(Hi)Estórias da História

Factos e feitos

Os Quatro "Nãos" da história

O saudoso D. Estêvão Bettencourt, se referia muitas vezes ao que chamava de "Os Quatro Nãos da história", que segundo ele foram responsáveis pela situação de descrença, materialismo, ateísmo, relativismo moral e religioso que vivemos hoje.

Segundo o mestre de muitos anos, o primeiro golpe foi o "Não à lgreja Católica", dito pela Reforma protestante (séc. XVI). Muitos homens continuaram a crer no Evangelho e em Jesus Cristo; não, porém, na Igreja fundada por Cristo. Os princípios subjetivos do "livro exame", "sola Scriptura", não à Igreja e ao Papa, não à Tradição Apostólica, estabelecidos por Lutero e seus seguidores, promoveu um esfacelamento crescente da Cristandade pela multiplicação de novas "igrejas". Cristo foi mutilado. Segundo Teilhard de Chardin, "sem a Igreja Cristo se esfacela". A túnica inconsútil do Mestre foi estraçalhada.

Até esta época da História, o mundo Ocidental girava em torno do ensinamento da Igreja, assistida e guiada pelo Espírito Santo. A Reforma "quebrou o gelo", e inaugurou a contestação à doutrina ensinada pela Igreja, depois de quinze séculos. A partir daí muitas outras contestações foram inevitáveis. É preciso lembrar que após o início da Reforma, a Igreja realizou o mais longo Concilio Universal, o de Trento (1545-1563), por dezoito anos, e nada mudou da doutrina que recebeu de Cristo e dos Apóstolos.

O segundo golpe foi dado no século XVIII: foi dito um "Não a Cristo". Não à religião Revelada por Cristo. Surgiu por parte do Racionalismo, que teve a sua expressão mais forte na Revolução Francesa (1789). Os iluministas, positivistas, introduziram a deusa da razão na Catedral de Notre-Dame de Paris. Muitos pensadores passaram a professar o deísmo (crença em Deus como ser reconhecido pela razão natural apenas), em lugar do teísmo (crença em Deus que se revelou pelos profetas bíblicos e por Jesus Cristo).

Depois do Não à Igreja, veio o Não a Cristo.

O terceiro golpe foi dado no século XIX: o "Não ao próprio Deus" oriundo do ateísmo em suas diversas modalidades ateístas. A tomada de consciência da história e da sua influência, tal como Darwin e os evolucionistas a propuseram, contribuiu para disseminar o historicismo que coloca a história acima de Deus. Daí surgiu o relativismo e o ceticismo, que impregnaram muitas correntes de pensamento de então até os nossos dias. Hoje o Papa Bento XVI fala de uma "ditadura do relativismo"; que tenta negar a verdade objetiva.

Infelizmente assistimos hoje o triste espetáculo de pesquisadores que escrevem livros ensinando o ateísmo; difundindo isso nas universidades e afastando os jovens de Deus, como se crer fosse um subdesenvolvimento cultural ou mental.

A mudança de mentalidade foi se realizando em velocidade crescente, principalmente a partir de meados do século passado (1850): o desenvolvimento das ciências e da técnica deixou os homens mais ou menos atordoados diante de perspectivas inéditas, sem que soubessem, de imediato, fazer a síntese dos novos valores com os clássicos.

O quarto Não é dito ao homem. Depois do Não à Igreja, a Cristo, à Deus, agora, como consequência, assistimos ao triste Não dito ao homem. São Tomás de Aquino dizia que "quanto mais o homem se afasta de Deus, mais se aproxima do seu nada". É o que acontece hoje. Sem Deus o homem é um nada. O Papa João Paulo II disse na primeira encíclica que escreveu - "Jesus Cristo Redentor do Homem" - afirmou que "o homem sem Jesus Cristo permanece para si mesmo um desconhecido, um enigma indecifrável, um mistério insondável". Quer dizer, sem Deus, sem Jesus Cristo, o homem é um desorientado; não sabe de onde veio, não sabe quem é, não sabe o que faz nesta vida, não sabe o sentido da vida, da morte, do sofrimento. E na agonia desse mistério insondável vive muitas vezes no desespero, como muitos filósofos ateus que desorientaram a muitos.

Esse Não dito ao homem, consequência dos Não anteriores, se manifesta hoje na perda dos valores transcendentes da pessoa humana, o desprezo pela sua dignidade humana, o desaparecimento do seu valor intrínseco. Isto se manifesta nas aprovações aberrantes de tudo que há 20 séculos ninguém tinha dúvida em condenar: aborto, eutanásia, manipulação e destruição de embriões, "camisinhas", sexo livre, "família alternativa", "casamentos alternativos", e tudo o mais que a Igreja continua a condenar como práticas ofensivas a Deus e ao homem.

Mas em nossos dias nota-se um retorno aos valores eternos, que a Igreja guardou fielmente através das tempestades. Muitos se dão por desiludidos do cientificismo e do tecnicismo, e procuram de novo no transcendental os grandes referenciais do seu pensar e viver. A busca do ateísmo cede lugar de novo à consciência de Deus e dos valores místicos, sem os quais a vida humana se autodestrói. O homem moderno percebe que os frutos da tecnologia por si só não lhe satisfazem; a prova disso é que crescem as mazelas humanas: depressão, guerras, injustiças, imoralidade...

A sociedade moderna decaiu. O Modernismo, o Relativismo e o Indiferentismo Religioso dominaram o mundo. Os dogmas foram desprezados; a fé e a moral calcados aos pés. Em lugar de Deus o homem idolatra-se a si mesmo, o dinheiro, a Ciência, o prazer da carne,... o pecado.

O mundo moderno não deu atenção ao Papa Pio IX quando este apontou os erros que lhe levariam ao caos em seu Syllabus; não quis ouvir a voz da Igreja no Concilio Vaticano I, quando este mostrou a harmonia entre fé e razão e a suprema autoridade do Papa. Não ouviu também o apelo dos Papa Leão XIII, Pio X, Pio XI, Bento XV, Pio XII... quando eles apontaram os males do mundo moderno em suas encíclicas de fundo moral e social.

O resultado de tudo isso é a decadência moral, ética e sobretudo religiosa que assistimos hoje, razão de tantas desordens, crises e sofrimentos. Tudo nos faz lembrar a máxima de São Paulo: "O salário do pecado é a morte" (Rm 6,23). Por tapar os ouvidos à voz de Deus anunciada ao mundo pelos últimos Papas, o mundo experimentou duas terríveis guerras mundiais com mais de 60 milhões de mortos, e depois a tragédia do nazismo e comunismo com mais de 100 milhões de vítimas.

A sociedade moderna, enfim, rejeitou a voz da Igreja e dos Papas e preferiu dar ouvidos aos hereges. Hoje querem destruir a Igreja com um programa laicista em escala mundial.

Por isso tudo, o homem moderno mergulha no caos do pecado e nas sombras da desesperança e da morte. Eis que surge mais uma vez o Vigário de Cristo a falar da Esperança que nasce em Deus (Salvi Spes). Será que será ouvido?

Somente abandonando os "valores" modernistas e deixando-se guiar pela Igreja é que a nossa Civilização poderá superar suas crises e dores. Está na hora da Civilização Ocidental voltar-se novamente a Jesus Cristo, que a espera de braços abertos.

A Igreja terá novamente de salvar a nossa Civilização, que começa a desabar, como há 13 séculos quando ela desabou com o Império Romano. Estejamos preparados.

Prof. Felipe Aquino

Como morreram os apóstolos?

Segundo a Tradição, assim terminaram as vidas dos apóstolos e evangelistas:

Mateus: Foi morto à espada na cidade de Etiópia.

Marcos: Foi arrastado pelas ruas de Alexandria e Egito, até expirar.

Lucas: Foi enforcado em uma oliveira na Grécia.

João: Foi metido numa caldeira de azeite a ferver, em Roma, mas escapou ileso e morreu mais tarde de morte natural, em Éfeso, Ásia Menor.

Tiago Maior: Segundo o testemunho da Bíblia, foi degolado em Jerusalém.

Tiago Menor: Foi precipitado de um pináculo do templo de Jerusalém ao solo; a seguir, foi esbordoado até morrer.

Filipe: Foi enforcado de encontro a um pilar em Hierápolis (Frígia, Ásia Menor).

Bartolomeu: Foi esfolado vivo por ordem de um rei cruel.

André: Foi crucificado e da cruz pregou ao povo até morrer.

Pedro: Foi crucificado de cabeça para baixo, em Roma, durante o reinado de Nero.

Paulo: Foi decapitado em Roma, também durante o reinado de Nero.

Orientações e cuidados da Igreja em relação a veneração das Imagens de santos

As imagens são lícitas, mas podem acarretar o perigo de exageros e abusos na piedade católica. Consequentemente as autoridades da Igreja sempre cuidaram do assunto. Deste modo, os tipos de imagens utilizados no culto cristão nunca poderão ser inspirados unicamente pela estética ou pela devoção popular fantasiosa.

O Papa Urbano VIII em 1629 condenou a representação da Santíssima Trindade sob a forma de um tronco humano com três cabeças, por se tratar de uma aberração. Em 1745, Bento XIV rejeitou a cena de três pessoas sentadas uma ao lado da outra para representar a Trindade Santa. Uma das principais razões dessas reprovações é que o Espírito Santo nunca apareceu sob a forma humana.

A Igreja quer que a arte cristã, com a finalidade de representar as Pessoas Divinas, só reproduza elementos mediante os quais estas aparecem na História sagrada ou nas Escrituras: ao Filho será representado como figura humana; ao Espírito Santo só convém os símbolos da pomba (Mt 3,16) ou línguas de fogo (cf. At 2,3). Quanto ao Pai Eterno, este é representado por um dedo ou uma mão, sinais de ação e poder citados pelo evangelista Lucas: "Se é pelo dedo de Deus que expulso os demônios"(cf. 11,20). Ou pelo modelo de um ancião, inspirado na profecia de Daniel 7,9, que vê o Filho do homem adiantando-se em direção de venerável e antigo varão de cabeleira branca, sentado sobre um trono.

De modo especial, tendo em vista a catequese, os bispos franceses promulgaram algumas diretrizes que devem orientar a confecção de imagens para crianças. Eis a conclusão final:

São desejáveis:

a) As imagens que eduquem a fé, isto é, que façam pensar nas realidades sobrenaturais e despertem autênticos sentimentos de fé e de piedade;

b) As imagens que levem em conta as reações da criança, e não a do adulto;

c) As imagens que sejam concebidas dentro de certa preocupação com a estética e não sejam feudo de alguma escola particular;

d) As imagens que não apresentem pormenores inúteis aptos a desviar do essencial a atenção das crianças;

e) As imagens que utilizem cor e movimentação, a fim de melhor prender a atenção e o interesse das crianças; todavia, sem exageros.

São desaconselhadas:

a) As imagens que tratem o Invisível com os mesmos traços concretos das realidades visíveis; assim os anjos configurados, sem mais, a seres humanos;

b) As imagens que sejam capazes de impressionar e agradar, mas não suscitem sentimentos de fé e de piedade; por exemplo, aquelas que apresentam os personagens sagrados com semblante de boneca ou com expressionismo humano carregado demais, como são as imagens da Virgem Santíssima em geral e as de São João Evangelista, na Última Ceia, produzidas por certos artistas do Renascimento do século XVI;

c) As imagens que as crianças não possam facilmente compreender, por serem demasiado abstratas.

São condenadas:

a) As imagens que transmitam falsa noção da realidade, como por exemplo, a do Menino Jesus pregado à Cruz ou detido no tabernáculo do altar, ou imagens muito sentimentais;

b) As imagens que contribuam, na mente das pessoas simples, para ridicularizar algum personagem sagrado, algum mistério da fé ou os ritos da Liturgia (Cf. La Documentation Catholique 15 de Setembro de 1957).

Estas normas, sábias e prudentes, devem ser observadas, já que as imagens devem servir de correta instrução ao povo de Deus, e, portanto, devem ser confeccionadas de acordo com a mensagem que devem transmitir. O culto de veneração relativo às imagens foi sendo aos poucos integrado no patrimônio da vida da Igreja com o seu fundamento no mistério da Encarnação do Filho de Deus, que viu a utilidade das representações sensíveis para o auxílio da catequese e o estímulo da oração.

Não seria cristão recusar a arte na medida em que ela pode ser via de acesso a Deus. Por conseguinte, a Igreja proclama: nem o iconoclasmo nem o culto supersticioso e mágico das imagens. Cada cristão pode pessoalmente fazer o uso das imagens que melhor corresponda às suas devoções pessoais: uns são ajudados pelas imagens, outros as dispensam.

O importante é que as imagens sejam usadas como um meio, não um fim. Mas ninguém deve negar a legitimidade do seu uso moderado e teologicamente fundamentado.

Cabe aqui uma reflexão:

A Igreja Católica é a única Igreja que possui ligação direta com os Apóstolos; é a única que possui a sucessão apostólica.

Cristo a incumbiu de ser responsável pela guarda do "depósito da fé", em especial das Sagradas Escrituras. Se a Igreja quisesse agir contra a Palavra de Deus, adulteraria a Bíblia nas passagens que condenam as imagens, a fim de justificar o seu uso.

O livro da Sabedoria - não reconhecido como inspirado pelos protestantes - condena, como nenhum outro livro do Antigo Testamento, a idolatria (cf. Sb 13-15). Não seria, então, mais fácil para a Igreja católica, fazer como os protestantes e repudiar o citado livro? No entanto, a Igreja não fez isso porque a Bíblia deve ser lida dentro de seu contexto e de forma correta, pois a Igreja entendeu que todos esses textos nunca proibiram o uso das imagens, mas apenas as imagens de ídolos.

Logo, o que a Bíblia condena é a idolatria, a substituição de Deus por uma criatura, isto é, o uso negativo da imagem que faz as pessoas terem uma ideia errônea sobre Deus. Se o seu uso for positivo, aproximando as pessoas do verdadeiro Deus, então seu uso é justificado e permitido. A imagem simplesmente ajuda a criar um clima favorável à oração e é um meio eficaz de evangelizar, principalmente os pobres e iletrados.

São Paulo ensina a necessidade de recordar com especial estima os nossos precursores na fé. Eles não desapareceram, mas a nossa fé nos dá a certeza do céu onde os que morreram na fé estão já vitoriosos em Cristo. A Igreja respeita as imagens da mesma forma que se respeita e venera a fotografia de um ente querido. Todos sabemos que não é a mesma coisa contemplar a fotografia e contemplar a própria pessoa de carne e osso. Não está a Tradição Católica contra a Bíblia. A Igreja mantém-se fiel a autêntica interpretação cristã desde as suas origens.

Este texto está apoiado no artigo de D. Estêvão Bettencourt, osb, publicado em sua revista Pergunte e Responderemos (nº 270, Ano: 1983, p. 412) sob o título É lícito o uso de imagens sagradas?

Por ocasião do XII centenário do II Concílio de Niceia (787), em 4 de dezembro de 1987, o Papa João Paulo II escreveu o documento Duodecim Saeculum sobre a Veneração da Imagens, que também pode ser encontrado facilmente caso deseje se aprofundar neste assunto.

Retirado do livro: Por que os católicos veneram imagens? Coleção Formação Católica. Prof. Felipe Aquino. Editora Cléofas, 2017.

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História da Igreja: A controvérsia das imagens

POR PROF. FELIPE AQUINO

História da Igreja: A controvérsia das imagens

A controvérsia iconoclasta teve como uma de suas consequências um maior distanciamento da Itália e do Império bizantino. Esse afrouxamento religioso, administrativo e político foi um dos antecedentes do cisma de 1054 entre orientais e ocidentais. Estudemos agora o debate iconoclasta; este ocorreu numa época em que os principais artigos da fé tinham acabado de ser formulados (em 681 o monotelitismo, fora condenado); versava sobre uma prática tradicional dos cristãos.

Os inícios da controvérsia

Já os primeiros cristãos usavam imagens nos lugares de culto, nos cemitérios e nas catacumbas. Sabiam que a proibição de fazer imagens em Ex 20,4 era contingente ou devida ao perigo de idolatria que ameaçava o povo de Israel cercado de nações pagãs. Ademais o fato de que Deus apareceu sob forma visível no mistério da Encarnação parece um convite a reproduzir a face humana do Senhor e dos seus amigos. As primeiras imagens eram inspiradas pelo texto bíblico (cordeiro, Bom Pastor, pomba, peixe, âncora, Daniel, Moisés); mas podiam também representar o Senhor, a Virgem Maria, os santos Apóstolos e mártires.

Desde os inícios da arquitetura sacra, as igrejas foram enriquecidas com imagens tanto a título de ornamentação quanto a título de instrução dos iletrados. No século IV, ouve-se uma ou outra voz contrária às imagens; assim a do concílio regional de Elvira (cerca de 306). O Papa S. Gregório Magno (? 604), porém, escrevia a Severo, bispo de Marselha, que mandara destruir imagens por causa do perigo de falso culto:

"Era preciso não as quebrar, pois as imagens não foram colocadas na igreja para ser adoradas, mas apenas para instruir as mentes dos ignorantes" (ep. 9,105).

O culto das imagens foi-se ampliando na Igreja, principalmente no Oriente; os monges e os simples fiéis muito as estimavam. Todavia no início do século VIII acendeu-se uma controvérsia sobre as mesmas, que durou mais de um século (com breve pausa) e deu ocasião à violência de toda espécie.

A luta foi aberta pelo Imperador Leão III o Isáurico (717-741). Vejamos em que circunstâncias:

Em 723 o califa Yezid mandou destruir todas as imagens dos templos e casas de seus súditos, quer muçulmanos, quer cristãos. Maomé mesmo não proibia as imagens, mas os seus sucessores o fizeram. - A proibição do califa Yezid provocou entre os cristãos um movimento iconoclasta, que se comunicou ao Imperador e a diversos bispos. As razões que devem ter movido o monarca, foram, além da influência de judeus e muçulmanos, a própria personalidade do Imperador. Este queria reorganizar o Império promovendo a unidade religiosa - condição da unidade política - no reino; ora as imagens eram um ponto de discórdia entre judeus e maometanos, de um lado, e cristãos, do outro lado. Leão III tinha índole fortemente absolutista e cesaropapista; dizia textualmente que era "Imperador e Sacerdote"; devia, portanto, subordinar ao seu poder a Igreja e, em particular, os monges, sempre ciosos da liberdade. Quem considera esta tendência do Imperador, há de reconhecer que a defesa das imagens por parte dos católicos era não somente uma questão de ortodoxia, mas também o desejo de afirmar a independência da Igreja frente ao despotismo imperial.

A luta ardente

Por conseguinte, em 726 Leão III investiu contra as imagens por palavras e gestos violentos. Procurou o apoio do Patriarca Germano de Constantinopla, que lhe resistiu. Escreveu também ao Papa Gregório II, ameaçando depô-lo, caso defendesse as imagens. Gregório em duas cartas condenou a conduta do Imperador, dizendo-lhe que a questão era da competência dos bispos. Ao saberem da imposição do Imperador, as populações do Norte da Itália teriam eleito novo Imperador se o Papa não as tivesse dissuadido. Havia na época motivos de animosidade entre bizantinos e ocidentais: o Império acabrunhava de impostos a Itália; mais de uma vez, funcionários do Imperador haviam atentado contra a vida do Papa; Gregório II, porém, manteve-se leal e exortou os italianos à sujeição. Também os habitantes da Grécia se revoltaram, proclamando um anti Imperador, Cosmas; mandaram a Constantinopla uma frota numerosa, que foi vencida com seus chefes. Isto tudo só contribuía para irritar cada vez mais o Imperador.

Em 730, Leão III depôs o Patriarca Germano e conseguiu a eleição de Anastásio, iconoclasta. Este logo publicou um édito contra as santas imagens; clérigos, monges e monjas foram decapitados e mutilados...

Em 731 o Papa Gregório III convocou um Sínodo em Roma, que puniu com a excomunhão quem combatesse as imagens. Leão III, exasperado, mandou uma frota à Itália, que foi destruída no Mar Adriático por violenta tempestade (732); confiscou os bens da Igreja Romana na Calábria e na Sicília e, a quanto parece, quis subtrair à jurisdição de Roma territórios ocidentais, que ficariam sujeitos ao Patriarcado de Constantinopla.

O filho de Leão III, Constantino V Coprónimo, subiu ao trono em 741. Queria convocar um Concílio para decidir a questão; antes, porém, escreveu um tratado de (índole iconoclasta, que chegava a por em xeque definições dos Concílios de Éfeso e Calcedônia a respeito do mistério da Encarnação: por exemplo, Maria não devia ser dita "Mãe de Deus", mas apenas "Mãe de Cristo".

O Concílio convocado pelo Imperador reuniu-se em 754 e em Constantinopla com a presença de 338 bispos, sem o Papa nem os Patriarcas orientais. Declarou o culto das imagens obra de Satã, e nova idolatria. Tal Concílio não era legítimo; por isto, foi excomungado pelo Papa Estevão III em 769. Em consequência, a perseguição aos fiéis ortodoxos se tornou bárbara: em todas as igrejas as imagens foram removidas ou substituídas por motivos profanos (árvores, pássaros...). Os monges eram quase os únicos a opor resistência: muitos mosteiros foram destruídos ou transformados em quartéis, arsenais... Fez-se tudo para tornar o monaquismo odioso aos cristãos: foi proibido o hábito monásticos; os iconoclastas procuraram seduzir os monges para prevaricação com mulheres; muitos tiveram os olhos crivados, a barba queimada, os cabelos arrancados... A situação era comparável à dos piores dias do paganismo.

Finalmente Constantino V morreu em 775, recomendando-se à Mãe de Deus; da qual fora adversário. Seu filho Leão IV mostrou-se mais tolerante que seu pai, mas não revogou os decretos anteriores. Faleceu em 780, sucedendo-lhe a Imperatriz Irene como regente do filho Constantino VI. Irene era piedosa, amiga das imagens e dos monges, embora ambiciosa. Permitiu logo o culto das imagens e, a conselho dos Patriarcas Paulo e Tarásio de Constantinopla, e de acordo com o Papa Adriano, a regente convocou um Concílio ecumênico. Este, de fato, se reuniu em 787, com a presença de dois legados papais, em Nicéia. Foi o sétimo ecumênico e o segundo de Nicéia, frequentado por 350 bispos. Notemos que a primeira sessão desse Concílio se reuniu já em 786 em Constantinopla, mas teve que se dissolver, porque Os militares, iconoclastas, apoiados por alguns bispos, impediram os trabalhos, que teriam sido um triunfo da ortodoxia. Em Nicéia, o falso Concílio de 754 foi rejeitado; a intercessão dos Santos e o título "Mãe de Deus" foram reabilitados. Os conciliares declararam, apoiados na tradição, que às imagens de Cristo, de Maria Virgem, dos anjos e dos Santos convém uma veneração honorífica com lamparinas, incenso, inclinações, pois essa veneração recai sobre o protótipo (ou a pessoa representada); ao contrário, a verdadeira adoração compete a Deus só. A última sessão desse Concílio realizou-se em Constantinopla, sob a presidência da Imperatriz regente e de seu filho, que assinaram a definição conciliar; isto lhes valeu as aclamações dos padres conciliares e dos fiéis, dirigidas ao novo Constantino e à nova Helena.

As decisões de Nicéia II ficaram em vigor no Oriente durante quase trinta anos, ou seja, até 813.

Ecos tardios e fim

No Ocidente reinava Carlos Magno. O Papa Adriano procurou fazer que o monarca reconhecesse os decretos de Nicéia II; mas o soberano se lhes opôs, porque

- Era ambígua ou errônea a tradução latina das atas de Nicéia II; Os latinos conheciam cada vez menos o grego; por isto deram a entender que o culto de adoração, devido exclusivamente à SS. Trindade, havia de ser prestado às imagens;

- Reinava forte tensão política entre o Ocidente e Bizâncio

- A ufania de Carlos Magno não lhe permitia reconhecer um Concílio do qual não tivessem participado bispos francos.

O rei então convocou um Concílio de 300 bispos francos para Franco forte em 794. Sob a presidência de Carlos, os conciliares condenaram as decisões do Niceno II. O Papa Adriano I, que defendia o Concílio de 787, tomou uma atitude de reserva e prudência para evitar ulteriores amarguras ou mesmo represálias da parte do monarca.

Em breve, porém, também no Oriente foram atacadas as decisões do Niceno II. O Imperador Leão V em 815 renovou o iconoclasmo, atribuindo ao culto das imagens as desgraças do Império na guerra contra os sarracenos. Os decretos de 754 foram postos de novo em vigor; Os monges, mais uma vez, foram especialmente atingidos. Como na primeira fase da disputa se distinguira São João Damasceno (?749) qual campeão da ortodoxia, nesta segunda etapa sobressaiu o monge Teodoro de Studion, intrépido entre os maus tratos, a flagelação e o exílio A perseguição durou cerca de três decênios. Paralelamente à primeira fase do iconoclasmo, depois de três imperadores heterodoxos, surgiu uma mulher, a Imperatriz viúva Teodora, como regente de seu filho menor Miguel III; Teodora sempre fora amiga das imagens; conseguiu que um sínodo em Constantinopla (843) reabilitasse o culto das mesmas. Para a perpétua recordação deste feito, os gregos introduziram no seu calendário a "grande festa da ortodoxia", que todos os anos, no primeiro domingo da Quaresma, comemorava esta vitória e todas as demais vitórias levadas sobre as heresias na Igreja. Sabe-se que até hoje os orientais dedicam grande veneração aos seus ícones, símbolos de valores transcendentais.

O ardor da nova discussão comunicou-se também ao Ocidente. Em 824 o Imperador Miguel II mandou uma legação ao rei Luís o Piedoso dos francos convidando-o a uma ação comum iconoclasta. Luís, com a licença do Papa Eugênio II, em 825 reuniu bispos e teólogos em Paris a fim de estudarem o assunto. Essa assembleia manifestou-se no sentido do Concílio de Francoforte (794), que, aliás, tomou posição contrária ao Niceno II, mas em termos assaz ambíguos, como se depreende desta fórmula: as imagens não devem ser nem adoradas nem veneradas nem destruídas, mas hão-de ser conservadas em memória daqueles ou daquilo que representam. - Não se sabe qual tenha sido a atitude do Papa diante deste pronunciamento de Paris.

Finalmente o bibliotecário Anastásio refez a tradução das atas do Concílio de Nicéia II sob o Papa João VIII (872-882). Isto permitiu que as determinações conciliares fossem finalmente aceitas no Ocidente; grande parte da problemática se achava na deficiência de tradução.

Como se percebe, a veemência e a duração da controvérsia iconoclasta se devem ao cesaropapismo dos Imperadores. Os Papas perceberam que nada mais tinham a esperar dos Imperadores Bizantinos, pois, desde a época do arianismo (século IV), haviam frequentemente favorecido as heresias e perseguidos os pastores e fiéis ortodoxos; as suas intervenções dogmatizantes eram, muitas vezes, movidas por razões políticas. Pode-se, pois, dizer que o iconoclasmo se ligam intimamente a origem do Estado Pontifício, a proclamação do Império Romano no Ocidente e, de maneira mais remota, mas não menos real, o cisma grego de 1054; por mais de um século Oriente e Ocidente tinham estado em dissensão e, quando em 843 a luta iconoclasta terminava, já Fócio, o campeão do cisma, aparecia na corte da Imperatriz Teodora, para em breve subir à cátedra patriarcal de Constantinopla. Com toda a razão, Teodoro de Studion, um dos últimos grandes católicos de Bizâncio, clamava o Papa: "Salva-nos, arqui-pastor da Igreja que está debaixo do céu; pereceremos!"

POR PROF. FELIPE AQUINO

O dia em que Santa Teresa D'Ávila venceu o demônio com o poder da água benta

Segundo o ACI (06/07/2017), Santa Teresa D'Ávila é uma religiosa, mística e Doutora da Igreja do século XVI, que em suas memórias relatou como, após uma longa experiência, aprendeu que "não há coisa de que os demônios fujam mais, para não mais voltar, do que a água benta".

O que não é tão conhecido são as experiências que a levaram a essa conclusão, que a santa descreve em sua autobiografia, o "Livro da vida".

"Eu estava certa vez num oratório e me apareceu, do lado esquerdo, uma figura abominável; percebi especialmente a boca, porque falava: era horrível. Parecia que lhe saía do corpo uma grande chama, muito clara, sem nenhuma sombra. Disse-me, aterrorizando-me, que eu me livrara de suas garras, mas que voltaria a elas", revelou Santa Teresa no início do capítulo 31 de sua obra.

Em seguida, assustada, tentar espantá-lo com o sinal da Cruz. O demônio a abandonou, mas logo voltou. Isso aconteceu várias vezes, até que notou que tinha água benta perto: "Isso me aconteceu por duas vezes. Não sabendo o que fazer, peguei da água benta que ali havia e lancei-a para onde essa figura se encontrava. Ela nunca mais voltou".

Em outro momento, Santa Teresa escreveu que o demônio esteve cinco horas a atormentando "com dores e desassossegos interiores e exteriores tão terríveis que pensei não poder suportar. As pessoas que estavam comigo ficaram espantadas e não sabiam o que fazer, nem eu a que recorrer".

A santa admitiu que só encontrou alívio depois de pedir água benta e jogá-la no local onde viu um demônio perto. É na explicação desse fato que é dada a conhecer a sua citação mais famosa.

"A partir de muitos fatos, obtive a experiência de que não há coisa de que os demônios fujam mais, para não mais voltar, do que da água benta. Eles também fogem da cruz, mas retornam. Deve ser grande a virtude da água benta", assinalou.

Mais tarde, assegurou que conheceu o consolo da alma depois de tomar a água, o que lhe gerou "uma espécie de deleite interior" que a confortava.

"Não se trata de ilusão nem de coisa que só aconteceu uma vez, mas sim de algo frequente que tenho observado com cuidado. Digamos que seja como se a pessoa estivesse com muito calor e sede e bebesse um jarro de água fria, sentindo todo o seu corpo refrescar. Penso em quão importante é tudo o que a Igreja ordena, e alegra-me muito ver que tenham tanta força as palavras que comunica à água benta para que esta fique tão diferente da comum", continuou.

Santa Teresa D'Ávila conta muitas outras histórias sobre o poder da água bento no restante do capítulo.

POR PROF. FELIPE AQUINO

A ORIGEM DO VATICANO UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE

Qual é a origem do Vaticano, você sabe? Muitos de nós católicos, arrisco em dizer, conhecemos pouco sobre nossa fé e sobre nossa história.

Pode ser que para alguns seja algo simples ou mesmo não ser interessante, mas acredito que para quem está a frente da catequese e de serviços de pastoral, penso que quanto mais informações tivermos, melhor.

Já pensou ou já te perguntaram sobre a origem do Vaticano?

A ORIGEM DO VATICANO

Bem para iniciarmos, o Vaticano que conhecemos hoje é um Estado, isso mesmo, um Estadoindependente o Vaticano não pertence a Itália como muitos pensam, pertence em um sentido geográfico, mas não político.

Deixo claro que o assunto é de extrema importância e com grande detalhes históricos, por isso vou me ater ao necessária para que saibamos sobre formação e a origem do Estado do Vaticano.

Então, a origem do Vaticano é remontada na constituição dos Estados Pontifícios (posse de terrenos na Itália), doados por Pepino o Breve, no ano de 756, por também reconhecer o Papa como autoridade governante.

Pepino III ou Pepino o Breve que foi também o pai de Carlos Magno. Posteriormente Carlos Magno também reconheceu a autoridade papal.

A Igreja já possuiu territórios que eram chamados de Estados Pontifícios e teve seu fim em meados do ano de 1870. Para este fim houve embate político entre o Estado Italiano e o Papado.

Mas a origem do Vaticano como conhecemos hoje, ocorreu no século XX, quando a Igreja reconhece a autonomia da Itália sobre os "Estados Pontifícios". E então Benito Mussolini assinados no TRATADO DE LATRÃO. Basicamente esta é a origem do Vaticano.

O Vaticano portanto é o menor pais do mundo, com autoridade política sempre do Papa vigente. O Papa então é chefe político do Vaticano e chefe religioso da Igreja Católica que tem por sede o Vaticano.

Roma não está no Vaticano e sim o contrário. E Roma é capital da Itália. Quem é o Bispo de Roma? É sempre o Papa.

Existem alguns espertinho que insistem em dizer que a Igreja saqueou ou roubou território, isso é uma grande piada. A Igreja não cometeu nenhum destes insultos.

Abaixo você pode ver um mapa retirado do Google Maps que compreende a região do Estado do Vaticano ou também a Cidade do Vaticano.

O território de extensão, descartando no que se refere a origem do Vaticano e sim atualmente é compreendido por uma abrangência de 0,44 km2. Como dito anteriormente o Papa é o chefe de Estado e é enquanto viver (vitalício). 


Por que Jesus escolheu Pedro, um pecador, para dirigir a Igreja? Papa explica

Farei de ti pescador de Homens!

...e o negou três vezes! 

Pedro tu amas-me?

...e o negou três vezes!

A Cátedra de Pedro

Segundo o ACI Digital (02/06/2017), o Papa Francisco explicou, durante a homilia da Missa celebrada na Casa Santa Marta, os motivos pelos quais Jesus escolheu São Pedro como o primeiro Papa da Igreja, uma decisão que poderia parecer contraditória, levando em consideração que alguns dias antes da sua eleição o havia negado.

O Santo Padre fez esta reflexão a partir do Evangelho do dia, no qual Jesus Ressuscitado dialoga com Pedro junto ao mar da Galileia. Francisco sublinhou que se trata de um diálogo entre amigos, no contexto da Ressurreição. Durante essa conversa, Jesus confiou a Pedro a sua Igreja.

"Jesus escolhe o mais pecador dos apóstolos, os outros fugiram, este renegou Ele: 'Não o conheço'. Jesus escolhe o mais pecador. O mais pecador foi escolhido para apascentar o povo de Deus. Isto nos faz pensar", observou o Pontífice.

Francisco explicou como é o modelo de Jesus para liderar a Igreja: "Não se trata de apascentar com a cabeça para cima, como o grande dominador, não: apascentar com humildade, com amor, como Jesus fez".

Os pecados e os erros de Pedro não são um obstáculo para Jesus. Inclusive depois de ser eleito, o apóstolo se equivoca novamente: Esta é a missão que Jesus dá a Pedro. Sim, com os pecados, com os erros. Tanto é assim que, logo após esse diálogo, Pedro faz um deslize, um erro, é tentado pela curiosidade e disse ao Senhor: 'Mas este outro apóstolo para onde vai, o que fará?'".

Jesus o corrige, "mas com amor - continuou o Papa -, no meio de seus erros, e seus pecados... com amor: 'Porque essas ovelhas não são as suas ovelhas, são as minhas ovelhas', diz o Senhor. 'Ame-as. Se você é meu amigo, você tem que ser amigos delas'".

Entretanto, Francisco não quis exonerar Pedro da sua traição, pois nela também se encontra posteriormente a sua redenção e fidelidade cega ao Senhor: Pedro está seguro em negar o Senhor como estava seguro quando tinha confessado: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo".

Pedro permanecerá fiel a Jesus até a sua morte e como Ele, também morrerá crucificado.

"Depois de toda uma vida servindo ao Senhor, acabou como o Senhor: na cruz. Mas não se vangloria: 'Termino como meu Senhor!'. Não, pede ele: 'Por favor, me coloquem na cruz com a cabeça para baixo, para que pelo menos vejam que não sou o Senhor, sou o servo'".

Em conclusão, o Papa Francisco resumiu o que se pode aprender com o ensinamento que Jesus oferece ao escolher um pecador, uma pessoa que o negou, para cuidar de seu povo:

"Isto é o que nós podemos tirar deste diálogo, deste diálogo tão bonito, tão sereno, tão amigável, tão pudico. Que o Senhor nos dê sempre a graça de caminhar pela vida com a cabeça para baixo: com a cabeça alta para a dignidade que Deus nos dá, mas com a cabeça para baixo, sabendo que somos pecadores e que o único Senhor é Jesus, nós somos servos".

Evangelho comentado pelo Papa Francisco:

Jo 21, 15-19

Jesus manifestou-se aos seus discípulos 15e, depois de comerem, perguntou a Simão Pedro: "Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?" Pedro respondeu: "Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo". Jesus disse: "Apascenta os meus cordeiros".

16E disse de novo a Pedro: "Simão, filho de João, tu me amas?" Pedro disse: "Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo". Jesus disse-lhe: "Apascenta as minhas ovelhas". 17Pela terceira vez, perguntou a Pedro: "Simão, filho de João, tu me amas?" Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Respondeu: "Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo". Jesus disse-lhe: "Apascenta as minhas ovelhas. 18Em verdade, em verdade te digo: quando eras jovem, tu te cingias e ias para onde querias. Quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres ir". 19Jesus disse isso, significando com que morte Pedro iria glorificar a Deus. E acrescentou: "Segue-me".

5 Milagres Eucarísticos incríveis

Os católicos creem que Jesus Cristo verdadeiramente e substancialmente presente na Santa Eucaristia. E há muitas histórias de milagres eucarísticos ao longo da história da Igreja que parecem confirmar esse importante ensinamento.É importante sinalizar que nenhum católico é obrigado a acreditar em qualquer destas histórias. Mesmo que tenham sido investigadas e aprovadas pela Igreja, ela não dá nenhuma garantia absoluta para a sua autenticidade. Tão pouco o dogma católico da transubstanciação depende da autenticidade destas histórias; este se baseia totalmente na Escritura e na Sagrada Tradição.

1) Milagre de Lanciano - Século VIII

No século VIII, um padre em Lanciano, Italia, estava sendo tentando a ter dúvidas a sobre a presença real de Jesus na Eucaristia. No meio de uma missa, enquanto dizia as palavras da consagração (Este é o meu corpo e este é o meu sangue), viu o pão se transformar em carne humana e o sangue se coagulou em cinco glóbulos (acredita-se que por causa das cinco chagas de Cristo). A notícia do milagre se estendeu rapidamente, o arcebispo do local iniciou uma investigação, e a Igreja aprovou.

A carne está conservada até os dias de hoje. O professor de anatomia Odoardo Linoli levou a cabo uma análise científica da carne em 1971 e chegou a conclusão de que a carne era tecido cardíaco, o sangue parecia ser sangue fresco e não havia rastro de conservantes.

É possível visitar a carne e o sangue milagroso na Igreja de São Francisco de Lanciano, Itália.

2) O corporal de Bolsena - Século XIII

Um sacerdote que estava duvidando sobre a transubstanciação estava celebrando uma missa em Orvieto, Itália. Pouco depois da consagração, a hóstia começou a sangrar sobre o corporal (um pano litúrgico) no altar. A história ficou conhecida e o sacerdote se encontrou com o Papa que estava visitando sua cidade e confessou seu pecado da dúvida. Atualmente, este corporal se mantém em exibição na Catedral de Orvieto.

Alguns historiadores, porém, duvidam da veracidade da história, porque os primeiros registros deste feito não aparecem até uns cem anos depois do suposto milagre. Entretanto, o corporal segue sendo um objeto de veneração.

3) A hóstia de Siena, Itália - Século XVIII

O 14 de agosto de 1730, enquanto os católicos de Siena, Itália assistiam a um festival especial para a véspera da festa da Assunção, alguns ladrões entraram na Igreja de São Francisco e roubaram uma âmbula de ouro que continha centenas de hóstias consagradas.

Dois dias depois, alguém notou que algo branco estava saindo de uma caixa de ofertório em outra Igreja de Siena. Os sacerdotes abriram a caixa e encontraram as hóstias perdidas, no meio de teias de aranhas e sujeira. Depois de limpá-las o máximo possível, as hóstias foram colocadas em uma ambula e foram levadas de novo para a Igreja de São Francisco para as orações de reparações e veneração.

As hóstias estavam muito sujas, os sacerdotes decidiram não consumi-las, mas simplesmente deixar que se deteriorassem. Depois de algumas décadas, todos se surpreenderam ao verem que as hóstias não se deterioraram, pelo contrário, pareciam bastante frescas.

As hóstias estão intactas até hoje, mais de dois séculos depois, e podemos contemplar na agora Basílica de São Francisco, em Siena, Itália.

4) O milagre de Chirattakonam, India - Século XXI

Em 28 de abril de 2001, houve uma adoração eucarística na paróquia de Santa Maria em Chirattakonam, na Índia, quando de repente três manchas vermelhas se materializaram na hóstia consagrada. O sacerdote não sabia o que fazer, assim colocou a hóstia novamente no sacrário.

Alguns dias mais tarde, e já recuperado do assombro, o sacerdote voltou a olhar a hóstia e as manchas vermelhas pareciam desenhar o rosto de um homem (Jesus?!). Rapidamente chamou um fotógrafo e tirou fotos da hóstia.




5) O Milagre Eucarístico de Santarém - Século XIII

Uma mulher vivia em Santarém, Portugal, no século XIII e estava angustiada porque suspeitava que seu marido era infiel, por isso, decidiu se consultar com uma bruxa na busca de ajuda. A feiticeira disse que seu serviço custava uma hóstia consagrada.

Ela foi a missa na Igreja de Santo Estevão e recebeu a Eucaristia em sua língua, tirou da boca, envolveu em seu véu, e se dirigiu a porta da Igreja. Para sua surpresa, e antes de sair do templo, a hóstia começou a sangrar.

Aún así, se fue con la hostia sangrante hasta su casa Cuando llegó a casa y la guardó en un baúl. Esa noche, una luz milagrosa emanaba del baúl. Ella se arrepintió de lo que había hecho y a la mañana siguiente confesó a su cura lo que había hecho. El sacerdote fue a su casa y recuperó la hostia consagrada llevándola de nuevo al templo.

Ainda assim, ela foi com a hóstia sangrando até a sua casa, quando chegou em casa o guardou num baú. Nessa noite, uma luz milagrosa emanava do baú. Ela se arrependeu do que havia feito e na manhã seguinte confessou ao seu padre o que tinha feito. O sacerdote foi a sua casa e reconduziu o santíssimo sacramento de novo ao templo.

Depois de uma investigação e da aprovação do milagre, a Igreja passou a chamar-se Igreja do Santo Milagre, e a hóstia que sangra pode ser vista até os dias atuais.

HERESIA VOCÊ SABE O SIGNIFICADO DESTA PALAVRA?

A palavra heresia era muito comum, principalmente na Idade Media. Sua utilização implica basicamente em um ensino contrário daquilo que realmente a Igreja ensina.

Também no início, na Igreja Primitiva houve a necessidade de se combater vários pensamentos contrários a Verdade de Fé. A Igreja sempre se preocupou em manter a Sã Doutrina de erros doutrinais.

HERESIA, O QUE SIGNIFICA?

A palavra heresia, que tem origem do grego αἵρεσις, tem significados semelhantes como "opção", "opinião" ou "escolha". A heresia então é fazer uma escolha ou ter uma escolha contrária a Igreja.

Por exemplo, a Igreja nos ensina que existe um estado de purificação, que chamamos de purgatório, em que as almas aguardam a plenitude da salvação.

Se você é católico e nega este ensinamento da Igreja, para a Igreja você está cometendo heresia. Muitos católicos desinformados ou mesmo por vaidade não aceitam muitas verdades de Fé, criam suas próprias opiniões. Católicos que assim procedem, sem saber, comete heresia.

Se por acaso você é contrário algum ensinamento da Igreja, busque solucionar este problema, na maioria das vezes é simplesmente falta de informação.

3 HERESIAS QUE A IGREJA CONDENOU

Ainda existem heresias veladas, escondidas em pensamentos de muitos clérigos, religiosos e leigos, Se você tem dúvida de algo, a melhor ferramenta para sanar sua dúvida e o Catecismo da Igreja Católica.

Mas a Igreja combateu firmemente "teologias" que foram surgindo com roupagem de cristianismo apresentando falsos ensinamentos. Veja por exemplo 3 dentre vários pensamentos heréticos que foram surgindo dentro da Igreja:

  • O Donatismo
  • O Nestorianismo
  • O Macedonianismo

Perceba que as heresias nascem dentro da Igreja, é por conta disso que o Magistério da Igreja precisa se pronunciar para manter a verdadeira Doutrina pregada pelos Apóstolos.

O DONATISMO

Donato o Grande (anti)bispo em 315 propagou o pensamento, dizendo que os sacramentos só teriam eficácia e validade dependendo da santidade do ministro (padre) que o conferiu.

A Igreja precisou interferir, pois de fato quem confere os Sacramentos é o próprio Cristo, não dependendo da santidade do ministro.

Além desta questão, há outra acerca do Batismo, dizendo que era necessário re-batizar aqueles que negaram a fé e posteriormente, arrependidos, voltaram para o seio da Igreja. Este pensamento também equivocado foi combatido pela Igreja, pois há um só Batismo.

O NESTORIANISMO

Nestório foi Bispo em Constantinopla no século V. A heresia nestoriana quer incutir a ideia que o Filho de Deus se uniu a uma outra identidade para assim se tornar humano.

Seria algo como se o Filho de Deus tivesse tomado ou "possuído" um outro ser. O que é contrário ao ensinamento e a tradição da Igreja, sendo que Jesus é Deus e Homem inteiramente. São duas naturezas, humana e divina, mas uma única pessoa.

O MACEDONIANISMO

Mais um outro maluco bagunçando a Doutrina da Igreja. Macedônio I, Patriarca de Constantinopla no século IV. Macedônio I não aceitava que o Espirito Santo era divino, portanto também Deus. A Igreja precisou intervir várias vezes sobre este assunto, uma das tentativas foi o Concílio de Constantinopla em 381.

Várias foram os pensamentos heréticos que surgiram para confundir os filhos da Igreja. Ainda hoje a Igreja necessita filtrar vários pensamentos em forma de teologia com a prerrogativa de "atualizar" a Fé.

O vídeo abaixo trás mais informações sobre heresias e pecados contra a Fé, além de outros assuntos da Fé Católica, vale a pena.

8 Curiosidades sobre a Igreja Católica

Do Big-Bang a mulheres doutoras da Igreja, passando por papas hereges e vestes litúrgicas

1. Dos 35 Doutores da Igreja, 4 são mulheres. Isto pode até não impressionar você, mas repare que, por exemplo, dos 43 presidentes dos Estados Unidos, tidos como o país que mais propaga a democracia e a igualdade no mundo, zero foram mulheres! De todos os Doutores da Igreja, a mais "recente" é uma mulher: uma freira do século XIX, época em que a maioria das faculdades nem sequer admitia mulheres. Mesmo assim, há muitos "pregadores laicos" que não se cansam de acusar a Igreja católica de "odiar as mulheres".

2. Todas as vestes litúrgicas dos sacerdotes católicos têm um significado específico. É por isso que, para citar um exemplo, a casula, que simboliza o amor, é usada por cima da estola, que simboliza a autoridade. Afinal, "por cima de tudo, o amor" (cf. Colossenses 3,14).

3. O tempo mínimo de participação na missa que a Igreja pede a todo católico equivale a mais ou menos 0,65% da nossa vida. Se formos à missa em todas as celebrações de preceito (e apenas nelas), o nosso "tempo total de missa" ficará em torno de 57 horas por ano. Bem que poderíamos dar a Deus um pouco mais do que isso, não poderíamos?

4. A teoria do Big-Bang foi concebida por um padre católico. Todo mundo riu dele: "Ah, católicos bobos, sempre achando que o universo teve um começo!". Além de sacerdote, ele era físico. O papa Francisco não disse nenhuma novidade quando afirmou, recentemente, que a Igreja católica aceita a evolução. Faz muitas décadas que a Igreja reconhece o fato evolutivo e o considera compatível com um Deus criador. O que a Igreja não reconhece é que todo o universo tenha surgido por obra do mero acaso e sem nenhuma finalidade. A declaração do papa Francisco, no entanto, foi divulgada como "grande novidade" por certa parcela da média.

5. Religiosos católicos também participaram de descobertas e criações como o método científico, a genética e o sistema universitário. Mesmo assim, há que teime em acusar a Igreja de odiar a ciência, a educação intelectual e o progresso técnico e tecnológico.

6. Pelo menos três papas foram hereges: Libério, Silvério e Honório I. Mas nenhum deles caiu em heresia durante o período de seu papado.

7. A primeira leitura nas missas de domingo é sempre escolhida com base na sua relação com o evangelho do dia. Já a segunda leitura não precisa ter necessariamente uma ligação direta com a primeira ou com o evangelho.

8. Se você ler 8 parágrafos do catecismo da Igreja católica por dia, vai conseguir ler e refletir sobre o catecismo inteiro antes do fim do ano. Que tal considerar esta dica como um desafio e começar hoje mesmo?

POR PROF. FELIPE AQUINO

Fonte: https://pt.aleteia.org/2016/01/14/8-curiosidades-sobre-a-igreja-catolica/

Sobre a Vida dos Primeiros Cristãos


De Aristides de Atenas (+ 130) ao imperador Adriano:

"Os cristãos ó rei, vagando e buscando, acharam a verdade conforme pudemos achar em seus livros, estão mais próximos que os outros povos da verdade e do conhecimento certo, pois creem no Deus criador do céu e da terra, naquele em quem tudo é e de quem tudo procede, que não tem outro Deus por companheiro e do qual eles mesmos receberam os preceitos que guardam no coração, com a esperança e expectativa do século futuro. Por isso, não cometem adultério, não praticam a fornicação, não levantam falso testemunho, não recusam devolver um depósito, não se apropriam do que não lhes pertence. Honram pai e mãe, fazem bem ao próximo e, quando em juízo, julgam com equidade. Não adoram os ídolos - semelhantes aos homens. O que não desejam lhes façam os outros não o fazem também; não comem alimentos de sacrifícios idolátricos, pois são puros. Exortam os que os afligem, a fim de fazê-los amigos. Suas mulheres, ó rei, são puras como virgens, suas filhas são modestas. Seus homens se abstém de toda união ilegítima e da impureza, esperando a retribuição que terão no outro mundo. Aos escravos e escravas, bem como a seus filhos - se os têm - persuadem a tornar-se cristãos, em razão do amor que lhes dedicam, e quando se tornam, chamam-nos indistintamente irmãos. Não adoram a deuses estranhos e vivem com humildade e mansidão, sem qualquer mentira entre eles. Amam-se uns aos outros, não desprezam as viúvas. Protegem o órfão dos que os tratam com violência. Possuindo bens, dão sem inveja aos que nada possuem. Avistando o forasteiro, introduzem-no na própria casa e se alegram por ele, como se fora verdadeiro irmão: pois se dão o apelativo de irmãos, não segundo o corpo, mas segundo o espírito e em Deus. Se algum pobre passa deste mundo, alguém sabendo, encarrega-se - na medida de suas forças - de dar-lhe sepultura. Se conhecem um encarcerado ou oprimido por causa do nome do seu Cristo, ficam solícitos a seu respeito e se possível libertam-no.Quando um pobre ou necessitado surge entre eles e não possuem abundância de recursos para ajudá-lo, jejuam dois ou três dias para obter o necessário para o seu sustento. Guardam com diligência os preceitos do seu Cristo, vivem reta e modestamente - conforme lhes ordenou o Senhor Deus. Todas as manhãs e horas louvam e glorificam a Deus pelos benefícios recebidos, dando graças por seu alimento e bebida. Mesmo se acontece que um justo - entre eles - passa deste mundo, alegram-se e dão graças a Deus, ao acompanharem o cadáver, como se emigrasse de um lugar para outro. E assim como quando nasce um filho louvam a Deus, também se ele morre na infância glorificam a Deus, por quem atravessou o mundo sem pecados. Mas vendo alguém morrer na malícia e nos pecados, choram amargamente e gemem por ele, supondo´o ir ao castigo. Tal é, ó rei, a constituição da lei dos cristãos e tal a sua conduta". (Apologia).


Da Carta a Diogneto:


Esta Carta é um dos mais antigos documentos que conta a vida dos primeiros cristãos; é de um autor desconhecido, que escreveu a Diogneto; é do século II.
Em seguida, temos um trecho da Carta: "Dai a cada um o que lhe é devido: o imposto a quem é devido; a taxa a quem é devida; a reverência a quem é devida; a honra a quem é devida [Rom 13,7]. Os cristãos residem em sua própria pátria, mas como residentes estrangeiros. Cumprem todos os seus deveres de cidadãos e suportam todas as suas obrigações, mas de tudo desprendidos, como estrangeiros... Obedecem as leis estabelecidas, e sua maneira de viver vai muito além das leis... Tão nobre é o posto que lhes foi por Deus outorgado, que não lhes é permitido desertar" (5,5; 5,10;6,10). Os cristãos não diferem dos demais homens pela terra, pela língua, ou pelos costumes. Não habitam cidades próprias, não se distinguem por idiomas estranhos, não levam vida extraordinária. Além disso, sua doutrina não encontraram em pensamento ou cogitação de homens desorientados. Também não patrocinam, como fazem alguns, dogmas humanos... Qualquer terra estranha é pátria para eles; qualquer pátria, terra estranha. Tem a mesa em comum, não o leito. Vivendo na carne, não vivem segundo a carne. Na terra vivem, participando da cidadania do céu. Obedecem às leis, mas as ultrapassam em sua vida. Amam a todos, sendo por todos perseguidos (...). E quando entregues à morte, recebem a vida. Na pobreza, enriquecem a muitos; desprovido de tudo, sobram-lhes os bens. São desprezados, mas no meio das desonras, sentem-se glorificados. Difamados, mas justo; ultrajados, mas benditos, injuriados prestam honra. Fazendo o bem são punidos como malfeitores; castigados, rejubilam-se como revificados. Os judeus hostilizam-nos como alienígenas; os gregos os perseguem, mas nenhum de seus inimigos pode dizer a causa de seu ódio. Para resumir, numa palavra, o que é a alma no corpo, são os cristãos no mundo: como por todos os membros do corpo está difundida a alma, assim os cristãos, por todas as cidades do universo (...)".


Sobre o Martírio dos cristãos

Santo Inácio de Antioquia (+107):

"De viagem da Síria para Roma estou lutando com feras, por terra e por mar, de noite e de dia. Acorrentado a dez leopardos, os milicianos da minha escolta militar... Espero poder enfrentar com alegria as feras que estão preparando para mim, e peço a Deus que eu possa encontrá-las prontas a lançarem-se sobre mim. Se não quiserem, eu mesmo as instigarei para que me devorem num instante (...). Vocês tenham compaixão de mim. Eu sei muito bem o que é útil para mim. Somente agora começo a ser discípulo. Não me deixo impressionar por coisa alguma, visível ou invisível, para poder unir-me a Cristo Jesus. Fogo, cruzes, feras, lacerações, desconjuntura dos ossos, o corpo reduzido a pedaços, as piores torturas caiam sobre mim: importante é unir-me a Jesus Cristo. Que proveito poderão dar-me os prazeres do mundo ou os reinos da terra? Nenhum. Para mim é melhor morrer por Jesus Cristo, do que reinar sobre toda a terra. A minha vida é busca contínua daquele que morreu por nós: quero aquele que por nós ressuscitou. Vejam, meu nascimento se aproxima. Nada melhor podeis fazer por mim, do que deixar que eu seja sacrificado a Deus... Rogo-vos, não tenhais para comigo uma benevolência inoportuna! Deixem-me ser pasto das feras, pelas quais chegarei a Deus. Sou o trigo de Deus, moído pelos dentes das feras para tornar-me o pão duro de Cristo... Quando o mundo não puder mais ver o meu corpo, serei verdadeiramente discípulo de Cristo." (Carta aos Romanos).

São Policarpo (+156):

Diante do martírio no anfiteatro de Esmirna "Eu te bendigo [Senhor] por me terdes julgado digno deste dia e dessa hora, digno de ser contado no número dos vossos mártires... guardastes vossa promessa, Deus da felicidade e da verdade. Por essa graça e por todas as coisas, eu vos louvo, vos bendigo e vos glorifico pelo eterno e celeste sacerdote, Jesus Cristo, vosso Filho bem amado. Por Ele, que está conosco e com o Espírito, vos seja dada a glória, agora e por todos os séculos. Amém." (Martírio 14,2-3)

Martírio dos primeiros cristãos de Roma

Na primeira perseguição contra a Igreja, desencadeada pelo imperador Nero, depois do incêndio da cidade de Roma no ano 64, muitos cristãos foram martirizados com atrozes tormentos. Este fato é testemunhado pelo escritor pagão Tácito (annales 15,44) e por São Clemente, bispo de Roma, papa, na sua Carta ao Coríntios (cap.5-6), do ano 96: "Deixemos de lado os exemplos dos antigos e falemos dos nossos atletas mais recentes. Apresentemos os generosos de nosso tempo. Vítimas do fanatismo e da inveja, sofreram perseguição e lutaram até à morte. Tenhamos diante dos olhos os bons apóstolos. Por causa de um fanatismo iníquo, Pedro teve de suportar duros tormentos, não uma ou duas vezes, mas muitas; e depois de sofrer o martírio, passou para o lugar que merecia na glória. Por invejas e rivalidades, Paulo obteve o prêmio da paciência: sete vezes foi lançado na prisão, foi exilado e apedrejado, tornou-se pregoeiro da Palavra no Oriente e no Ocidente, alcançando assim uma notável reputação por causa da sua fé. Depois de ensinar ao mundo inteiro o caminho da justiça e de chegar até os confins do ocidente, sofreu o martírio que lhe infligiram as autoridades. Partiu, pois, deste mundo para o lugar santo, deixando-nos um perfeito exemplo de paciência.

A estes homens, mestres de vida santa, juntou-se uma grande multidão de eleitos que, vítimas de um ódio iníquo sofreram muitos suplícios e tormentos, tornando-se, desta forma, para nós um magnífico exemplo de fidelidade. Vítimas do mesmo ódio, mulheres foram perseguidas, como Danaides e Dircéia. Suportando graves e terríveis torturas, correram até o fim a difícil corrida da fé e mesmo sendo fracas de corpo, receberam o nobre prêmio da vitória. O fanatismo dos perseguidores separou as esposas dos maridos, alterando o que disse nosso pai Adão: É osso dos meus ossos e carne de minha carne (cf. Gn 2,23). Rivalidades e rixas destruíram grandes cidades e fizeram desaparecer povos numerosos. Escrevemos isto, não apenas para vos recordar os deveres que tendes, mas também para nos alertarmos a nós próprios. Pois nos encontramos na mesma arena e combatemos o mesmo combate. Deixemos as preocupações inúteis e os vãos cuidados, e voltemo-nos para a gloriosa e venerável regra da nossa tradição.

Consideramos o que é belo, o que é bom, o que é agradável ao nosso Criador. Fixemos atentamente o olhar no sangue de Cristo e compreendamos quanto é precioso aos olhos de Deus seu Pai esse sangue que, derramado para nossa salvação, ofereceu ao mundo inteiro a graça da penitência."

Martírio de São Policarpo (+156)

Carta Circular da Igreja de Esmirna

"A Igreja de Deus, estabelecida em Esmirna, à Igreja de Deus estabelecida em Filomela e a todas as comunidades da Igreja santa e universal, onde quer que esteja: a misericórdia, a paz e a caridade de Deus Pai, de Jesus Cristo nosso Senhor, superabundem em vós. Escrevemos-vos, irmãos, a respeito dos mártires e do bem-aventurado Policarpo, cujo martírio foi, por assim dizer, o selo final, que pôs termo à perseguição. Na verdade, quase todos os acontecimentos anteriores se efetuaram para que o Senhor nos mostrasse do céu o martírio narrado no Evangelho. Policarpo esperou tranquilamente ser entregue, como o Senhor, para que aprendêssemos, com seu exemplo, a não ter em mira somente o que nos concerne, mas também os interesses do próximo (Fl 2,4).

Realmente, a caridade verdadeira e firme consiste em não desejar apenas a própria salvação, mas a dos irmãos. Felizes, pois, e generosos todos estes martírios que se deram conforme a vontade de Deus. Pois é dever da nossa piedade tudo atribuir ao poder de Deus. Deveras, quem não admiraria a generosidade desses mártires, a sua paciência, e amor ao Mestre? Dilacerados pelos açoites a ponto de se tornar visível a estrutura íntima da carne, das veias e das artérias, suportaram tudo com tal firmeza que os circunstantes se compadeciam e choravam. Eles, porém, chegaram a tanto heroísmo, que de nenhum se ouviu grito ou se viu lágrima. Assim, esses generosos mártires de Cristo mostraram que naquela hora em que sofriam não estavam mais no corpo; mais ainda que o próprio Cristo, presente, se entretinha com eles. Confiando unicamente na graça de Cristo, desprezavam os sofrimentos do mundo e, por uma hora de tormento, se resgatavam do castigo eterno. O fogo dos algozes cruéis parecia-lhes frio; querendo fugir do fogo que não se apaga eternamente, fitavam com os olhos do coração os bens reservados aos que perseveram até o fim - "bens que o ouvido não ouviu, os olhos não viram, nem subiram ao coração do homem", (1Cor 2,9), mas que o Senhor lhes mostrava porque já não eram homens e sim anjos. Com a mesma coragem, outros enfrentaram sofrimentos horríveis; lançados às feras, estirados sobre conchas marinhas, torturados por toda sorte de suplícios, que o tirano prolongava para ver se seria possível induzi-los a renegar. Mas apesar de Satanás ter maquinado muitas coisas contra eles, graças a Deus nada alcançou.

Pois Germânico fortaleceu pela heroica resistência, no seu maravilhoso combate com as feras, a pusilanimidade de outros.

Querendo o cônsul persuadi-lo a ter compaixão da sua juventude, Germânico, ao contrário, com pancadas excitou a fera contra si, na ânsia de livrar-se quanto antes da convivência daquela gente iníqua e criminosa. Por isso o povo, espantado diante do heroísmo dos cristãos, dessa raça que ama a Deus e é amada por ele, gritou: "Abaixo os ateus! (Ateus aqui seriam os cristãos). Tragam Policarpo!" Um apenas, chamado Quinto, frígio e recentemente chegado da Frígia, ao ver as feras, acovardou-se. Esse, justamente, tinha desafiado espontaneamente o poder público e incitados outros a fazerem o mesmo. Mas não resistiu às instâncias repetidas do procônsul, fez juramento e ofereceu. Eis por que, irmãos, não louvamos os que se entregam espontaneamente a si mesmo; de mais a mais não é isso que ensina o Evangelho. Policarpo, o mais admirável longe de se perturbar ao receber esta notícia, quis permanecer na cidade. Muitos, entretanto, o persuadiram a retirar-se. E ele se retirou para uma pequena casa de campo, a pouca distância, onde permaneceu, com poucos amigos, nada fazendo senão rezar dia e noite por todos e por todas as igrejas conforme o seu hábito. E quando rezava teve uma visão, três dias antes de ser preso. Viu seu travesseiro pegando fogo.

Voltando-se para os que estavam com ele, disse-lhes: " Devo ser queimado vivo". Como prosseguissem em buscá-lo, transferiu-se Policarpo para outra casa de campo. Logo depois chegaram seus perseguidores, e como não o achassem, prenderam dois jovens escravos, um dos quais, vencido pela tortura, lhes deu a indicação. Já então não lhe era mais possível escapar, uma vez que os traidores eram de sua própria casa. O chefe de polícia, que com razão tinha o nome de Herodes, apressou-se em conduzir Policarpo para o estádio. Assim devia ele obter sua parte na herança do Cristo a quem aderira; ao passo que os traidores, parte no castigo de Judas. Numa Sexta-feira, mais ou menos pela hora da ceia, partiram os perseguidores com um destacamento de cavalaria, armado na forma habitual, "como se procurassem um ladrão" (Mt 26,55). Servia-lhes de guia um escravo. Chegando alta noite foram encontrar Policarpo no primeiro andar da pequena casa. Teria tido tempo de buscar outro refúgio; mas não o quis, dizendo: "Seja feita a vontade de Deus". Informado da presença dos soldados, desceu e conversou com eles, que ficaram pasmos vendo sua idade e sua calma, e perguntaram entre si por que capturar com tanto empenho um ancião como aquele.

Policarpo, entretanto, mandou servir-lhes comida e bebida à vontade e pediu-lhes apenas o prazo de uma hora para rezar livremente. Tendo eles consentido, Policarpo começou de pé a sua oração; a graça divina transbordava nele de tal maneira que pelo espaço de duas horas não pôde interrompê-la. Todos os que ouviram se encheram de espanto e muitos se arrependeram de perseguir a um ancião tão cheio do amor de Deus. Concluindo a oração, na qual se lembrara de todos que havia conhecido, grandes e pequenos, nobres e humildes e da Igreja católica de toda parte do mundo, chegou o momento da partida. Montando um jumento foi conduzido para a cidade, já na manhã do grande Sábado. Vieram a seu encontro Herodes, o chefe de polícia, e Niceto, seu pai, os quais o fizeram sentar-se consigo no carro e tentaram persuadi-lo: "Que mal pode haver em dizer: César é Senhor, oferecer o sacrifício, e dizer as coisas que o seguem, para salvar-se?" A princípio não respondeu, mas como insistissem, disse-lhes Policarpo: "Não teria o que me aconselhais! "Perdida assim, a esperança de seduzi-lo, insultaram-no com palavras ameaçadora e jogaram-no do carro com tanta precipitação que feriu na queda a parte anterior da perna. Policarpo nem sequer voltou-se, mas prosseguiu alegremente o caminho para o estádio, depressa como se nada houvesse sofrido. Aí, reinava tal tumulto que ninguém podia fazer-se ouvir. Quando ele entrou, foi ouvida uma voz do céu, dizendo: "Coragem, Policarpo, seja homem!" Ninguém viu quem falou, mas a voz foi ouvida pelos irmãos presentes.

No momento em que Policarpo chegou e a multidão soube que estava preso, aumentou o barulho. Foi levado à presença do procônsul, que iniciou o interrogatório, perguntando se de fato era Policarpo. Recebida a resposta afirmativa tentou persuadi-lo a renegar a fé: "Respeita a tua velhice". E seguiram-se os argumentos usuais, em tais circunstâncias. "Jura pela sorte de César, renega as tuas ideias e dizer: Morte aos ateus!" Policarpo então, voltando-se para a multidão do estádio, fixando firmemente com um olhar severo aquela ralé criminosa, elevou a mão contra ela e disse, com os olhos voltados para o céu: "Morte aos ateus". Insistiu ainda o procônsul: "Fazer o juramento e eu te libertarei. Insulta ao Cristo". Respondeu Policarpo: "Há oitenta e seis anos que o sirvo e nunca me fez mal algum. Como poderia blasfemar meu Rei e Salvador?" Como de novo insistisse, dizendo: "Jura pela sorte de César", replicou Policarpo: Se esperas, em vão, que vá jurar pela sorte de César, simulando ignorares quem sou, ouve o que te digo com franqueza: sou cristão! Se, por acaso, quiseres aprender a doutrina do cristianismo, concede-me o prazo de um dia e presta atenção!" Disse-lhe o procônsul: "Experimenta persuadir o povo". Respondeu-lhe Policarpo: " Julgo que diante de ti devo explicar-me, pois aprendemos a honrar devidamente os princípios e as autoridades estabelecidas por Deus quando não são nocivas à nossa fé. Quanto àquela gente, porém, não a julgo digna de ouvir a minha justificação". Nem com isso desistiu o procônsul: "Tenho feras", disse, "às quais te lançarei, se não te converteres".

"Faze-as vir", respondeu Policarpo; "impossível para nós uma conversão do melhor ao pior; o bem é poder passar dos males à justiça". De novo, o procônsul: "Se não te convertes, se desprezas as feras, eu te farei consumir pelo fogo". Policarpo: "Ameaças com o fogo que arde um momento e logo se apaga. Não conheces o fogo do juízo que há-de vir e da pena eterna onde serão queimados os inimigos de Deus. Mas, que esperas ainda? Dá a sentença que te apraz!" Proferindo estas e outras palavras, transbordaram nele a generosidade e a alegria e no seu rosto resplandeceu a graça. Não somente o interrogatório não o perturbou, mas foi o procônsul quem perdeu a calma. Este mandou então o arauto proclamar por três vezes no estádio: "Policarpo acaba de confessar-se cristão". Mal tinha anunciado, a multidão de gentios e judeus de Esmirna prorrompeu em gritos furiosos e desenfreados: "Eis o mestre da Ásia, o pai dos cristãos, o blasfemador dos nossos deuses, o que induz tantos outros a não mais honrá-los com sacrifício e orações". E assim gritando, exigiram do asiarca Filipe que lançasse um leão sobre Policarpo. Ele recusou-se, observando que isso era impossível, pois os combates de feras haviam sido proibidos. Ocorreu imediatamente outra idéia à multidão gritando, a uma só voz: "Que Policarpo seja queimado vivo!" Com efeito, era preciso que se cumprisse a visão do travesseiro. Tinha visto em chamas, quando estava em oração e voltando-se para os fiéis que o rodeavam dissera em tom profético: "Devo ser queimado vivo". E isso foi feito mais rapidamente do que falado. O povo saiu à busca de lenha nos armazéns e nos banhos, e, como sempre nestas ocasiões, os judeus eram os mais ardorosos. Armada a fogueira, Policarpo despiu as suas vestes, desatou o cinto, tentou desamarrar as sandálias, o que já não fazia, pois os fiéis sempre se apressavam em ajudá-lo, no desejo de tocar-lhe o corpo, no qual muito antes do martírio já brilhava o esplender da santidade de sua vida.

Rapidamente cercaram-no com as coisas trazidas para o fogo. Quando os algozes quiseram amarrá-lo, disse-lhes: "Deixa-me livre. Quem me dá forças para suportar o fogo, dar-me-á igualmente a de ficar nele imóvel sem necessitar deste vosso cuidado". Não o fixaram, amarram-lhe apenas as mãos. Policarpo, de mãos ligadas às costas, cordeiro de escolha tomado de um grande rebanho para o sacrifício, holocausto agradável preparado ao Senhor, olhando o céu disse: "Senhor, Deus onipotente, Pai de Jesus Cristo, teu Filho amado e bendito, pelo qual te conhecemos: Deus de toda a família dos justos que vive na tua presença - eu te bendigo por me haveres julgado digno deste dia e desta hora, digno de participar no número dos mártires, do cálice do teu Cristo para a ressurreição da vida eterna do corpo e da alma, na incorruptibilidade do Espírito Santo! Recebe-me, hoje, com eles, na tua presença como sacrifício agradável e perfeito e o que me havias preparado e revelado realiza-o agora, Deus da verdade.

Por isto e por tudo eu te louvo, te bendigo, te glorifico por teu Filho, Jesus Cristo, nosso eterno Sumo-sacerdote no céu. Por ele, com ele e o Espírito Santo, glória seja dada a ti, agora e nos séculos futuros. Amém". Pronunciado este amém e completa a oração, os algozes atearam o fogo e levantou-se uma grande chama. Nós - a quem foi dado ver - vimos um prodígio (e para anunciá-lo aos outros fomos poupados), o fogo tomou uma forma de cúpula, como a vela de um barco batido pelo vento e envolveu o corpo do mártir por todos os lados. Ele estava no meio, não como carne queimada, mas como um pão que se assa ou como ouro ou para candentes, na fornalha. Sentimos então um odor suave como o do incenso ou de outra essência preciosa. Vendo, afinal que o fogo não conseguia consumir o corpo, os ímpios mandaram o executor transpassá-lo com o punhal. E quando isto foi feito, saiu da ferida tal quantidade de sangue que apagou o fogo. E toda a multidão ficou pasma ao verificar tão grande diferença entre os infiéis e os eleitos. Um destes era certamente Policarpo, o admirável mártir bispo da Igreja católica de Esmirna, que, em nossos dias foi verdadeiramente apóstolo e profeta, pela doutrina, pois toda a palavra saída da sua boca já foi ou será realizada.

Mas o espírito maligno, invejoso, perverso adversário do povo dos justos, conhecendo a vida de Policarpo, imaculada desde o começo, e vendo que agora, depois do seu admirável martírio, recebera a coroa da imortalidade e entrara na posse da recompensa eterna, que ninguém poderia mais disputar ou roubar, fez tudo que pôde para impedir que seu corpo fosse levado por nós, embora muitos desejassem possuir seus santos despojos, Satanás sugeriu a Nicete, pai de Herodes e irmão de Alceu, que fosse ter com o governador para pedir-lhe que não entregasse o corpo. "Seriam capazes", disse Niceto, "de abandonar o crucificado, para adorar a Policarpo"! isso tudo isso instigado e apoiado pelos judeus, que nos espiavam quando queríamos tirar o corpo do fogo. Ignoravam que nunca poderemos abandonar o Cristo que sofreu para a salvação dos que se salvam no mundo inteiro, inocente pelos pecadores. Como havíamos de adorar a outro? Ao Cristo adoramos como Filho de Deus, aos mártires amamos como discípulos e imitadores do Senhor, dignos da nossa veneração pela fidelidade inquebrantável ao seu Rei e Mestre.

Oxalá pudéssemos unir-nos a eles e tornar-nos seus condiscípulos! Vendo o centurião a oposição dos judeus, fez queimar publicamente o corpo, conforme o costume pagão. Deste modo pudemos mais tarde recolher seus restos, mais preciosos do que pedras raras e mais valiosos do que ouro, para depositá-los em lugar conveniente, onde todos, quando possível, nos reunimos com a ajuda do Senhor, para celebrar com alegria e júbilo o dia do seu nascimento pelo martírio, em memória dos que combateram antes de nós, preparando-nos e fortificando-nos para as lutas futuras. Eis a história do bem-aventurado Policarpo. Com os outros cristãos de Filadélfia foi o duodécimo martirizado em Esmirna. Mas dele principalmente se conservou a memória, e até os pagãos falam em toda parte. Não foi somente mestre pela doutrina, foi mártir extraordinário, cujo martírio conforme o Evangelho de Cristo todos desejam imitar.

Triunfou sobre o governador iníquo por sua paciência e conquistou assim a coroa da incorruptibilidade. Por isso participa da alegria dos apóstolos e dos justos, glorifica a Deus, Pai todo-poderoso, e bendiz a nosso Senhor Jesus Cristo, Salvador das nossas almas e guia dos nossos corpos, Pastor da Igreja católica espalhada pela terra. Pedistes uma narração pormenorizada dos acontecimentos. Mas por enquanto fizemos redigir, por nosso irmão Marcião, somente um resumo. Lida esta carta mandai-a aos irmãos que moram mais longe para que também louvem ao Senhor pelas escolhas que faz entre os seus servos. A Deus, que na sua graça e liberalidade pode fazer entrar no seu reino eterno a todos nós por Jesus Cristo, seu Filho unigênito - glória, honra, poder e majestade pelos séculos! Saudai todos os santos. Saudações dos nossos e de Evaristo, que escreve esta carta, e de toda a sua casa.

O santo Policarpo sofreu o martírio no dia dois do mês Xânticos (22 de fevereiro), sétimo dia antes das calendas de Março, num Sábado, à hora oitava (2 horas da tarde). Quem o prendeu foi Herodes, sob o pontificado de Filipe de Trales, sendo procônsul Estácio Quadrado, no reinado eterno de nosso Senhor Jesus Cristo, a quem sejam glória, honra, majestade e o trono de geração em geração. Amém." (Patrologia Grega 5, 1029-1045).

Martírio de São Cipriano (+258) bispo de Cartago Atas Proconsulares

"No dia décimo oitavo das calendas de outubro pela manhã, grande multidão se reuniu no campo de Sexto, conforme a determinação do procônsul Galério Máximo. Este, presidindo no átrio Saucíolo, no mesmo dia ordenou que lhe trouxessem Cipriano. Chegado este, o procônsul interrogou-o: "És tu Táscio Cipriano?" O bispo Cipriano respondeu: "Sou". O procônsul Galério Máximo: "Tu te apresentastes aos homens como papa do sacrílego intento?" Respondeu o bispo Cipriano: "Sim". O procônsul Galério Máximo disse: "Os augustíssimos imperadores te ordenaram que te sujeites às cerimônias". Cipriano respondeu: "Não faço". Galério Máximo disse: "Pensa bem!" O bispo Cipriano respondeu: "Cumpre o que te foi mandado; em causa tão justa, não há que discutir". Galério Máximo deliberou com o seu conselho e, com muita dificuldade, pronunciou a sentença, com estas palavras: "Viveste por muito tempo nesta sacrílega ideia e agregaste muitos homens nesta ímpia conspiração. Tu te fizeste inimigo dos deuses romanos e das sacras religiões, e nem os piedosos e sagrados augustos príncipes Valeriano e Galieno, nem Valeriano, o nobilíssimo César, puderam reconduzi- te à prática de seus ritos religiosos. Por esta razão, por seres acusado de autor e guia de crimes execráveis, tu te tornarás uma advertência para aqueles que agregaste a ti em teu crime: com teu sangue ficará salva a disciplina". Dito isto, leu a sentença: "Apraz que Tarcísio Cipriano seja degolado à espada". O bispo Cipriano respondeu: "Graças a Deus"! Após a sentença, o grupo dos irmãos dizia: "Sejamos também nós degolados com ele". Por isto houve tumulto entre os irmãos e grande multidão o acompanhou. E assim Cipriano foi conduzido ao campo de Sexto. Ali tirou o manto e o capuz, dobrou os joelhos e prostrou-se em oração ao Senhor. Retirou depois a dalmática, entregando-a aos diáconos e ficou de alva de linho e aguardou o carrasco, a quem, quando chegou, mandou que os seus lhe dessem vinte e cinco moedas de ouro. Os irmãos estenderam diante de Cipriano pano de linho e toalha. O bem-aventurado quis vedar os olhos com as próprias mãos. Não conseguindo amarrar as pontas, o presbítero Juliano e o subdiácono Juliano o fizeram. Desde modo morreu o bem-aventurado Cipriano. Seu corpo, por causa da curiosidade dos pagãos, foi colocado ali perto, de onde, à noite, foi retirado e, com círios e tochas, hinos e em grande triunfo, levado ao cemitério de Macróbio Candiano, administrador, existente na via Mapaliense, junto das piscinas. Poucos dias depois, morreu o procônsul Galério Máximo. Mártir santíssimo Cipriano foi morto, no dia décimo oitavo das calendas de outubro, sob Valeriano e Galieno imperadores, reinando, porém, nosso Senhor Jesus Cristo, a quem a honra e a glória pelo século dos séculos. Amém. " (Acta, 3-6: CSEL 3,112-114)

Martírio de São Pedro e São Paulo

Narrado por Eusébio (+340), Bispo de Cesareia

"Estando Nero no poder, realizou práticas ímpias e tomou as armas contra a própria religião do Deus do universo. Descrever de que malvadez foi capaz este homem não é tarefa da presente obra, pois muitos já transmitiram seus feitos em precisos relatos e poderá talvez alguém agradar-se de aprender a grosseira demência desse estranho homem, que, levado por ela e sem a menor reflexão, produziu a morte de inumeráveis pessoas e a tal extremo fez chegar seu ardor homicida que não se deteve ante os entes mais próximos e caros, fazendo perecer sua mãe, seus irmãos, sua esposa e muitíssimos outros familiares, mortos de várias maneiras, como se fossem adversários e inimigos. Mas deve saber-se que ao dito faltava acrescentar ter sido ele o primeiro imperador que se mostrou inimigo da piedade para com Deus. Dele faz menção o latino Tertuliano, quando diz: "Consultai vossas memórias. Nelas encontrareis que Nero foi o primeiro a perseguir esta doutrina sobretudo quando, após ter submetido o oriente, era cruel em Roma para com todos. Nós nos gloriamos de ter alguém como ele por autor de nosso castigo, pois quem o conhece pode entender que Nero nada condenaria que não fosse um grande bem". Ele, portanto, proclamado primeiro inimigo de Deus entre os que mais o foram, levou sua exaltação ao ponto de fazer degolar os Apóstolos. Diz-se efetivamente que, sob seu império, Paulo foi decapitado na mesma Roma, e Pedro foi crucificado. E desta referência dá fé o título de Pedro e Paulo que predominou para os cemitérios daquele lugar até o presente. Não menos o confirma um varão chamado Caio, o qual viveu quando Zeferino era bispo de Roma. Disputando por escrito com Proclo, dirigente de seita catafrígia, diz, acerca dos mesmos lugares em que estão depositados os despojos sagrados dos mencionados apóstolos, o que segue: "Eu, porém posso mostrar-te os troféus dos apóstolos, pois, se fores ao Vaticano ou ao caminho de Óstia, encontrarás os troféus dos que fundaram esta igreja". Que os dois sofreram martírio na mesma ocasião, afirma-o Dionísio, bispo de Corinto, na correspondência travada com os romanos, com os termos seguintes: "Nisto também vós, por meio de semelhante admoestação, conjugastes as plantações de Pedro e Paulo, a dos romanos e a dos coríntios, porque, depois de plantarem ambos em nossa Corinto, ambos nos instruíram e, depois de ensinarem também na Itália, no mesmo lugar, sofreram os dois o martírio na mesma ocasião. Sirva igualmente isto para maior confirmação dos fatos narrados." (LIV. II, c. 25; p.g. 20, 280s História Eclesiástica).

Martírio de Santa Perpétua, Santa Felicidade e dos Mártires de Cartago

Santa Perpétua morreu na arena de Cartago, norte da África, aos 22 anos de idade, no dia 7 de março de 203, com o catequista e mais 6 catecúmenos, na perseguição do imperador Septímio Severo. Ela escreveu na prisão um diário até o dia do martírio (Paixão de Perpétua e Felicidade); era mãe de um filhinho de colo. Tertuliano completou a narração do martírio. Felicidade estava grávida e deu à luz dois dias antes de morrer. "Despontou o dia da vitória dos mártires. Saíram do cárcere e entraram no anfiteatro, como se fossem para o céu, de rosto radiante e sereno; e se algum tinha a fisionomia alterada, era de alegria e não de medo. Perpétua foi a primeira a ser lançada aos ares por uma vaca louca e caiu de costas. Levantou-se imediatamente e, vendo Felicidade caída por terra, deu-lhe a mão e ergueu-a. Ficaram ambas de pé.

Saciada a crueldade do povo, foram reconduzidas à porta chamada Sanavivária. Ali Perpétua foi recebida por um catecúmeno chamado Rústico, que permanecia sempre a seu lado. E como que despertando do sono (até este momento estivera em êxtase do espírito), começou a olhar ao redor e, para o espanto de todos, perguntou: "Quando é que seremos expostas àquela vaca? Ao lhe responderem que já tinha acontecido, não quis acreditar, e só se convenceu quando viu no corpo e nas suas vestes a marca dos ferimentos recebidos. Depois, chamando para junto de si o seu irmão e aquele catecúmeno, disse-lhes: "Permaneçam firmes na fé e amai-vos uns aos outros; não vos escandalizeis com os nossos sofrimentos". Por sua vez Sáturo, em outra porta do anfiteatro, animava o soldado Prudente com estas palavras: "Até este momento, tal como te havia afirmado e predito, não fui ainda ferido por nenhuma fera. Mas agora, crê de todo o coração: vou avançar de novo para alí, e com uma só dentada do leopardo morrerei". E, imediatamente, já no fim do espetáculo, foi lançado a um leopardo; este, com uma só dentada, lhe derramou tanto sangue, que o povo, sem saber o que dizia, dando testemunho do seu segundo batismo, aclamava: "Foste lavado, estás salvo! Foste lavado, estás salvo!" Realmente estava salvo quem deste modo foi lavado. Então Saturo, disse ao soldado Prudente:

"Adeus! Lembra-te da fé e de mim; que estas coisas não te perturbem, mas te confirmem!" Pediu-lhe depois o anel que trazia no dedo e, mergulhando-o na ferida, devolveu-o como uma herança, deixando-lhe como penhor e lembrança do sangue. Em seguida, já esgotado, foi deitado com os outros no lugar de costume para o golpe de misericórdia. O povo, no entanto, exigia em alta voz que fossem levados para o meio do anfiteatro aqueles que iam receber o golpe final; pois queriam ver com os próprios olhos, cúmplices do homicídio, a espada penetrar nos corpos das vítimas. Os mártires levantaram-se espontaneamente e foram para onde o povo queria; depois deram uns aos outros o ósculo santo, para coroarem o martírio com este rito de paz. Todos receberam o golpe da espada, imóveis e em silêncio; especialmente Saturo, que fora o primeiro a subir e o primeiro a entregar a alma. Até o último instante ia confortanto Perpétua. E esta, que desejava ainda experimentar maior dor, exultou ao sentir o golpe em seus ossos, puxando ela própria para a sua garganta a mão indecisa do gladiador inexperiente. Talvez esta mulher de tanto valor, temida pelo espírito do mal, não pudesse ser morta de outra maneira senão querendo ela própria.

Oh mártires cheios de força e ventura! Verdadeiramente fostes chamados e escolhidos para a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo."(Cap. 18.20-21: edit. van Beck, Noviomagi, 1936, pp.42.46-52)

O Martírio de São Fabiano, Papa (236-250)

Da Carta que São Cipriano enviou aos presbíteros e diáconos de Roma ao tomar conhecimento da morte do Papa Fabiano:

"Quando era ainda incerta entre nós a notícia da morte desse homem justo, meu companheiro no episcopado, recebi de vós, caríssimos irmãos, a carta que me enviastes pelo subdiácono Cremêncio; por ela fiquei completamente a par da sua gloriosa morte. Muito me alegrei, porque a integridade do seu governo foi coroado com um fim tão nobre. Por isso, quero congratular-me convosco, por terdes honrado a sua memória com um testemunho tão esplêndido e tão ilustre. Destes-nos a conhecer a lembrança gloriosa que conservais de vosso pastor, que é para nós um exemplo de fé e fortaleza. Realmente, assim como é um precedente pernicioso para os seguidores e queda que os preside, pelo contrário, é útil e salutar o testemunho de um bispo que dá aos irmãos o exemplo de firmeza na fé. Mas, parece que, antes de receber esta carta, a Igreja de Roma dera à Igreja de Cartago testemunho da sua fidelidade na perseguição. A Igreja permanece firme na fé, embora alguns tenham caído, seja porque impressionados com a repercussão suscitada por serem pessoas ilustres, seja porque vencidos pelo medo dos homens. Todavia, nós não os abandonamos, embora se tenham separado de nós. Antes, os encorajamos e aconselhamos a fazerem penitência, para que obtenham o perdão daquele que pode concedê-lo. Pois se perceberem que foram abandonados por nós, talvez se tronem piores. Vede, portanto, irmãos, como deveis proceder também vós: se corrigirdes com exortações aqueles que caíram, e eles forem novamente presos, proclamarão a fé para reparar o erro anterior. Igualmente vos lembramos outros deveres que haveis de levar em conta: se aqueles que caíram nesta tentação começarem a tomar consciência de sua fraqueza, se se arrependerem do que fizeram e desejam voltar à comunhão da Igreja, devem ser ajudados. As viúvas e os indigentes que não podem valer-se a si mesmos, os encarcerados ou os que foram afastados para longe de suas casas, devem ter quem os ajude. Do mesmo modo, os catecúmenos que estão presos não devem se sentir desiludidos na sua esperança de ajuda. Saúdam-vos os irmãos que estão presos, os presbíteros e toda a Igreja de Roma que, com a maior solicitude, vela sobre todos os que invocam o nome do Senhor. E também pedimos que vos lembreis de nós. (Ep - 9,1,8, 2,2,3: CSEL 3,488-489,487-488)

Exortação ao martírio, de Orígenes (184-254)

"Se passamos da morte para a vida (1Jo 3,14), ao passarmos da infidelidade para a fé, não nos admiremos se o mundo nos odeia. Com efeito, quem não tiver passado da morte para a vida, mas permanecer na morte, não pode amar aqueles que abandonaram a tenebrosa morada da morte, para entrar na morada feita de pedras vivas, onde brilha a luz da vida. Jesus deu a sua vida por nós (1Jo 3,16); portanto, também nós devemos dar a vida, não digo por ele, mas por nós, quero dizer, por aqueles que serão construídos, edificados, com o nosso martírio. Chegou o tempo, cristãos, de nos gloriarmos. Eis o que está escrito: E não só isso, pois nos gloriamos também de nossas tribulações, sabendo que a tribulação gera a constância, a constância leva a uma virtude provada, a virtude provada desabrocha em esperança; e a esperança não decepciona. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm 5,3-5). Se, à medida que os sofrimentos de Cristo crescem para nós, cresce também a nossa consolação por Cristo (2 Cor 1,5), acolhamos com entusiasmo os sofrimentos de Cristo; e que eles sejam muitos em nós, se desejamos realmente obter a grande consolação reservada para todos os que choram. Talvez ela não seja igual medida para todos. Pois se assim fosse, não estaria escrito: à medida que os sofrimentos de Cristo crescem em nós, cresce também a nossa consolação. Aqueles que participam dos sofrimentos de Cristo, participarão também da consolação que ele dará em proporção aos sofrimentos suportados por seu amor. É o que nos ensina aquele que afirmava cheio de confiança: Assim como participais dos sofrimentos, participareis também da consolação (cf. 2Cor 1,7). Da mesma forma Deus fala através do Profeta: No momento favorável, eu te ouvi e no dia da Salvação, eu te socorri (cf. Is 49,8; 2 Cor 6,2). Haverá, por acaso, tempo mais favorável do que esta hora, quando por causa do nosso amor a Deus em Cristo somos publicamente levados prisioneiros neste mundo, porém, mais como vencedores do que como vencidos? Na verdade, os mártires de Cristo, unidos a ele, destroçam os principados e as potestades, e com Cristo triunfam sobre eles. Deste modo, tendo participado de seus sofrimentos, também participam dos merecimentos que ele alcançou com a sua coragem heroica. Que outro dia de salvação haverá tão verdadeiro como aquele em que deste modo partireis da terra? Rogo-vos, porém, que não deis a ninguém motivo de escândalo, para que o nosso ministério não seja desacreditado; mas em tudo comportai-vos como ministros de Deus com grande paciência (cf. 2 Cor 6,3-4) dizendo:

E agora Senhor, que mais espero? Só em vós eu coloquei minha esperança! (Sl 38,8) (Nn 41-42: PG 11, 618-619) (Séc. III).


POR PROF. FELIPE AQUINO

Os Papas e Fátima 

Bento XV 

1914-1922

Pio XI-1922-1939 

Pio XII

1939-1958 

João XXIII

1958-1963

Paulo VI

1963-1978 

João Paulo II
1978-2005

Bento XVI
2005--2013

Papa Francisco

2013...

A relação dos Papas com Fátima tem ganho uma visibilidade maior desde as viagens pontifícias realizadas por Paulo VI e, sobretudo, João Paulo II. Mais cedo, contudo, se começara a manifestar o interesse do Bispo de Roma por Fátima e pela sua mensagem.
A 31 de Outubro de 1942, Pio XII - consagrado bispo precisamente no dia 13 de Maio de 1917, dia da primeira aparição -, consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria, em plena II Guerra Mundial. Na sua radiomensagem, falou em português a todos os que subiram "à montanha santa de Fátima", para depositar aos pés da Virgem Padroeira "o tributo filial do vosso amor aprisionado".
"Rainha do Santíssimo Rosário, Refúgio do género humano, nós confiamos, entregamos, consagramos, não só a Santa Igreja, Corpo místico do Vosso Jesus, mas também todo o mundo", referiu.
O mesmo Papa, no dia 13 de Maio de 1946, enviou a Fátima, como seu representante, o Cardeal Masella para coroar a imagem de Nossa Senhora e dirigiu, uma vez mais, a sua mensagem em português aos peregrinos ali reunidos e a todo o mundo.
O Beato João XXIII visitou Fátima no dia 13 de Maio de 1956, quando era ainda Patriarca de Veneza. Recordando, mais tarde, esta visita, dirá: "Ó Senhora da Fátima, agradeço-te mais uma vez teres-me convidado para este festim de misericórdia e de amor".
Paulo VI foi o primeiro Papa a vir pessoalmente a Fátima, como peregrino de Nossa Senhora, a 13 de Maio de 1967. Na homilia proferida durante a celebração eucarística, Paulo VI começou logo por dizer: "Tão grande é o Nosso desejo de honrar a Santíssima Virgem Maria, Mãe de Cristo e, por isso, Mãe de Deus e Mãe nossa, tão grande é a Nossa confiança na sua benevolência para com a santa Igreja e para com a Nossa missão apostólica, tão grande é a Nossa necessidade da sua intercessão junto de Cristo, seu divino Filho, que viemos, peregrino humilde e confinante, a este Santuário bendito, onde se celebra hoje o cinquentenário das aparições de Fátima e onde se comemora o vigésimo quinto aniversário da consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria".Peregrino de Fátima
Entre os portugueses João Paulo II vai ficar na história como o "Papa de Fátima", Santuário que visitou por três ocasiões.
A ideia pode parecer excessiva, mas há bons motivos para este título: a intercessão de Nossa Senhora de Fátima na recuperação de um atentado e a beatificação dos Pastorinhos são momentos notáveis destes 25 anos de Pontificado onde João Paulo II manifestou, por diversas vezes, a sua fé e devoção mariana.
Simbolicamente, a bala que lhe atravessou o abdómen no dia 13 de Maio de 1981 repousa hoje na imagem da Virgem na Cova da Iria. A mesma imagem que, em 2000, o Papa colocou entre os bispos de todo o mundo, consagrando-lhe o terceiro milénio.
A anterior consagração da Rússia ao coração Imaculado de Maria, gesto repleto de simbolismo religioso e político, liga-se umbilicalmente a toda a mensagem de Fátima.
Em Maio de 1982, no aniversário desse primeiro atentado contra a sua vida, Karol Wojtyla chegava a Fátima para "agradecer à Divina Providência neste lugar que a mãe de Deus parece ter escolhido de modo tão particular". Ignorava então que voltaria a correr perigo na noite de dia 13, desta vez pelo ex-sacerdote integrista Juan Khron, mas João Paulo II escapou ileso, podendo agradecer à Virgem a salvação da sua vida.
Voltaria nove anos depois. A 10 Maio de 1991, João Paulo II celebrou missa no Estádio do Restelo. Viajaria depois para os Açores e Madeira e, inevitavelmente, terminaria o itinerário no Santuário de Fátima.
Em Maio de 2000, regressou para oficializar a beatificação dos pastorinhos. Uma decisão assumida contra os serviços burocráticos do Vaticano, que chegaram a agendar a cerimónia para 9 de Abril na Praça de São Pedro.
A revelação da ligação do atentado de 1981 à terceira parte do segredo de Fátima (uma mensagem anunciada por Nossa Senhora aos Pastorinhos em Julho de 1917 e escrita por Lúcia na década de 40) justifica, em boa parte, a razão desta cumplicidade entre o Papa e o Santuário.
João Paulo II sempre se mostrou seguro de que "uma mão maternal" guiou a trajectória da bala naquela tarde de Maio de 1981. Quando a Irmã Lúcia faleceu, no dia 13 de Fevereiro de 2005, o Papa mostrou-se muito emocionado ao lembrar "os encontros que tive com ela e os laços de amizade espiritual que se reforçaram com o passar dos anos".Bento XVI
O actual Papa recusou um convite para visitar o Santuário em 2007, mas enviou como Legado Pontifício para as solenes celebrações de abertura do 90.º aniversário das aparições de Nossa Senhora, a 13 de Maio, o antigo Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Angelo Sodano.
Na carta que enviou ao Cardeal Sodano, o Papa assinala a sua passagem pelo Santuário (13 de Outubro de 1996) e recordou a sua ligação a Fátima, nos tempos de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
"Nós, que já visitámos esse santuário e, como Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, estudámos a mensagem confiada pela Bem-aventurada Virgem Maria aos pastores, desejamos que proponhas novamente aos fiéis o valor da oração do santo rosário, bem como esta mensagem, para que se consigam os favores e graças que a própria Mãe do Redentor prometeu aos devotos do seu Imaculado Coração", aponta.
O actual Papa foi o responsável, ainda como Cardeal Joseph Ratzinger, pelo comentário teológico da terceira parte do segredo, publicado nas "Memórias da Irmã Lúcia"/ Apêndice III.
Bento XVI assinala que, desde a aparição aos pastorinhos, muitos foram os fiéis que acorreram à Cova da Iria para pedir a protecção de Nossa Senhora nas suas dificuldades. "Há noventa anos, a celeste Rainha da Paz (...) apareceu em Fátima a três pastorinhos, cheios de espanto, enquanto guardavam o seu rebanho. Ao seu amparo têm recorrido muitos fiéis que nos vários perigos se valem da sua protecção", relembra.
Octávio Carmo

Recentemente, a 12 e 13 de maio de 2017, esteve em FGátima como peregrino o Papa Francisco onde se recolheu em oração no santuário e onde procedeu à casnonização dos pastorinhos videntes de Fátima, francisco e Jacinta Marto.
C.R.

 Os primeiros escritores cristãos

 Após os escritos do Novo Testamento, houve, ainda no século I e no começo do II, os dos Padres Apostólicos (assim chamados porque estiveram em contato direto com os Apóstolos). Sobrevieram, nos séculos II/III, os Apologetas ou escritores que defenderam a fé cristã contra os pagãos e as primeiras heresias.

Os Padres Apostólicos

Dada a sua antiguidade, são muito estimados. Os seus escritos têm certa semelhança com os do Novo Testamento, a ponto que alguns chegaram a ser considerados canônicos (assim a Didaquê, a epístola de Clemente, a do Pseudo-Barnabé). Não escreveram tratados teológicos, mas geralmente cartas em língua grega, que abordam assuntos de disciplina, recomendam a unidade da Igreja e a autoridade dos Apóstolos. Eis os principais autores:

1. São Clemente de Roma (? 102?) foi, a quanto parece, o terceiro bispo de Roma após São Pedro. Pouco se sabe a respeito de sua vida, que nos foi narrada fantasiosamente por fontes espúrias. Por cerca de 96, escreveu uma carta aos coríntios, exortando-os à concórdia e à submissão aos legítimos pastores. O tom caloroso e firme desse escrito já manifesta a consciência que o bispo de Roma tinha de sua autoridade. Foram atribuídos a Clemente outros escritos, hoje reconhecidos como não autênticos.

2. S. Inácio, bispo de Antioquia (? 107), foi condenado à morte na perseguição de Trajano (98-117). Durante a viagem que, prisioneiro, fez da Síria a Roma, onde devia ser lançado às feras do Coliseu em espetáculo público, Inácio escreveu seis cartas às comunidades de Éfeso, Magnésia, Trales, Filadélfia, Esmirna, Roma respectivamente, e uma ao bispo Policarpo de Esmirna. - Nestes escritos percebe-se o ardente amor de Inácio a Cristo e à Igreja; o autor professa clara doutrina da Encarnação: Jesus é Deus, que se fez homem no seio de Maria Virgem; mostra que no começo do século II já havia o episcopado monárquico, ou seja, o bispo como pastor supremo da sua diocese; chama a igreja de Roma "aquela que preside na caridade".

3. São Policarpo (? 156), bispo de Esmirna, viu e ouviu São João Evangelista. Escreveu uma carta aos filipenses. Famoso é o relato do Martírio de São Policarpo, a mais antiga Ata de martírio que temos.

4. Pápias (? 130 aproximadamente) foi bispo de Hierápolis na Ásia Menor. Redigiu cinco livros intitulados "Explicações dos dizeres do Senhor", que infelizmente se perderam, excetuados poucos fragmentos, muito preciosos porque referem datas e circunstâncias atinentes à redação dos Evangelhos.

5. A Didaquê (Doutrina dos Doze Apóstolos), de autor desconhecido, é um catecismo simples da vida cristã e um ritual, que trata do Batismo, da Eucaristia, da celebração do domingo, do jejum... Pode ter sido redigido ainda no fim do século I.

6. A Epístola do Pseudo-Barnabé foi erroneamente atribuída a este companheiro de São Paulo. O autor quer valorizar o Antigo Testamento como mensagem dirigida aos cristãos e propõe as duas vias - a da luz e a das trevas -, que levam respectivamente à vida e à morte.

7. O Pastor de Hermas deve-se a um personagem que não podemos identificar. Trata da penitência sacramental, que era ministrada com grande rigor e uma só vez para cada cristão; os antigos confiavam à misericórdia de Deus aqueles que, após a dura praxe penitencial da época, recaíssem nos mesmos pecados.

O combate escrito aos cristãos

Nos seus três primeiros séculos, os cristãos tiveram que enfrentar, além das heresias, dois tipos de adversários: os pagãos e os gnósticos.

As acusações dos pagãos

Além dos judeus, os pagãos lançavam acusações contra os cristãos. Estes eram tidos como ateus porque não cultuavam os deuses do Império nem reconheciam César como deus; eram escarnecidos por adorarem uma cabeça de asno (os pagãos apresentavam o Crucificado com cabeça de asno, visto que a Cruz era, para eles, loucura); dizia-se que comiam crianças (pois recebiam sacramentalmente o Corpo e o Sangue do Senhor Jesus) e que em suas assembléias apagavam as luzes para realizar uniões incestuosas após o banquete. As calamidades (enchentes, incêndios, epidemias...) eram atribuídas à impiedade dos cristãos. Os intelectuais pagãos menosprezavam os cristãos porque não compartilhavam das expressões mitológicas da cultura; muitas vezes na própria casa de família abstinham-se das celebrações domésticas (aniversários, casamentos...), pois estas estavam impregnadas de espírito religioso politeísta (havia os dimanes, deuses da família). Em grande parte, os cristãos se recrutavam nas camadas mais humildes da população; por isto eram tidos como ingênuos, vítimas de um ou mais exploradores da sua simploriedade.

Os preconceitos que assim corriam de boca em boca, levavam a crer que os cristãos constituíam um perigo para o Império Romano. - De resto, as acusações levantadas contra eles tinham, às vezes, fundamento nas crenças ou nas práticas de grupos dissidentes do Cristianismo (montanismo, correntes gnósticas...); os pagãos não distinguiam entre a chamada "Grande Igreja" e os conventículos que professavam apenas parte da mensagem cristã.

O Gnoticismo

A gnose é uma corrente sincretista que funde entre si elementos das religiões orientais, da mística grega e da revelação judeo-cristã. Tentou envolver o Cristianismo no processo de fusão, pondo em xeque a pureza da mensagem evangélica nos séculos II/III. Por isto já em 1Tm 6,20 há uma advertência a Timóteo para que evite "as contradições de uma falsa gnose (pseudónymos gnosis)".

Os gnósticos atraiam os homens prometendo-lhes um conhecimento superior ao da simples fé cristã, reservado aos iniciados. Esse conhecimento (gnosis) forneceria a solução cabal dos problemas fundamentais da filosofia (origem do mal, gênese do mundo, redenção e felicidade definitiva do homem).

Os gnósticos eram, antes do mais, dualistas, isto é, admitiam um princípio bom, que seria a Divindade (simbolizada pela Luz) e, em oposição, a matéria (simbolizada pelas trevas), má por si mesma. Da Divindade emanariam os seres (eones) num sistema de (365?) ondas concêntricas, cada vez mais distanciadas do bem e próximas do mal. O homem seria um elemento divino que, em conseqüência de um acontecimento trágico, terá sido condenado a se revestir de matéria (corpo) e viver na terra. O Criador do mundo material seria um eon inferior, que era identificado com o Deus justiceiro do Antigo Testamento.

Para libertar as centelhas de luz ou de bem aprisionadas na matéria e levá-las ao reino da luz, terá sido enviado ao mundo um eon superior, o Logos (Cristo). Este revelou aos homens o Deus Sumo e Verdadeiro, que eles ignoravam; anunciou-lhes que o mundo da luz os espera e lhes transmitiu as maneiras eficazes de vencer e eliminar a matéria.

O Salvador assim entendido tinha, conforme algumas escolas gnósticas, apenas um corpo aparente (docetismo) ou, segundo outras, tinha um corpo real, no qual o Logos desceu e permaneceu desde o Batismo até a Paixão de Jesus.

A salvação só pode ser obtida pelos homens pneumáticos (espirituais) ou gnósticos, nos quais prevalece a luz. A maioria dos homens ou a massa é material (hílica) e será aniquilada como a matéria. Entre os espirituais e os materiais haveria os psíquicos ou os simples crentes católicos, que poderiam chegar a gozar de uma bem-aventurança de segunda ordem.

Os gnósticos admitiam o retorno de todas as coisas às condições correspondentes à sua natureza originária.

Pelo fato de desprezarem a matéria, os gnósticos deveriam praticar severa ascese ou abstinência de prazeres carnais. Facilmente, porém, passavam ao extremo oposto: recusando o Deus do Antigo Testamento, que era também o autor da Lei, rejeitavam normas de conduta moral e caiam em libertinismo desenfreado. Julgavam supérflua a confissão de fé perante as autoridades hostis, porque a verdadeira profissão de fé, o martírio (testemunho em grego) consistia na gnose; quem possui a esta, não está obrigado a sacrifício algum.

O gnosticismo se ramificou em escolas diversas: o oriental, mais rígida, a helênica, mais branda, a de Marcião, mais chegada ao Cristianismo, a dos Ofitas (cultores da serpente), a dos Cainitas, a dos Setianos... Floresceu principalmente entre 130 e 180, contando com chefes de capacidade notável (Basílides, Valentim, Carpócrates, Pródico...). Produziram rica bibliografia (tratados de filosofia, comentários de textos bíblicos, hinos...), de que nos restam poucos fragmentos.

O confronto entre a gnose aparatosa e o Cristianismo nascente foi de enorme perigo para este; a Igreja teve que desenvolver eloqüente e densa apologética representada principalmente por S. Justino, S. Irineu, Tertuliano, Hipólito de Roma... Os bispos se uniram entre si como autênticos guardas do patrimônio da fé; Roma, onde os
principais mestres da gnose queriam implantar-se, soube desenvolver ação particularmente benemérita. Na confusão que entre os cristãos podia estabelecer-se no debate doutrinário, o critério para julgar a veracidade de determinada sentença era a conformidade ou não desta com os ensinamentos da Igreja de Roma; estes eram decisivos, pois a comunidade de Roma estava fundada sobre a pregação e o martírio dos dois principais Apóstolos (Pedro e Paulo): "É com esta Igreja (de Roma), em razão de sua mais poderosa autoridade de fundação, que deve necessariamente concordar toda igreja, isto é, devem concordar os fiéis procedentes de qualquer parte; nela sempre se conservou a Tradição que vem dos Apóstolos" (Contra as Heresias III, 3, 1-3).

Os Apologetas

1. São Justino (? 165 aproximadamente) recebeu o cognome de "filósofo". Desde jovem, passou pelas principais escolas de filosofia de sua época (o Estoicismo, o Aristotelismo, o Pitagorismo, o Platonismo); finalmente conheceu os Profetas do Antigo Testamento e assim chegou a Cristo, cuja mensagem lhe satisfez plenamente; por isto dizia que o Cristianismo é a verdadeira filosofia; revestido do pálio dos filósofos, deixou sua terra natal, a Palestina, e foi pelo mundo até estabelecer sua escola em Roma. Deixou duas Apologias e o "Diálogo com Trifão judeu". Os principais pontos doutrinais aí apresentados são:

A teoria do Verbo seminal. Onde há verdade, esta foi comunicada pelo Verbo de Deus. A filosofia grega contém gérmens de verdade, que o Verbo lhe transmitiu através do Antigo Testamento. Também todo homem possui no seu íntimo um gérmen do Verbo, que o capacita a conhecer a verdade. Após a vinda de Cristo, a plenitude da verdade se acha entre os cristãos.

O paralelo Eva-Maria foi formulado por São Justino pela primeira vez. Eva virgem (antes de se relacionar com Adão), pela desobediência, trouxe a morte ao mundo; Maria Virgem pela sua fé trouxe a Vida-Cristo à humanidade.

2. Tertuliano (? após 220) fez-se cristão em idade adulta, quando já exercia a profissão de advogado. Teve o grande mérito de criar uma terminologia precisa e afinada com as categorias do Direito para exprimir a mensagem cristã. Cheio de fantasia, sátira e eloqüência, tendia ao rigorismo, que o levou a abandonar a Igreja para aderir ao Montanismo (que apregoava a proximidade de nova era, a do Espírito). Deixou 31 obras dedicadas a reafirmar o Cristianismo frente aos adversários.

3. Minúcio Félix é o autor do diálogo Octavius, do século III. Apresenta a troca de idéias entre o cristão Otávio e o pagão Cecílio; refuta as acusações contra os cristãos e traça um quadro atraente da vida destes.

4. A Epístola a Diogneto é de autor anônimo, que se dirige a um pagão de alta categoria para valorizar a ética dos cristãos: "Participam de tudo como cidadãos, mas tudo suportam como estrangeiros. Qualquer terra estranha é pátria para eles; qualquer pátria, terra estranha. Casam-se e procriam, mas nunca lançam fora o que geraram... Na terra vivem, participando da cidadania do céu... Para resumir numa palavra: o que a alma é no corpo, são os cristãos no mundo".

O estudioso muito lucrará se dedicar-se à leitura de tais obras, pois lá encontrará fontes de inestimável riqueza para a fé e a espiritualidade. Recomenda-se, pois: Cirilo Folch Gomes, Antologia dos Santos Padres. Ed. Paulinas. À guisa de introdução, ver: A. Hamman, Os Padres da Igreja. Ed. Paulinas.

PROF. FELIPE AQUINO 15 DE MAIO DE 2017 HISTÓRIA DA IGREJA

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