2).
Consciente do tesouro da fé que transporta consigo, como João XXIII lembra no discurso inaugural Gaudet Mater Ecclesia, a Igreja não se fixa em si mesma, mas busca novos caminhos para propor a salvação que o Evangelho promete e oferece. Fá-lo, procurando, por um lado, refontalizar-se no Evangelho e na grande Tradição (que é preciso distinguir das pequenas tradições...) e, por outro lado, redefinindo a sua atitude face ao mundo contemporâneo numa linha de proximidade solidária. Ao reler hoje o Proémio da Gaudium et Spes, não se pode deixar de sentir alguma emoção, sobretudo quando se percebe a existência de velhos e novos clericalismos de mentalidade e de prática, velhos e novos eclesiocentrismos teóricos e práticos, velhas e novas espiritualidades desfasadas da realidade. Lê-se aí:

- "não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco" no coração dos discípulos de Cristo" (nº 1);

- "a Igreja sente-se real e intimamente ligada ao género humano e à sua história" (nº 2);

- o Concílio Vaticano II não hesita em dirigir a sua palavra, "não já apenas aos filhos da Igreja e a quantos invocam o nome de Cristo, mas a todos os homens" (nº 2);

- o Concílio "não pode manifestar mais eloquentemente a sua solidariedade, respeito e amor para com a inteira família humana", na qual o Povo de Deus está inserido (nº 3);

- "Nenhuma ambição terrena move a Igreja, mas unicamente este objetivo: continuar, sob a direção do Espírito Santo, a obra de Cristo que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, para salvar e não para julgar, para servir e não para ser servido" (nº 3).

O Vaticano II significou - e isso transparece, de modo singular, na Gaudium et Spes - uma nova determinação pastoral de lugar para uma Igreja que tomou consciência do seu caráter mundial. Com o Concílio, emerge um novo lugar de identificação para a Igreja e seus membros face à totalidade da humanidade, a Igreja volta a perguntar-se com nova sensibilidade pelas condições da sua catolicidade e reaprende a definir a sua identidade sem exclusão de pessoas, mesmo aquelas que se situam fora do seu espaço ou reagem contra ela (3). Nesta atitude pastoral face ao tempo presente a Igreja - lê-se em GS 91 - pretende apenas "ajudar todos os homens do nosso tempo, quer acreditem em Deus, quer não O conheçam explicitamente, a que, conhecendo mais claramente a sua vocação integral, tornem o mundo mais conforme à sublime dignidade do homem [...]".

3. Não se pode ignorar que a Gaudium et Spes foi não só um documento de complexa elaboração no decurso do Concílio como é (e continua a ser) objeto de alguma polémica e conflito de interpretações, envolvida como está na atitude global que se toma relativamente ao significado do Vaticano II e sua doutrina. Muitos recearam (receiam) que a Igreja tenha perdido algo da sua identidade ou, pelo menos, algo do equilíbrio de distância que deve manter face ao mundo para preservar a autenticidade da sua missão.

Dois exemplos, provenientes de dois grandes teólogos do século XX, ainda que bem diferentes na visão que transmitem, podem ilustrar o que acabo de dizer. Numa opinião expressa nos anos setenta, Hans Urs Von Balthasar considerava que o Concílio Vaticano II foi "demasiado prolixo" e acrescentava: "Encontram-se nele muitos elementos díspares, muito numerosas repetições, uma quantidade de coisas divergentes, algumas magníficas; mas há também diletantismo, nomeadamente na Gaudium et spes. Que é que pode, pois, ser sujeito a receção? Eu penso que o que é verdadeiramente fundamental, o que se impõe, por exemplo a Dei Verbum, foi recebido pela teologia, do mesmo modo que o essencial da Lumen gentium" (4). Já Y. Congar, não escondendo o caminho que teve de percorrer para entender a metodologia seguida pela Gaudium et Spes, pronunciou-se numa perspetiva diferente, ao comentar o título programático do documento: "... tenho que confessar que eu, ao princípio, reagi contra este título, em termos das noções estabelecidas e clássicas da criteriologia teológica. Não me entusiasmava. Era uma novidade. Agora sou mais capaz de ver a sua justificação e a sua importância. A razão fundamentava-se em que se propunha uma doutrina nuns termos para os quais resultava inadequado o método clássico da teologia. Em assuntos dogmáticos e, também, em grande parte em assuntos éticos e sociais, a nossa teologia procede ordinariamente por dedução. Aplicamos uns princípios estabelecidos com a atenção posta num firme dado doutrinal. Mas quando o Vaticano II se pôs a falar da Igreja no mundo de hoje, deu-se conta de que o ponto de partida devia ser um conjunto de factos. Daí que o indicado fora um método investigador, descritivo e indutivo" (5).
A Gaudium et Spes - e aqui está um elemento de importante novidade teológica - tem, realmente, como eixo fundamental uma releitura teologal da experiência humana e do caminho histórico da humanidade, a partir da convicção crente de que - como se lê no nº 38 - em Jesus Cristo se revela ao homem o sentido último da sua realização pessoal e do seu viver na história. O acontecimento Jesus dá aos que acreditam no amor de Deus "a certeza de que o caminho do amor está aberto para todos e que o esforço por estabelecer a universal fraternidade não é vão". À luz do Mistério da Encarnação, a experiência e a história humanas são vistos como lugares irrecusáveis onde se tece o possível encontro com o Mistério de Deus e os sonhos possíveis de uma humanidade nova.

4. É este núcleo de uma perceção mais aguda da relação da fé cristã com a história humana como lugar de descoberta de Deus e como espaço onde ressoa uma proposta de humanização à luz do mesmo Deus que estrutura a Gaudium et Spes e deixa transparecer o seu enorme significado. A relação da visão cristã com a realidade histórica da vida exprime-se, por exemplo, na exigência da leitura dos "sinais dos tempos" ou no reconhecimento de que se está perante uma "nova era da história do género humano" (GS 4). Na mesma ordem de ideias e assumindo uma afirmação de João XXIII no discurso inaugural do Concílio, emerge - e isto como expressão do referido "estilo pastoral" - o sentido da historicidade do caminhar da fé, relevando-se a necessidade de distinguir entre o depósito da fé ou as suas verdades e o modo como elas se enunciam (GS 62; cf. GS 44), em ordem a encontrar, tanto na reflexão teológica como na linguagem eclesial, formas mais adequadas de comunicar a mensagem cristã. Apela-se, por outro lado, à experiência vivida dos cristãos na complexidade do mundo de que fazem parte (GS 53), convidando-os ao mesmo tempo a que vivam "em estreita união com os demais homens do seu tempo e procurem compreender perfeitamente o seu modo de pensar e sentir, qual se exprime pela cultura" (GS 62). Verifica-se, pois, que "a Igreja atravessa uma fronteira decisiva no momento em que dá, pela primeira vez, um sentido propriamente teológico à autonomia da história". Propõe-se, logo a partir da Gaudet Mater Ecclesia, "uma leitura 'sapiencial' da história humana" e presta-se atenção "à capacidade de aprendizagem dos humanos", sem, com isso, batizar ingenuamente a modernidade ou ignorar também os seus "efeitos perversos" (cf. GS nºs 8 e 10). Ao mesmo tempo manifesta-se uma compreensão "mais modesta do papel da Igreja, que, ela também, se coloca doravante numa postura de aprendizagem" (6).

5. Nuclearmente, tudo se centra, ontem como hoje, no modo como a Igreja vê a sua relação com o mundo contemporâneo e seus contornos sociais e culturais, com a história humana e suas evoluções. Sublinho, em síntese exemplificativa e apesar de bem conhecidos, seis aspetos expressivos da nova atitude da Igreja que a Gaudium et Spes sinaliza:

a) Afirma-se uma visão positiva das realidades do mundo criado por Deus na sua bondade e no seu amor e confiado às mãos dos seres humanos e sua liberdade (o mundo deixa de ser sobretudo "lugar de perdição", um dos "inimigos da alma" como se formulava na catequese tradicional).

b) A Igreja não só ensina mas também recebe do mundo, ela não ignora quanto recebeu da história e a evolução do género humano (GS 44), pelo que é interpelada a ir ao encontro das culturas contemporâneas, em ordem a escutar as questões dos homens e mulheres de hoje.

c) Importa reconhecer a legítima autonomia das realidades terrestres, acolhendo-as na sua consistência, verdade, bondade e leis próprias (GS 36) e sabendo respeitar e fomentar a liberdade e responsabilidade que daí decorrem.

d) É fundamental acolher a justa liberdade e a legítima autonomia de que a cultura necessita para se desenvolver (GS 56 e 59), ela que não existe simplesmente em função da Igreja e seus critérios de avaliação.

e) Há que afirmar a importância de uma sã, legítima e indispensável liberdade, tendo por núcleo inalienável a liberdade de consciência (GS 16) e devendo concretizar-se nos mais diversos âmbitos (GS 59 e 62).

f) Em tudo tem de prevalecer o sentido da dignidade da pessoa humana, do seu desenvolvimento harmónico e integral (GS 56), dos seus direitos inalienáveis, entre eles o direito à cultura (GS 59 e 60).

6. Entre as críticas mais frequentemente formuladas à Gaudium et Spes, sobressaem duas: o seu excessivo otimismo e a abordagem de questões marcadas pelo tempo e que, de certa forma, já não são bem as nossas.

É verdade que a Gaudium et Spes partilha de um certo otimismo ambiental, cultural, que esteve presente em muitas das expectativas dos anos sessenta. Mas vistas bem as coisas, creio que, ressalvadas sempre uma ou outra leituras demasiado situada no tempo, esse tom de otimismo não só não é um "otimismo fácil" como se apresenta até com um fundado enraizamento cristão. Por um lado, é esse otimismo que permite avaliar de forma mais justa as realidades humanas, valorizando-as e abrindo também o caminho às indispensáveis interpelações e denúncias; por outro lado, há na mensagem cristã um esperança radical, que não ilude a opacidade e a negatividade real do mundo, a liberdade humana falhada, a desumanidade de que nós, os humanos, somos capazes, mas engloba tudo (não disse: explica ou justifica tudo!) na grande esperança que é traço basilar da fé no Deus de Jesus Cristo, presente na história e no coração das pessoas pelo seu Espírito.

Por outro lado, Gaudium et Spes não se apresenta com a pretensão de ser imune aos limites do tempo e da história. Isso quer dizer também que, há 50 anos, a sensibilidade cultural da humanidade e a visão dos problemas era certamente marcada por experiências e parâmetros que não são exatamente os de hoje (chamemos-me, por exemplo, os problemas da "modernidade" em confronto com os problemas da "pós-modernidade" ou da "ultra ou hipermodernidade").

Mas, não obstante isso, há uma alegria e uma esperança para nós, ao reler hoje a Gaudium et Spes, não porque lá encontremos as respostas feitas a todos os nossos problemas e questões, como se estivéssemos diante de um texto fechado que só importaria tentar aplicar. Há uma alegria e uma esperança para nós porque:

- temos no Concílio e de modo particular na Gaudium et Spes uma referência fundamental irrecusável que, como sinal da presença do Espírito no nosso tempo, nos interpela antes de mais sobre o modo como somos chamados a entender o ser cristão hoje, o nosso próprio modo de nos situar-nos hoje na Igreja e no mundo;

- temos no Concílio e de modo particular na Gaudium et Spes um "estilo pastoral", marcado pela preocupação de a Igreja procurar ser mais fiel ao Mistério de Deus em que acredita e aos seres humanos a quem, pela sua identidade e missão, é chamada a servir;

- porque temos no Concílio e de modo particular na Gaudium et Spes uma atitude dialogal que nos interpela a continuarmos esse diálogo no nosso tempo e nas nossas circunstâncias culturais, como único caminho pelo qual a verdadeira e definitiva humanidade que nos foi dado encontrar em Jesus pode interpelar cada homem e cada mulher vindos a este mundo.

Esta estrutura dialogal da Gaudium et Spes dá-lhe um traço de perenidade: no espaço eclesial, lembra a necessidade constante de um diálogo sincero, dentro dos parâmetros: "unidade no necessário, liberdade no que é duvidoso, e em tudo caridade"; para fora, esse desejo de diálogo é guiado apenas pelo amor pela verdade e não exclui ninguém (GS 92). No fundo é essa herança de diálogo, na abertura a Deus e no amor aos seres humanos, que, 50 anos depois, nos é confiada, exigindo certamente um trabalho constante de discernimento, mas também e sobretudo um compromisso solidário na alegria e na esperança que continuamos a poder descobrir no Evangelho de Jesus.


Constituição Dogmática Lumen Gentium


Novo modo de ser Igreja

Ao convocar o Concílio Vaticano II, o Papa João XXIII tinha um objectivo bastante claro: aggiornamento, actualização da Igreja diante das questões postas pela sociedade da época. Os trabalhos e documentos deveriam seguir esta linha, mas ao final da primeira sessão nenhum dos 72 documentos propostos tinha sido aprovado. João XXIII morreu meses depois, em 3 de Junho de 1963. Paulo VI sucedeu-o e retomou os trabalhos conciliares sob uma nova perspectiva. Meses antes, Paulo VI, na época Cardeal Montini, tinha-se pronunciado, afirmando que o Concílio deveria ocupar-se de um único problema: «a Igreja», isto é, reflectir sobre a essência da Igreja. Este seria o novo caminho a seguir.

Do projecto inicial de 72 documentos passa-se para 16, deixando aspectos secundários para intervenções futuras do Papa e das Congregações Pontifícias. A constituição sobre a Igreja - Lumen Gentium - torna-se como que o tronco do Concílio e representa, no campo da eclesiologia, uma autêntica revolução. Surge um novo modo de ser e de compreender a Igreja. De um modelo de Igreja como sociedade perfeita passa-se agora a uma pluralidade de imagens, complementares entre si e orientadas pela perspectiva do mistério e da Trindade.

Ao contrário da constituição Sacrosantum Concilium, houve longa discussão sobre o texto original, sendo feitas cerca de quatro mil emendas. O documento final, votado apenas após cada um dos capítulos ser aprovado individualmente, foi promulgado a 21 de Novembro de 1964, após receber 2151 votos a favor e apenas cinco contra. É composto por oito capítulos, onde se descreve diferentes aspectos da Igreja.

No primeiro capítulo somos introduzidos no «mistério da Igreja»: a Igreja é o reino já presente em mistério e cresce pelo poder de Deus; «é o povo congregado na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo» (LG 4). Resgata-se uma série de imagens que desde as origens do cristianismo representaram a Igreja: rebanho, lavoura de Deus, edifício, Jerusalém do alto, templo do Espírito e corpo de Cristo com diferentes membros, guiados pela única cabeça: Cristo, que é a Luz dos Povos.

Enquanto o primeiro capítulo considera o corpo eclesial a partir do mistério trinitário, o segundo apresenta o seu desenvolvimento histórico. O novo povo de Deus, uno e universal, é formado por todos os que crêem. Na nova aliança, todos são chamados a ir e baptizar, segundo a ordem de Cristo em Mt 28,18-20, constituindo assim uma Igreja missionária.

O terceiro e o quarto capítulos descrevem a estrutura orgânica da Igreja. Todos os baptizados, fiéis ou pastores, têm a mesma vocação fundamental e são associados à mesma missão. Primeiramente fala-se da constituição hierárquica da Igreja, especificando a função dos bispos (pregar o Evangelho, governar e santificar o rebanho), presbíteros e diáconos, que estão ao serviço do povo de Deus. A seguir trata dos leigos, aos quais «compete por vocação procurar o Reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus» (LG 31). Os leigos, cada vez mais valorizados, são chamados à santidade a partir da sua vida de inserção no mundo. Para tal é sempre actual a necessidade de se investir na formação e na participaçãodos leigos na vida eclesial.

O Concílio pede que entre pastores e fiéis haja uma «comunidade de relações» e um mútuo apoio, pois todos são «chamados à santidade». Este é o tema do quinto e do sexto capítulos. A missão essencial da Igreja é a santificação: a Igreja é santa e todos na Igreja são chamados à santidade. No coração desta vocação comum a todos situa-se a vida consagrada. O Concílio assinala os conselhos evangélicos como dom divino, consagração ao serviço de Deus. Nos próximos meses retomaremos a reflexão sobre os religiosos, os leigos e o clero ao tratar de outros documentos conciliares específicos sobre cada um destes temas.

Nos dois últimos capítulos da Lumen Gentium há a descrição do desenvolvimento escatológico da Igreja e o papel de Maria nesta caminhada, no mistério de Cristo e da Igreja. A Igreja peregrina está em união com a Igreja celeste e só será consumada na glória celeste (LG 48).

Segundo destacou o professor M. Costa Santos, «a ordem dos três primeiros capítulos mostra a «mudança coperniciana» gerada pelo Concílio. O conceito povo de Deus, após o mistério da Igreja, indica que o povo de Deus não surge por iniciativa dos homens, mas do plano de Deus Pai. O povo de Deus, antes constituição hierárquica da Igreja e dos leigos, mostra que a comunidade eclesial e a vocação comum são prioritários face à diversidade de ministérios e vocações; a realidade primeira é o "nós eclesial" em que a unidade precede a diferença. A constituição hierárquica, após o povo de Deus, mostra que os ministérios estão ao serviço do corpo eclesial como mistério, a partir de Cristo».

Este é provavelmente o documento mais importante do Concílio Vaticano II, pois fez a Igreja reflectir sobre a sua essência, sobre a sua origem e constituição interna. A sua redescoberta como mistério marca este retorno às origens ao mesmo tempo que se abre a todas as novidades trazidas pelos novos tempos. A conscientização da Igreja como mistério ligado ao mistério de Cristo e não como sociedade deu um novo rumo e apontou caminhos interessantes que infelizmente não foram bem explorados ao longo destes 45 anos. Há muito a ser feito. Como recorda a professora Manuela Carvalho: «A Lumen Gentium ainda não é vivida nem aplicada [...] Alguns pontos desta constituição foram vistos, como a questão da colegialidade e do episcopado, mas o fundamento, a raiz da própria Igreja, é mais difícil. Exige muito da vida cristã.» Isso significa que a Igreja ainda tem muito trabalho pela frente, pois «a Igreja, num processo iniciado pelo Concílio e jamais conclusivo, deverá ser, sempre mais, sinal da "união com Deus e da unidade do género humano". Desta unidade, a Igreja é testemunha, que torna presente (visível) o Ausente (invisível)», como afirma o professor Costa Santos.

No próximo mês, a nossa viagem continua e veremos como todas estas mudanças se reflectem no modo de ler e interpretar as Sagradas Escrituras, com a análise da constituição dogmática Dei Verbum - sobre a Revelação.

Por: Ir. Darlei Zanon ' Família Cristã ' www.familiacrista.com

Concílio Vaticano II: origem e documentos


Papa João XXIII                                           Papa Paulo VI                              João XXIII na abertura do Vaticano II (Hank Walker)

Concílio Vaticano II: origem e documentos

O II Concílio do Vaticano foi convocado pelo papa João XXIII e celebrado sob o seu pontificado e do de Paulo VI entre 1962 e 1965, ao longo de quatro sessões, aproximadamente uma por ano, em geral de outubro a dezembro.

Foi o concílio ecuménico mais representativo dos 21 da história da Igreja, com a participação de mais de dois mil bispos do mundo.

Por vontade expressa de João XXIII foi um concílio pastoral, isto é, não foi dedicado a condenar erros mas a procurar a atualização da doutrina da Igreja face à sociedade contemporânea.

Do encontro resultaram 16 documentos, que se agrupam desta forma: quatro constituições (os de maior importância), nove decretos e três declarações:

- Constituição sobre a sagrada liturgia ("Sacrosanctum Concilium" (SC), 4.12.1963);

- Constituição dogmática sobra a Igreja ("Lumen gentium" (LG), 21.11.1964);
- Constituição dogmática sobre a revelação divina ("Dei Verbum" (DV), 18.11.1965);
- Constituição pastoral sobre a Igreja no mundo atual ("Gaudium et spes" (GS), 7.12.1965);

- Decreto sobre os meios de comunicação social ("Inter mirifica" (IM), 4.12.1963);
- Decreto sobre as Igrejas Católicas orientais ("Orientalium Ecclesiarium" (OE), 21.11.1964);
- Decreto sobre o ecumenismo ("Unitatis redintegratio" (UR), 21.11.1964);
- Decreto sobre o ministério pastoral dos bispos ("Christus Dominus" (CD), 28.10.1965);
- Decreto sobre a formação sacerdotal ("Optatam totius" (OT), 28.10.1965);
- Decreto sobre a conveniente renovação da vida religiosa ("Perfectae caritatis" (PC), 28.10.1965);
- Decreto sobre o apostolado dos leigos ("Apostolicam actuositatem" (AA), 18.11.1965);
- Decreto sobre a atividade missionária da Igreja ("Ad gentes" (AG), 7.12.1965);
- Decreto sobre o ministério e vida dos padres ("Presbyterorum Ordinis" (PO), 7.12.1965);

- Declaração sobre a educação cristã ("Gravissimum educationis" (GE), 28.10.1965);
- Declaração sobre as relações da Igreja com as religiões não cristãs ("Nostra aetate" (NA), 28.10.1965);
- Declaração sobre a liberdade religiosa ("Dignitatis humanae" (DH), 7.12.1965).

João XXIII (1881-1963) participou na primeira sessão conciliar e Paulo VI (1897-1978) presidiu às restantes.

Porquê ecuménico?


Um Concílio é uma reunião do Colégio Episcopal (o Papa e os bispos), com a possível participação de outras pessoas (membros da hierarquia, leigos e membros ouvintes de outras confissões cristãs) para tratar das questões pertinentes à Igreja. O termo "ecumênico" quer significar que as decisões tomadas no Concílio dizem respeito às igrejas espalhadas por toda terra. Assim, "ecumênico" quer significar universal. Um Concílio participa do magistério extraordinário e goza da mesma força da infalibilidade papal. 

Videos sobre o Concílio Vaticano II

Um prático resumo sobre o que foi o Concílio Vaticano II

50 anos do Concílio Vaticano II

CONCILIO VATICANO II DOCUMENTOS  


CONCILIO VATICANO II

Missa antes e depois do Concílio Vaticano II 

Papa Bento XVI - O Concilio Vaticano II tal como eu o vivi

Em que é que o Vaticano II mudou a Igreja?

"Quero uma Igreja pobre para os pobres." Essa foi uma frase que marcou o início do pontificado do Papa Francisco, eleito em março do ano passado. Curiosamente, a mesma frase foi dita por São João XXIII, antes de convocar o Concílio Vaticano II, que está completando 50 anos. 

Em 1958, a Igreja sofria pela morte de Pio XII, que havia tido uma atuação importantíssima, sobretudo no pós-Segunda Guerra Mundial. Escolheram o cardeal Ângelo Roncale, já idoso e experiente o bastante para realizar um papado de transição. Porém João XXIII surpreendeu a todos, convocando o Concílio e dando início a uma grande revolução no seio da Igreja.

Segundo o autor do livro As Janelas do Vaticano II - A Igreja em diálogo com o mundo (Ed. Santuário), o teólogo João Carlos de Almeida, SCJ, o pontificado de João XXIII foi breve, mas intenso. "Ele teve a coragem de convocar o Concílio Vaticano II, colocando a Igreja no coração do povo. Depois, as teses reformistas do Concílio foram aprofundadas por seu sucessor, Paulo VI", argumenta. Para padre Joãozinho, o Concílio foi tão revolucionário que até hoje, 50 anos depois, ainda precisa ser compreendido. "O Papa Francisco diz que as reformas do Concílio ainda não foram totalmente assimiladas. Já Bento XVI afirma que existe um concílio virtual, que ficou famoso na mídia, e o Concílio real, que ainda precisa ser aplicado", cita.

De acordo com o padre Ronaldo Mazula, cmf, as mudanças sociais, culturais, políticas e religiosas ocorridas nos séculos XIX e XX foram alguns dos principais motivos para a convocação do Concílio. "Eram necessárias uma renovação e adaptação da Igreja Católica às chamadas questões modernas", afirma.

A primeira sessão do concílio começou no dia 11 de outubro de 1962, encontrando ainda algumas resistências. Menos de um ano depois, a morte de João XXIII gerou um momento de crise. O Papa Paulo VI deu continuidade ao concílio, que teve mais três sessões e durou até 1965.

O Concílio produziu quatro constituições, oito decretos e três declarações. Entre os documentos conciliares mais famosos estão Lumen Gentium (sobre a identidade e missão da Igreja), Dei Verbum (sobre a Revelação Divina), Gaudium et Spes (sobre a Igreja no mundo), Sacrosanctum Concilium (sobre Liturgia), Unitatis Redintegratio (ecumenismo e diálogo cristão), Ad Gentes (missão da Igreja) e Inter Mirifica (sobre os Meios de Comunicação Social).

Tempo de mudanças

Segundo o padre Mazula, após o Vaticano II, surgiu uma Igreja com maior participação dos leigos na ação eclesial e maior presença nas questões sociais. "Valorizou-se mais a opção religiosa pessoal, fortaleceram-se as novas teologias. Após a fase dos totalitarismos, da II Guerra Mundial e com as frustrações do predomínio do racionalismo, surgiu uma renovada espiritualidade com vários movimentos", explica.

A reforma gerou uma Igreja mais plural e inculturada, mas não livre de problemas. Dificuldades de diálogo interno, além de processos de clericalização e de resistência às propostas de abertura do Vaticano II. Alguns teólogos acusam o Papa João Paulo II de ter ajudado a conter o avanço das transformações geradas pelo Concílio. Padre Joãozinho discorda. "A principal premissa do Concílio é o diálogo da Igreja com o mundo. João Paulo II pegou um mundo em conflito, dividido entre socialistas e capitalistas, e protagonizou uma comunhão internacional", defende.

Na opinião dele, muitos interpretaram o Concílio de um modo relativista. "Houve muita coisa boa, mas alguns valores foram banalizados. Por exemplo: muita gente imaginou que o canto gregoriano não faria mais sentido. Porém, João Paulo II escreveu um documento, mostrando que o patrimônio musical da Igreja não pode ser jogado fora. Bento XVI também diz isso. E quem imagina que Francisco vai banalizar a liturgia está muito enganado", afirma.

Diante dos desafios gerados pela nova realidade, os sínodos dos bispos trataram de vários temas. Entre eles, justiça, sacerdócio ministerial, evangelização, catequese, penitência e reconciliação, família, vida religiosa, palavra de deus e eucaristia.

Segundo Ronaldo Mazula, na América Latina e no Brasil as mudanças do Concílio aconteceram com radicalidade. "Surgiu uma Igreja mais missionária, a Teologia da Libertação, a opção preferencial pelos pobres, as CEBs. As pastorais específicas foram fortalecidas nas assembleias da Conferência Episcopal da América Latina e do Caribe (Celam) em Medellín (1967) e Puebla (1979). Propagaram-se inúmeros movimentos, como os Cursilhos, o Movimento Familiar Cristão (MFC), o Treinamento de Liderança Cristã (TLC), a Renovação Carismática Católica (RCC), o Neocatecumenato, Focolares, Equipes de Nossa Senhora, etc. Naquele período também floresceram as religiões pentecostais, neopentecostais e os cultos afro-brasileiros", relata.

O padre Mazula ressalta ainda que, entre 1960 e 1990, cresceu o número dos mártires latino-americanos: Dom Oscar Romero, Dom Enrique Angelelli, Pe. João Bosco Penido Burnier, Pe. Jósimo Tavares, Pe. Ezequiel Ramin, Irmã Doroty Stang, entre outros.

Vaticano III?

Assim como há 50 anos, este início de milênio traz inúmero desafios, como as mudanças político-sociais, a hegemonia de um modelo econômico excludente que gera o crescimento da pobreza em escala mundial, a crise de fé, o relativismo religioso, a questão ambiental, entre outros.

Internamente, os desafios não são menores: o diálogo com a modernidade e a pós-modernidade, a inculturação, a formação do clero, as missões urbana, rural e além-fronteiras; a descentralização eclesial e a valorização dos leigos, da mulher e dos ministérios; a opção concreta e mais eficiente pelos pobres; a desinstitucionalização da fé; a inclusão de grupos discriminados. Diante dessa realidade, a Igreja deve lutar pela continuidade das propostas do Concílio Vaticano II ou deve convocar de um novo concílio ecumênico?

"Ano passado ocorreu a renúncia do Papa Bento XVI, provocada por problemas internos da Igreja, e foi eleito Francisco. Surge um novo sopro do Espírito Santo e a esperança de renovação com uma Igreja mais humilde, pobre e sensível aos grandes problemas mundiais. Nesse contexto alguns falam da convocação de um novo concílio. Quem sabe o Vaticano III. A história o dirá", questiona o padre Mazula.

Gaudium et spes, síntese da inovação conciliar 

Muitos teólogos acreditam que a constituição Gaudium et spes (GS) é o documento que melhor expressa o espírito do Concílio Vaticano II. Um deles é o padre espanhol Marciano Vidal, C.Ss.R. Para ele, na GS se manifestam concretamente, com clareza, os traços do Concílio.

Segundo Vidal, uma das principais características do Vaticano II é a pastoralidade, que ele define como sendo a compreensão e o exercício da teologia com o objetivo de transformar salvificamente a realidade concreta, sem a preocupação direta de propor dogmas.

"É a adaptação da mensagem cristã à realidade atual, sem deixar que perca o sentido original e até mesmo abrindo o horizonte dos destinatários da mensagem conciliar a todas as pessoas, mesmo que não creiam no Cristo", explica.

Na opinião do padre, tanto enquanto gênero literário quanto em termo de conteúdo, a Gaudium et spes é algo novo na história dos concílios. "Essa constituição conciliar expressa, de forma eminente, o tom de novidade, desconhecido antes, que João Paulo II atribuiu aos documentos do Vaticano II", afirma.

Mudança de visão

Na opinão de Marciano Vidal, a relação do Cristianismo com o mundo, especialmente em determinadas épocas, foi marcada por atitudes negativas. Por exemplo, na concepção do mundo como inimigo dos valores do espírito, o mundo enquanto oponente e, em determinados casos, como adversário do cristão, que deveria fugir do mundo.

"João XXIII já havia advertido, na encíclica Mater et Magistra, de 1961: 'ninguém deve, portanto, enganar-se, imaginando uma contradição entre duas coisas perfeitamente compatíveis, isto é, a perfeição pessoal própria e a presença ativa no mundo, como se, para alcançar a perfeição cristã fosse necessário apartar-se necessariamente de toda atividade terrena, ou como se fosse impossível dedicar-se aos negócios temporais sem comprometer a própria dignidade de homem e de cristão'", cita.

Para Vidal, é o Concilio Vaticano II, sobretudo na GS, que sela uma nova orientação da Igreja com respeito ao mundo: o diálogo. "Esta palavra adquiriu carta de cidadania católica no pontificado de João XXIII. Foi assumida e enriquecida por Paulo VI. "Muitas vezes não se tem em conta a importância da primeira encíclica do Papa Montini, Ecclesiam suam (1964), sobre o diálogo, apoiando a mudança de orientação na relação da Igreja com o mundo", argumenta.

Relação em dois tempos

De acordo com a análise do teólogo, o coração da GS é a relação da Igreja com o mundo. Esse tema, segundo ele, é desenvolvido ao longo de todos os capítulos, como se fosse o tema de uma sinfonia.

Contudo, Vidal aponta o capítulo quatro da primeira parte, intitulado Função da Igreja no mundo atual. Esse capítulo, segundo ele, concentra de forma especial essa orientação para o diálogo. "Depois de afirmar a relação mútua entre a Igreja e o mundo, esse relacionamento é desenvolvido em dois tempos complementares: O que a Igreja pode dar ao mundo e O que a Igreja pode receber do mundo", reflete.

Vidal divide as contribuições da Igreja para o mundo em três eixos: o sentido e a dignidade de cada homem; o bem da sociedade humana, em suas variadas formas e em suas diversas instituições e a atividade benéfica dos cristãos, sejam leigos ou clérigos.

Aspectos inovadores

Vidal explica que o desenvolvimento do segundo tempo - O que a Igreja recebe do mundo - é mais breve. Porém, segundo ele, o conteúdo é mais denso. Para ele, só o fato do documento formular esse tema já representa uma inovação do Concílio Vaticano II. "Destaco a afirmação geral, que diz: 'da mesma maneira que interessa ao mundo reconhecer a Igreja como realidade social e fermento da história, também a própria Igreja sabe o quanto tem recebido da história e da evolução da humanidade', cita.

Vidal destaca ainda a inculturação do Evangelho, que foi assumida como regra de toda evangelização, o discernimento das novas linguagens e a adaptação das estruturas da Igreja aos nossos tempos. "Não se pode deixar de reconhecer que a constituição Gaudium et spes marcou um giro na compreensão da relação da Igreja com o mundo. Basta tomar nota dessa declaração de intenções que aparece no começo do documento: 'A Igreja quer assemelhar-se a Cristo e ser testemunha da verdade, salvadora da humanidade, servidora do homem'", conclui.

Cronologia do Vaticano II

25/01/1959 - João XXIII anuncia a intenção de convocar um concílio

25/12/ 1961 - Convocação do Concílio, através da bula papal Humanae salutis

11/10/1962 - Primeira Sessão - Início do Concílio Vaticano II

13/10/1962 - Primeira Congregação Geral

20/10/1962 - Discussão do esquema sobre liturgia

03/061963 - Morre o Papa João XXIII

21/06/1963 - Paulo VI é eleito Papa e anuncia a intenção de retomar o Concílio

29/09/1963 - Segunda Sessão

04/12/1963 - Publicação da Constituição Sacrosanctum Concilium, sobre a Liturgia

14/09/1964 - Terceira Sessão

06/10/1964 - Discussão sobre Apostolado dos Leigos

11/10/1964 - Publicação da Constituição Lumen Gentium, sobre a Igreja

21/11/1964 - Publicação dos decretos Orientalium Eclesiarum, sobre Igrejas orientais católicas, e Unitatis Reintegratio, sobre o ecumenismo

14/09/1965 - Quarta Sessão

15/09/1965 - Discussão sobre Liberdade Religiosa

21/09/1965 - Discussão sobre Igreja no Mundo

28/10/1965 - Publicação das declarações Gravissimum Educationis, sobre Educação Cristã, Nostra Aetate, sobre Igreja e religiões não cristãs

28/10/1965 - Publicação dos decretos Optatam Totius, sobre a formação sacerdotal, Christus Dominus, sobre o múnus pastoral dos bispos, Perfectae Caritatis, sobre a renovação da vida religiosa

18/11/1965 - Publicação do decreto Apostolicam Actuositatem, sobre o apostolado dos leigos, e da Constituição Dei Verbum, sobre a Revelação Divina

07/12/1965 - Publicação dos decretos Presbiterorum Ordinis, sobre o ministério e a vida dos sacerdotes, Ad Gentes, sobre a missão da Igreja, a Declaração Dignitatis Humanae e a Constituição Gaudium Et Spes, sobre a Igreja no mundo de hoje

08/12/1965 - Encerramento do Concílio Vaticano II

Site criado por Carlos Rodrigues para todos os viventes e para maior Glória de Deus
Desenvolvido por Webnode
Crie o seu site grátis! Este site foi criado com a Webnode. Crie o seu gratuitamente agora! Comece agora